sábado, dezembro 30, 2006

ANO NOVO III


Praia de Jauá (Litoral norte de Salvador)

Ano Novo III

Aos amigos Letícia Gabian e Fred Neumann

Meia noite. Os desejos aflorados, etc e tal...
Três, dois, um. Uff! Ano novo e eu a bordo.
Demais! As estrelas, o mar e a lua de Jauá.
O que foi, lá se foi... Passou... Nada recordo.

O céu concha azul de uma valva que a noite beija
Dá brilho de todos os tons nos fogos em chamas
Sobre a beira-mar de Jauá quando a lua sombreia
O ano velho se apagando ouriçado de escamas...

A tudo esqueço: Cismas, ilusões e prantos vãos.
Coloco nas águas o meu presente para Iemanjá.
No som dos atabaques, o dono da minha cabeça,
Ogum de Ronda saúda o novo ano em Iorubá!

Atotô! No azul pipocam os fogos de artifícios .
É... O que passou... Já foi. O que teve de ser...
A flor do reveillon desfolhou. Era meu vício...
Ah, como o mundo é fútil no aroma do sachê!

No céu de Jauá, um imenso lírio épico de verão.
Eu tomo todas... O meu mundo, agora, é fictício.
Bebo sim! Na moça das flores compro corações
No delirium tremens dos meus goles de absinto...

De porre, os meus olhos de navegação correm mundo.
Mas o que e a quem lembrar? O que teve de dar, já deu...
O meu orixá joga os búzios. O ano novo é pano de fundo.
É que, com a aurora no poço, o ano velho se escafedeu...

E sob minhas vestes brancas, na vertigem dos desejos,
O meu coração finca os pés no chão da melodia ijexá.
A lua rastafari dança e veste-se nos meus loucos beijos,
Fingindo os orgasmos na luz dos espelhos do ano novo!

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 27, 2006

ANO NOVO Il

Praia de Jauá (Litoral norte de Salvador/Bahia.)
Ano Novo II

Atô, tô
Meu Pai,
Babaluaê!

Minha Iaiá, hoje é só alegria. Da flor do teu silêncio
Coloquei o meu bloco na rua é ano novo na Bahia!
Peço-te, então, uma das tuas máscaras emprestada,
Para compor o meu manto de Sibarita à tua revelia...

Ôie! Acorda cidade, clamai aos deuses libidinosos.
É o ano novo! O sol todo nu se abre obscenamente
E penetra no hímen da praia de Jauá. À noite, a lua
Enciumada me toma aos beijos despudoradamente.

Ai! Mostro a cara, caio na gandaia e no dever do oficio
Meu humano coração é de todas as meninas. Em cena
Fundo tudo num só afago e nos desejos do meu vício
Estou leve, livre e solto entregue às moças obscenas...

Mas, amor, leia as noticias, veja as fotos pelo jornal,
Sob o esplendor da lua as minhas estripulias, não ria!
Sou o Sibarita do amor dúbio. Neste tempo de bacanal
As donas moças são alegrias no teu silêncio da agonia...

Oh, sim! Meia noite. Bebo todas, a lua, debochada e fina
Faz-me o fogo dos pensamentos, atiro-me nas chamas.
Ébrio, rio, deliro, beijo tua boca nos lábios das meninas
De carnes atiçadas em cada barraca na seiva da tua lama.

É que no afrodisíaco da libido a noite em desejo é bendita
Nos orgasmos venais dessas moças cheias de má intenção.
Solidário ao teu silêncio (Ai meu Deus!), sou o teu Sibarita
Enviando-te as noticias nas entrelinhas dessa profanação.

Queria tê-la ao meu lado de roupa branca toda molhada.
Não finjo esse desejo e no ensejo deste meu dia de folia
Em que os meus gozos orvalham nos meandros o ano novo
Da urgia, peço-te então, data vênia pelo carnal da alforria!

O Sibarita

ANO NOVO I

Praia de Jauá (Litoral Norte de Salvador)

Ano Novo I

Ai meu Deus! Com o ano novo saindo do coldre
Já refletindo nos espelhos retrovisores da lua cheia.
Os atabaques tocam na limpeza do espiritual da coisa
E eu salto de pára-quedas do ano velho cheio de teias..

Atô tô! Na minha roupa branca o perfume de alfazemas,
Para minha proteção o guia Ogum de Ronda e meu patuá.
Com o ano velho no poço mil pedidos nas minhas oferendas
Num céu imenso de lírio azul flamejando na praia de Jauá!

Ah... Eu tô que tô! Pés nas nuvens as horas do dia eu as bebo:
Cravinho com as estrelas, com as luas e com os sois afogados
Na brisa do ano novo soprando nos mares dos meus desejos...

Do velho ano eu limpo o pó dos pensamentos encadeados.
Do ano novo que chega abro as velas, navego na claridade
Cortando o gás dos antigos ventos medonhos e semeados...

O Sibarita

sexta-feira, dezembro 22, 2006

FELIZ NATAL...

Foto: Alagados (Maré) Bairro: Jardim Cruzeiro - Salvador/Bahia.
Aos meus amigos de Infância das pontes: Copacabana, Santo Antonio, Vinte de Junho... In memoriam aos que se foram afogados pela maré de março, pela leptospirose, pela coqueluxe...

Feliz Natal...
Sob um céu de Jade,
Nos olhares, quanta alegria
Escondendo a dor, a melancolia...
Chega o natal nas palafitas,
Com estrelas hidráulicas
Sustentando as pontes
Que balançam aulicamente
Nas asas de todos os ventos...
De tamancos rachados
Percorrendo as pontes
Jesus menino sangra
Fugindo da leptospirose!
Crianças correm pelo lixo e tábuas carcomidas
Catando raios de esperança no manto da noite
Que te virá em sudário na flor que deságua
Os desejos de infância batendo como açoite.
Sobre os telhados,
Luas sazonadas
Espiam ao tempo:
Nenhuma árvore,
Nenhum presépio,
Nenhum papai Noel...
Com a aurora no fundo do poço o dia floresce
Na angústia dos sonhos sempre macerados:
Nem ao menos um presente, um brinquedo...
Mais um natal que chega sem enredos!
O natal nos alagados,
Nasce banguelo sobre os caibros.
Pela manhã, o sol chega, disfarça
Lacrimejando se joga das pontes
Submergindo nos penicos
De maré lentamente...
Valei-o menino Jesus!
Comida para baiacus,
Presente para crianças inocentes!
Oh! Jesus menino,
Livrai da tentação
Os vossos pequeninos!

FELIZ NATAL E OLHAIS ÀS VOSSAS CRIANÇAS!
O Sibarita

terça-feira, dezembro 19, 2006

MUMÚRIO À LUA

Murmúrio à lua

Há algo de lúdico
na escuridão e no vazio da noite...
Oh lua, libera um olhar!
O cabalístico obliterando
corta o tempo – insânia –
além das estrelas, gris-obnubiação!
Mirando o destino, súbito suplício:
Afoga - há luzes apagadas.
Chora o vazio, o silêncio – o que fiz?
A escuridão é toda a estrada,
no vagazul, o panicômico,
onde afunda a minha alma!

Oh lua! Onde estás
que não vejo a tua claridade?
Libera o olhar, a estrada agora:
É vasta e nua...

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 13, 2006

ESPELHO

Espelho

Ah... Eu não sei, mas sei desses mares
Navegantes, pelas ondas, sonham luas.
Cavaleira e cavalo de vidas estelares
Desafinam nas sidéreas sombras nuas...

Eu formato nuvens descoradas no céu,
Espalho do espaço anil em descompasso
O meu universo heróico ao sabor do fel
Na imensidão galática dos meus astros...

É que a noite rumina na abóbada, negra e fria.
Saltimbancos murmuram estes versos pecos
Espelhando tua imagem. Vaga em sesmaria,
Galopa nos corcéis alados de todos avessos...

E no avesso dos teus olhos laça-me o coração
Como um rio que chega junto ao mar, ávido,
Não navego, cavalgo pelos desejos da paixão
Onde o teu olhar sempre me vê no passado...

Se é que somos os construtores dessas horas
Com o sol e a lua nos flancos não há inverno
Que turve a primavera de sonhos e memórias
Na auréola da estação que te faz fruto eterno...

Contigo sempre ao meu lado... É sempre assim,
No peito, eu sinto o murmúrio da paixão infinita.
De corpo e alma prisioneiro pleno em teu jardim,
Oh, Baby! És tu, cabelo de trancinhas e sem fitas...

Ah, o teu lamento:
De um terrível vendaval,
Mas sem vento...

O Sibarita

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terça-feira, dezembro 05, 2006

A RAZÃO E A PSIQUÉ

A razão e a psiqué

Há uma esquina no metafísico da minha psiqué
Que foge do oculto e se esconde no teu olhar!
Quem sou? Não me perguntes, não tentes saber
Contenta-te, fita-me e que te bastes imaginar...

Não finjo, há um dilúvio de luz na minha alma
E na paisagem o sibilo de flechas na escuridão
Rompe em tochas o noturno da noite que medra
O azul dos versos no eco do psicofísico da razão...

Meu cérebro é eletrônico no perímetro urbano
Tem largas ruas, becos, caminhos e um delta
Na foz da psique desembocando no rio insano
Da paixão que afoga os desejos na aresta...

Das solidárias sou servo... Colho os lírios da lua
E, olhando das estrelas, na fé, sinos axiomáticos
Badalam na esquina do pensamento a face nua
Do fervor que brota no espaço mental somático...

Mas, trago no peito um gramofone anunciando
Um coração partido ao meio e no zênite, o fogo
Do amor que devasta nuvens alvas reverberando
Na vitrine dos olhares de um anjo vesgo, coxo...

O Sibarita

sexta-feira, dezembro 01, 2006

O CIRCO I

O Circo I

“O que é que o palhaço é? – Ladrão de mulher!”
- Senhoras e Senhores! Hoje, tem marmelada?
- Tem sim senhor! - Boa noite! Agora, nos risos
Da dor, o amor aplaude o palhaço que chora...

Mas, o espetáculo não pára, o palhaço marmelada
No picadeiro faz graça de si e ri do próprio funeral.
Apaixonado, amavio... Declama os versos à amada!

A paixão cambalhota canta o coração no primeiro ato
Preso na suave teia se entrega na vertigem do amor
Em cena, sem armaduras, se contorce nos hiatos...

Sob a lona rota da paixão nos refúgios destruídos,
O coração perna de pau vê do picadeiro o céu mofado.
E, do luar sem brilho, as lágrimas dos desesperados...

No globo da morte o amor faz dos sentimentos alude
Desencanta a paixão do palhaço no sofrer do coração,
Reluzente, mostra os dentes de aço, gargalha, ilude...

Ai amor! O palhaço faz do tédio o picadeiro, na paixão,
Bebe do teu fel no riso da platéia sob as luas agônicas,
Na gargalhada da dor, evoca, o teu nome e sobre nome!

O Sibarita