segunda-feira, dezembro 31, 2007

ANO NOVO III

Ano Novo III

Aos amigos blogueiros

Meia noite. Os desejos aflorados, etc e tal...
Três, dois, um. Uff! Ano novo e eu a bordo.
Demais! As estrelas, o mar e a lua de Jauá.
O que foi lá se foi... Passou... Nada recordo.

O céu concha azul de uma valva que a noite beija
Dá brilho de todos os tons nos fogos em chamas
Sobre a beira-mar de Jauá quando a lua sombreia
O ano velho se apagando ouriçado de escamas...

A tudo esqueço: Cismas, ilusões e prantos vãos.
Coloco nas águas o meu presente para Iemanjá.
No som dos atabaques, o dono da minha cabeça,
Ogum de Ronda, saúda o novo ano em Iorubá!

Atotô! No azul pipocam os fogos de artifícios .
É... O que passou... Já foi. O que teve de ser...
A flor do reveillon desfolhou. Era meu vício...
Ah, como o mundo é fútil no aroma do sachê!

No céu de Jauá um imenso lírio épico de verão.
Eu tomo todas... O meu mundo, agora, é fictício.
Bebo sim! Na moça das flores compro corações
No delirium tremens dos meus goles de absinto...

De porre, os meus olhos de navegação correm mundo.
Mas o que e a quem lembrar? O que teve de dar, já deu...
O meu orixá joga os búzios. O ano novo é pano de fundo.
É que, com a aurora no poço, o ano velho se escafedeu...

E sob minhas vestes brancas, na vertigem dos desejos,
O meu coração finca os pés no chão da melodia ijexá.
A lua rastafari dança e veste-se dos meus loucos beijos
Fingindo os orgasmos na luz dos espelhos do ano novo!

O Sibarita

sábado, dezembro 29, 2007

ANO NOVO II

Ano Novo II

Ai meu Deus! Com o ano novo saindo do coldre
Já refletindo nos espelhos retrovisores da lua cheia.
Os atabaques tocam na limpeza do espiritual da coisa
E eu salto de pára-quedas do ano velho cheio de teias..

Atô tô! Na minha roupa branca o perfume de alfazemas,
Para minha proteção o guia Ogum de Ronda e meu patuá.
Com o ano velho no poço, mil pedidos, nas minhas oferendas
Nesse céu imenso de lírio azul flamejando na praia de Jauá!

Ah... Eu tô que tô! Pés nas nuvens, as horas do dia, eu as bebo:
Cravinho com as estrelas e com as luas, agora, os sois afogados
Na brisa do ano novo brilham nos mares dos meus desejos...

Do velho ano eu limpo o pó dos pensamentos encadeados.
Do ano novo que chega abro as velas e navego na claridade
Cortando o gás dos antigos ventos medonhos e semeados...

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 26, 2007

ANO NOVO I

Ano Novo I

Atô, tô
Meu Pai,
Babaluaê!

Minha Iaiá, agora, é só alegria. Da flor do teu silêncio
Coloquei o meu bloco na rua é ano novo na Bahia!
Peço-te, então, uma das tuas máscaras emprestada
Para compor o meu manto de Sibarita à tua revelia...

Ôie! Acorda cidade, clamai aos deuses libidinosos.
É o ano novo! O sol todo nu se abre obscenamente
E penetra no hímen da praia de Jauá. À noite, a lua
Enciumada me toma aos beijos despudoradamente.

Ai! Mostro a cara, caio na gandaia e no dever do oficio
Meu humano coração é de todas as meninas. Em cena
Fundo tudo num só afago e nos desejos do meu vício
Estou leve, livre e solto entregue às moças obscenas...

Mas, amor, leia as noticias, veja as fotos pelo jornal
Sob o esplendor da lua as minhas estripulias, não ria!
Sou o Sibarita do amor dúbio. Neste tempo de bacanal
As donas moças são alegrias no teu silêncio da agonia...

Oh, sim! Meia noite. Bebo todas, a lua, debochada e fina
Faz-me o fogo dos pensamentos, atiro-me nas chamas.
Ébrio, rio, deliro, beijo tua boca nos lábios das meninas
De carnes atiçadas em cada barraca na seiva da tua cama.

É que no afrodisíaco da libido a noite em desejo é bendita
Nos orgasmos venais dessas moças cheias de má intenção.
Solidário ao teu silêncio (Ai meu Deus!) sou o teu Sibarita
Enviando-te as noticias nas entrelinhas dessa profanação.

Queria tê-la ao meu lado de roupa branca toda molhada.
Não finjo esse desejo e no ensejo deste meu dia de folia
Em que meus gozos orvalham nos meandros o ano novo
Da urgia, peço-te então, data vênia pelo carnal da alforria!

O Sibarita

segunda-feira, dezembro 24, 2007

FELIZ NATAL NAS PONTES

Natal nas pontes

Pássaros de jade sobrevoam a cidade de Belém
Reis Magos anunciam o nascimento dos azuis.
Nos alagados, Menino Jesus, corre pelas pontes
Em verdade, transmudado em pétalas de luz

E, dentro da noite esplende uma luz peregrina,
Nas pontes os olhares de perpétua esperança
Moldura o cenário do céu que jamais termina
Na luz onde os desejos natalinos desalcançam...

Na mesa de Natal o tom mágico dos fifós acesos
Verberam no fogareiro em brasa da ceia natalina.
Gatos escalpelados... Churrasquinhos disputados
Sob lua cinza no finismundo dessa parcela divina.

No balança mais não caí estrelas hidráulicas
Piscam sobre caibros sustentando as pontes
Que balançam ao Deus dará da noite natalina
Em pleno frenesi das asas de todos os ventos...

Pela manhã, o sol chega e se joga das pontes
Submergindo nas poças da maré lentamente...
Valei Menino Jesus! Comida para peixe baiacu,
E nenhum presente para crianças inocentes!

Ó, crianças, correm pelos pontilhões carcomidos
Catando raios de sol e lua para clarear dia e noite
Que te virão em sudários nas dores que deságuam
Todos os desejos do natal batendo como açoites...

O Sibarita

Caros leitores, desejo à todos um FELIZ NATAL cheio de paz, harmonia, compreenção, bondade e perdão. Tomara Deus que a visão dos homens que dominam o mundo possa clarear diminuindo o sofrimento de todos os povos que vivem em condições de miséria e abandono total.

sábado, dezembro 22, 2007

A LUA DE JAUÁ

A Lua de Jauá

É sempre assim...
Na caída do dia
quando o pôr-do-sol
apaga os rastros da tarde
na preamar de Jauá.
O tempo
degela a noite
no celeste infindo
e repleta de luz
flameja a lua
tão clara
tão leve
tão nua
que a redondez sensual
flui toda volúpia do cio,
aflorando, libidos e fantasias
na grade da noite.

É sempre assim...
a lua solta, lasciva e o céu
sacudindo em brilho.

Em êxtase
fervilho!

O Sibarita

segunda-feira, dezembro 17, 2007

RUMORES

Rumores

Que pena! Se dos meus olhos
Envio-te mensagens decifradas.
É que fico na palidez do teu olhar
Largo de rumores e luas afogadas,
À noite a incendiar-te e, entre mim,
Labirintos, gris-notícias cifradas...

Já não sei mais... Absorvo o enigma,
Solerte adubação do olhar ocorrente,
Refletindo o espelho denso/propenso,
Talvez... mendigo, desejos recorrentes
Dos teus olhos tenso-pretensos,
Cauterizando todo sentimento...

Relembras comigo... Amar-te?
Que outros se impregnam da tua seiva corrente,
Enquanto, reservas a mim o aroma distante?
Que outras bocas te dirão? Ah, o quanto sonhaste!
Ocupa-me dizer-te das primaveras mal-abrigadas,
Flores temerosas, fugitivas, dissimuladas...

Mas, o coração flutua na leitura do olhar
Que ama em quem crê todo brilho,
Por quem se despe e por quem padece
De ânsias, de desejos, de suspiros...

E quando a noite bater na minha porta
Incendiada no lume das tuas íris,
A lua nova beijará a tua janela
Embriagada dos meus perfumes!

O Sibarita

quinta-feira, dezembro 13, 2007

ALAGADOS(Palafitas)

Alagados (Palafitas)
Caro leitor, recebi alguns emails solicitando nova postagem desta poesia. Como o Natal está chegando achei por bem fazer agora.
Eu, que nasci e me criei lá dedico aos amigos de infância das pontes Santo Antonio, Copacabana e Almirante Tamandaré, Bairro Vila Rui Barbosa, Salvador/Bahia.
Em memória: Gilson Caruru, Carlinhos Negão, Gilcéia, Vando, Mário Nagô, Valtemir, Luiza, Toínho Magriça...
Os versos,
são memórias e sonhos
da maré como lembrança
nos desejos da infância
vivida nas palafitas...

De pés descalços
correndo sobre as pontes
catando raios de sol
nas asas de um beija-flor!
Meu coração tinha enredos:
Melancolia e fantasias
palpitavam como folias
e desfilavam sem alegorias....

À noite
os momentos eram
infinitos, um fifó aceso
espantando a escuridão,
gatos lânguidos esfomeados,
ratos correndo dos algozes
e tamancos rachados
fugindo da leptospirose...

O tempo a noite
sempre se estendia.
Eu tentava empurrá-lo
com as mãos, pura agonia!
Ele teimava desfilar, entre
os meus dedos lentamente...
Segundos, minutos, horas e dias.
Parava o tempo!

Uma Ave Maria e um Pai Nosso
para amenizar o sofrimento...

Pela fresta,
via-se as últimas gotas
de estrelas trêmulas
circulando sobre
tábuas podres sobrepostas
e esqueletos de caibros
sob a lua que ludibriava
os telhados...

O dia
florescia pela enchente
atiçada pela maré de março.
Em cada barraco, olhos velados
retiravam o que tinha e o que não tinha...
Sufoco! O povo dos alagados
recorria a todos os santos,
sob a luz de um sol minguado...

Correi marezeiros!

Há nas pontes,
dependurados e sombreados:
desejos da vida, sangue em lágrimas,
trapos velhos e penicos furados
rasgando o ventre dos sonhos,
agora, macerados!

Bocas de caranguejos
asas de morcegos
e nenhuma flor como desejo...

A maré cheia
convidava ao mergulho.
Crianças davam caídas,
era o prazer do corpo na água,
o debater de braços e pernas, nadar!
Ingenuidade da flor idade...
Na borda do prazer,
a cilada montava o cenário
entre lixos, galhos e estacas.
O perigo é fatal... Tarde demais!
No azul, um sol de tempestades.
A morte é crua, a felicidade é fugaz...
Na adversidade mais um que se vai!
Erguia-se um silêncio,
há uma alma de desespero,
em fuga, pede a extrema-unção!
A tarde uivava, a dor se curvava,
nenhum padre, nenhuma benção,
mas, à noite te virá em orações!
Naqueles momentos,
a maré cumpria a sua sina,
vestia-se de cinza
e nos desesperos das lágrimas,
uma chuva fina...

Mas, não sei, era paradoxal!
Pratos vazios, tripas em revoluções,
urubus, cachorros e ganhamuns
lutavam por comidas no beira mangue.
Siris magros e mariscos aferventados,
crianças amareladas exangues.
O prato se repartia, mercúrio disputados,
lombrigas faziam greve de fome...
Um novo dia pintava, era a dona esperança!
Ela enganava à todos, saia de fininho e
se jogava das pontes, comida para pratos vazios.
Ai Deus! A fome rugia nos alagados, nua!
Enquanto, a morte, despudoradamente deitada
nos telhados filmava a cena de binóculo
na aba de pratos sonhados...

Sob um céu de jade,
natal chegava com luas estreladas!
Nos olhares quanta alegria
escondendo a dor, a melancolia...
Os barracos eram enfeitados,
no piso de tábuas carcomidas
a areia branca dava um toque mágico,
nos alagados enfim, tinha vida!
Nos jarros barro,
galhos de pitanga e espada de Ogum.
Folhas de arruda presas nas portas,
sal grosso nos telhados e alfazema
para espantar os maus olhados,
gatos pretos ludibriados...
A noite é o olhar e virá em clarões!
Nas janelas: nenhum chinelo, nenhum tamanco...
Papai Noel nunca vem, ele disfarça
e nem ao menos uma bola, uma boneca...
Crianças da maré sonham descalças!

No fundo de nós,
uns olhos de tormentos
torturados por natais iguais,
a procura de manhãs desiguais!

Valei-nos, Jesus menino!
Lembrai dos vossos pequeninos,
em vossas mãos os nossos destinos!

O Sibarita

segunda-feira, dezembro 10, 2007

GUEIXA

Gueixa

Ah, esse teu lado sensual,
esses olhos de mel, loucos
de amor, tão felinos...
Mágicos! Em tuas órbitas
dançam malícia e sedução.
Lábios de amoras!
O fogo que se acende não se apaga
mata-me em desejos agora.
Quedo-me na tua boca
tão doce e fatal... Serpente!
Quero o lambuzar dos teus batons
não importam os tons e morrer sufocado
entre os gozos e os orgasmos...
Ah teus seios de amêndoas
sensualmente demoníacos,
sorvo-os e me entrego aos sortilégios
dos teus prazeres aflorados!
Sufocação de desejos
em seios enfeitiçados...

Gueixa!
Ah, esse teu corpo selvagem,
um cama-sutra de prazer
em desejos do tipo camicase!
Ai! No tabuleiro de orgias
sou eu o teu louco samurai!

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 05, 2007

RECORRENTE...

Recorrente...

Eu canto a primavera, não sabes...
O que é? Se fitas os meus olhos
Cheios de perguntas recorrentes,
Decifras, talvez... Amiúde, não digo.
Quem sabe? O sopro perene dos ventos,
O luar, as estrelas, etc., desejos antigos...

E sabes? Se toda paixão aflora dos desesperos,
Seria loucura minha ou a fenda do tempo?
Sim, eu sei, o quanto das minhas noites frias.
Não, não me mal digas... Apenas, decifras!
Mas, não intercales o punhal da agonia...

O que se foi... O que e a quem lembrar?
E então? Se marcho para a noite sem ti
Levo comigo, a minha e a tua solidão,
É que o teu lado vive igual a mim...
E no compasso dos meus passos,
Divido o silêncio do teu quarto!

Minha gema rara, as tardes eu sei,
O sol, o mar... A mesma coisa. Puro tédio!
Se o teu céu é distante, o meu sol é presente,
Agora, deste teu olhar decorrente...

Não sabes... Também não digo dos labirintos.
Mas, se centelhas... Beijo-te o ventre
E, levo-te da fronteira do nada ao infinito...

O Sibarita

sábado, dezembro 01, 2007

O TEMPO

O tempo

O tempo!
São dois pólos, são dois olhos
escorre entre mãos, brinca com sentimentos
disfarça, traduz, prende... Não escapo!
Tenho amarras preso ao invisível,
nenhum rosto, pura imaginação...
Por vezes a paixão, por vezes a ilusão,
o belo e o infinito, elos por um fio!
O tempo,
destila pelo prazer da dor
recolhendo os beijos que me destes,
(Ai, teus beijos tem fogo!)
ainda, que fossem em sonhos...
Talvez mistérios, talvez labirintos,
bem sabes!
Quando ao acaso o meu tempo determinares,
do teu tempo beberei o cálice do teu ser...
A alma, minha alma!
Luz da aurora reluzirá mente e corpo,
andará, sobre os desejos dos teus sonhos
e no bel-prazer beijará os teus lábios,
dos meus olhos verás um céu azul anil!

O tempo lampeja! O tempo conspira...
Diz-me então? Ai de mim!
Serei fugitivo de um tempo?
O caminho?
Em um ponto, qualquer ponto...
A travessia!

O Sibarita