terça-feira, julho 01, 2008

O SOLDADO MEDEIROS

Maria Quitéria e D.Pedro I

Caros leitores, a independência da Bahia foi um movimento iniciado em 1821 e terminado em 02 de julho de 1823 com a entrada triunfal do Batalhão dos Periquitos, este, sob comando do Major José Antônio da Silva Castro (futuro avô de Castro Alves) em Salvador, expulsando as tropas Portuguesas comandada pelo General Madeira.

Este movimento foi motivado pelo sentimento federalista emancipador do povo baiano que a apesar de D. Pedro I ter libertado o Brasil, as tropas portuguesas comandada pelo General Madeira sediadas na Bahia não aceitaram, mantendo a Bahia, como colônia portuguesa para a partir daqui destituir D. Pedro I e retornar o Brasil ao poder da corte Portuguesa.

Por isso, 02 de julho, é a data mais importante a Bahia sendo comemorada com cortejo cívico e parada militar. É como se fosse 07 de setembro. E a grande lembrada e homenageada é a Maria Quitéria que mesmo na sua condição de mulher nascida na Cidade de Feira de Santana, mas, morando na Cidade de Cachoeira (onde, começou a batalha) não se furtou em lutar pela independência da sua Bahia e Brasil. Ela desobedecendo às ordens do pai, pegou os documentos do cunhado, cortou os cabelos, vestiu as suas roupas e se alistou no Batalhão dos Periquitos (Comandado pelo futuro avô de castro Alves) como o Soldado Medeiros. Na maioria dos quartéis do Exército Brasileiro tem a sua estátua como símbolo de mulher destemida.

O Governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de cadete, Quitéria envergava original farda azul com saiote por ela própria modelada, além de vistoso capacete com penacho. Assim ataviada, entrou em Salvador, com as forças do 02 de Julho, finda a guerra oferecida às tropas do General Madeira.

Maria Quitéria é a maior heroína brasileira de todos os tempos, sendo, patrona do Exército Brasileiro pela sua bravura, foi recebida pessoalmente no Rio de Janeiro por D. Pedro I para ser condecorada e lá estava toda a corte que a aplaudiu de pé! Humilde pediu ao Imperador para escrever uma carta ao pai dela para que a perdoasse por ter-lo desobedecido ao fugir de casa para se alistar, o Imperador a atendeu imediatamente.

Ela volta a Salvador, onde, é recebida também com honras militares depois vai para reserva do Exército Brasileiro como Oficial Superior, se casa e tem uma filha, morre em 1853 aqui em Salvador aos 61 anos, esquecida, pobre e cega.

Maria Quitéria foi uma mulher à frente do seu tempo, aqui coloco trechos do seu diário pouco conhecido para que os senhores leitores e em especial as leitoras sentirem quem foi essa brava mulher. Sobre os seus feitos deixarei links para quem quiser se aprofundar mais.

Embora, o texto seja um pouco grande espero que todos leiam. VALE A PENA LER!

Ao final deixo a poesia Ode Ao dous de julho de Castro Alves em homenagem aos heróis da independência e em especial ao seu avô o major José Antonio da Silva Castro.

O Sibarita

O DIÁRIO DO SOLDADO MEDEIROS

EU GOSTARIA DE ENTRAR NUA NO RIO...

Eu gostaria de entrar nua no rio, caso estivesse no sítio do meu pai. Mas estou aqui entre homens, somos todos soldados, e o banho no Paraguaçu é forçado. Os portugueses de uma canhoneira bombardearam Cachoeira, então um bando de Periquitos, e entre eles eu e mais cinco ou seis mulheres, entramos no rio, de culote, bota e perneira, dólmen abotoado e baioneta calada.
Queríamos que os agressores desembarcassem para o combate em água rasa da margem. E eles vieram, aos brados. Traziam armas brancas. Alguns as mordiam com os dentes. O encontro deu-se num banco de areia, com água pela cintura. Senti quando a água fria subiu pelas pernas, abraçou as coxas e espalhou-se pelas virilhas. Um toque frio, desagradável. Com o calor da luta, tornou-se morno. E houve um instante em que eu tinha água pelos seios. Senti que os mamilos se enrijeciam sob a túnica. Pensei outra vez no sítio, na rede em que costumava embalar-me. Ali tudo era cálido, os panos convidavam ao sono. Aqui, luta-se pela vida, pela nossa Cachoeira, pela Pátria.
Mas uma voz secreta me sopra que também luto por mim. Estou guerreando, sim, para libertar Maria Quitéria de Jesus Medeiros da tirania paterna, dos sofridos afazeres domésticos, da vida insossa. Ah, eu combato, com água no nível dos peitos, pela libertação da Mulher, pela nova Mulher que haverá de surgir. Minha baioneta rasga o ventre de um português que não quer reconhecer a Independência do Brasil gritada, lá no Sul, pelo Imperador D. Pedro.

AH, EU MORRO DE VERGONHA!

Nunca pensei em pisar num palácio. Quitéria, eu disse a mim mesma, foste criada para andar de pés nus e cabelos ao vento. Quitéria, és uma tabaroa. E no entanto, o que fizeram de mim? Ou melhor, o que a vida fez de mim? Nunca pensei que, ao pegar em armas, ao entrar naquela guerra do Recôncavo, eu acabaria aqui, hoje, nesta recepção palaciana. O Imperador vai entrar.

É ele, é ele. Altaneiro no porte, com aquelas dragonas douradas, o dólmen justo salientando o peito, a barba negra. A gente conhece logo um Imperador pela barba e, também, pelo jeito direto e franco de olhar. Um olhar sem medo, um olhar dentro dos olhos-olhar de quem tudo ousa, de quem sabe que tudo pode. Cavalheiro distinto, garboso e galante, o Imperador. Irritou-se com as exigências de seus compatriotas, reunidos num conselho chamado Cortes, e, a cavalo, soltou o grito.

Foi fácil, aqui no Rio de Janeiro e em São Paulo, porque havia um José Bonifácio, havia outros antigos conspiradores em prol da Independência. Pois D. João VI não havia previsto, não havia aconselhado: “Pedro, algum dia o Brasil se separará de Portugal. Se assim for, põe a coroa sobre tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”.

Entra o Imperador no salão espelhante, cheio de cadeiras e canapés forrados de veludo verde e vermelho. Um luxo. Faianças, cristais, candelabros, pesados reposteiros. Deve ser bom viver aqui nestes luxos, mas prefiro os meus matos, os campos rasos da minha terra. Estou atordoada, com uma zoeira nos ouvidos, mal entendo o que diz em discurso o nosso comandante. Ouço palavras soltas: “heroína”, “mulher valente”, “amor à Pátria nascente”.

“Agüenta, Quitéria”, eu digo aos botões da minha túnica. “Tu não és soldado, mulher?” Abro os olhos, o Imperador está diante de mim, curva-se e sorri. Tenho vontade de passar a mão naquela barba negra que parece seda. Mas a minha palma é calosa, com certeza o Imperador retrocederá assustado — e me prendem. Fecho de novo os olhos. O Imperador me condecora, um sujeito de roupa espalhafatosa lê um papel em que me concedem um soldo para o resto dos meus dias. A Pátria agradece, mas, francamente, eu não pensava em recompensas. Os dedos do Imperador D. Pedro tocam-me a gola, roçam-me o busto. Ah, eu morro de vergonha. Quem diria que eu, Quitéria, donzela criada quase solta pelos campos, com os animais, seria alvo de tantos olhares neste palácio do Campo de São Cristóvão? As damas de saia arrastando no chão só faltam me comer com os olhos. Tenho o rosto em fogo, as orelhas ardem. Será que vou dar chilique em público?”

Imperador me põe a condecoração. Tremo toda. Ele entende o que se passa comigo e sorri.
- Parabéns. A senhora é uma heroína. A Pátria lhe será eterna devedora.
- Cumpri apenas meu dever de brasileira - consigo balbuciar em resposta.
O Imperador curva-se e vai retroceder. Faço-lhe um gesto. O homem poderoso se detém.
- Posso ser-lhe útil em algo mais, senhora?
- Quero pedir-lhe um obséquio, um grande obséquio...
- Queira dizer-m’o.
- Quero que o senhor peça perdão, por mim, ao meu velho pai.
- E por que motivo? - indaga o Imperador.
- Porque fui-lhe desobediente, fugi de casa para entrar na guerra - eu lhe digo, toda ruborizada.
O Imperador sorri de leve.
- Está perdoada. Farei o senhor seu pai sabedor do meu perdão.
O Imperador levanta a mão sobre a minha pessoa, em sinal de bênção.
______
(*) Hélio Pólvora, escritor brasileiro, é autor do recente livro A Guerra dos Foguetões Machos, lançado em Portugal pela Orabem Editora.

Ode Ao dous de julho

Antonio de Castro Alves

Recitada no Teatro de São Paulo)

Era no Dous de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito ...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?! ...

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! ...

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras - corno águias eriçadas —
"Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!...

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...

(S. Paulo, junho de 1868)

Links para saber mais de Maria Quitéria:

19 comentários:

Deusa Odoyá disse...

Meu neguinho.
Nossa uma verdadeira aula de história.
parabéns por esse belo texto e parabéns a essa maravilhosa mulher que gritou pela nossa independência de mulher.
Fique na paz.
Beijos poeta.
Regina Coeli.

Deusa Odoyá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Déa disse...

Oi querido. Bom, começo dizendo que não li tudo não Rss Mas estou aqui para protestar: e cadê Maria Felipa? A Independência da BAhia deve muuuuuuuito a esta nehgra de força!!!!!! Me retei e não li tudo não!!!! Saudades viu?

O Sibarita disse...

KKKK Déa tem razão! Maria Felipa foi outra lutadora incansável contra os portugueses sediados na Ilha de Itaparica, na realidade, não a coloquei aqui porque o texto já está enorme e, Maria Quitéria foi quem mais se destacou, óbvio, sem tirar os méritos de Maria felipa uma negra.

O Sibarita

Ana Beatriz Frusca disse...

Eita, cabra retado!
Deste-me uma aula de História agorinha mesmo!
Viva 2 de julho!
Viva o Rio de Janeiro!
ViVa a Bahia!
Viva o Senhor do Bomfim!
Viva o Sibarita!
Beijos, querido.

Anônimo disse...

Oie lindinho!Eita mulher retada, heim? Pena que essas pessoas especiais, acabam por cair no esquecimento. Lutou pela independência, pela vida, mas só conseguiu um reconhecimento temporário. Nada foi feito por ela. Mas enfim, é a vida e esse é o povo que convivemos.
Essa ode é demais, heim? Forte!
Belo posto, meu amigo lindo! Acho que precisamos mesmo, relembrar essa página, que muitos nem conhecem.
Bom feriado! Beijos

Anônimo disse...

Oie lindinho! Esse comentário acima é meu; estamos com problemas no Windows e estamos usando o Linux, mas estou tentando entender algumas coisas que não entendo ainda.
Beijos

Paula Barros disse...

Oi, querido
Voltarei com calma.
Só dei uma vista.
Abraços

Lucia disse...

Olá, moço:

Sou apaixonada por História e você trouxe aqui um pedação imenso dela para eu ler..rs. Acho que sou meio doidinha, sabe? Porque quando leio
coisas assim fico voando, imaginando quantas Marias Quitérias
estiveram espalhadas pelo nosso país, construindo nossa história.. quantos 2 de julho houveram, para que hoje pudessemos estar aqui. Gosto dessa idéia de continuidade, de cada um fazendo sua parte , de vidas que ultrapassam os limites da sua própria existência e mudam o destino de milhões de pessoas.
Vixi.. danei a falar, também..rs Ainda bem que como ficou grandão o povo não vai ler as besteiras que eu disse..rs
Beijos, seu moço!!!

Bandys disse...

Oi moço, Menino arretado danado,

Nossa fiquei maravilhada com a essa aula de historia e com Maria Quiteria.
A estrela sou eu...ela é uma constelação!!
Eu tambem fico de pé e bato palmas...
Uma pena que uma heroína morre esquecida , pobre e cega.
Parabéns Sibarita por voce nos trazer e fazer tal homenagem.

Salve Maria Quitéria.
Beijos e saudades

Corações e Segredos disse...

O seu mininu retadinhu!!rsrs
Adorei o texto, como sou do Sul não conhecia essa história,
Vou ficar minina sabida com vc escrevendo essas historias,rsrsrsr
Parabéns!
E dale D. Quitéria!rsrsrs
adorei o banho de rio,rssr.
Beijão!

Corações e Segredos disse...

O seu mininu retadinhu!!rsrs
Adorei o texto, como sou do Sul não conhecia essa história,
Vou ficar minina sabida com vc escrevendo essas historias,rsrsrsr
Parabéns!
E dale D. Quitéria!rsrsrs
adorei o banho de rio,rssr.
Beijão!

Nara Senna disse...

Nunca, em nenhum momento, pude pensar em Maria Quitéria como algo sensível e feminino. Das vezes que me disseram sobre ela, em aulas de história geral, seu nome era envolvido por um respeito machista e uma convicção de que aquela mulher era apenas um símbolo concreto e duro de coragem e luta.

Hoje, lendo seu post, consigo captar algumas essências de uma mulher corajosa. E imagino-me nela, com meus medos e meus objetivos.

Salve o dia, querido amigo!

Abraços carinhosos.

Auréola Branca disse...

Sibarita, fiz simpatia não, sôr...
Mas Santo Antonio, São João e São Pedro devem estar juntos, na torcida pela nossa felicidade.

Confio neles.

E o que fazes em pleno feriado? Foi homenagear nossa parada lá na Av. Sete? Quase que visto minha camisa verde e amarela e vou cantar o hino brasileiro.

Abraços, meu caro.

Pena disse...

Amigo Sibarita:
Um belo e fantástico texto sobre a independência da Bahia.
Excelente e exaustiva pesquisa feita com uma garra enorme e um talento profundamente evidente e manifesto.
Fiquei a conhecer a mágica e heroína de um povo simpático como é o seu, A Bahia. Falo da heróica, Maria Quitéria. Símbolo adorado de um povo inteiro que lhe expressa honras amplamente merecidas e justas.
Sublime e admirável.
Poder de expressão extraordinária.
Olhe, Parabéns genial amigo.
Sempre a lê-lo com interesse grandioso.
Abraço forte de estima e os meus sinceros parabéns.
Sempre atento ao que escreve.

O amigo sincero

pena

OBRIGADO pela simpática visita ao meu blog. OBRIGADO sentido.
Excelente festa de comemoração do 2de Julho!

Maria disse...

Olá Sibarita!!!!!

Acompanhei os festejos de 2 de Julho com emoção, sentida.
Ainda não parei desde que cheguei.
Foi o S. João perto de Cachoeira e depois de chegada a Salvador são encontros diários com amigos.
Sua Cumadi vai lhe telefonar amanhã para ver se nos encontramos. É que no fim de semana vou até à Praia do Forte e depois vou embora mesmo.....
.... mas eu quero ver você, Amigo!!!!!

Beijos, beijos

São disse...

Meu caro amigo, grata fico por divulgar mulher tão forte e firme.
Do Brasil, só conheço Fortaleza e praias próximas, infelizmente.
Tudo de bom.

Ana Beatriz Frusca disse...

Bom fim de semana, viu...fio!

bjuxxx.

^^

Kátia disse...

A nossa história é composta por pessoas corajosas e arrebatadas de um Amor pela Terra,como nenhuma outra.Uma pena,que hoje,com a política que se vê e os dirigentes que temos,não podemos comparar nenhum aos nossos heróis de outrora.Maria Quitéria que tão superficialmente é citada nos bancos escolares,teve aqui uma homenagem digna de sua ousadia e anseio por mudança.

Parabéns!A Bahia precisa saber mais sobre nossos heróis,sobre nossa gente.

Obrigada por divulgar tantos pormenores dessa terra mágica.

Bom final de semana!
:)
P.S: E sim,levei a pequena pro dois de julho.Foi o primeiro(de muitos)da vida dela.Hoje já nos balançamos ao som do Fred Dantas lá no Campo Grande e amanhã tem mais.Lol