segunda-feira, março 28, 2011

Alô Caetano, é para você!

Caro Leitor, a pedidos, coloco este texto aqui sobre o racismo da Mayara Petruso contra os nordestinos, em especial, a nós baianos. Originalmente postado no "O tró-ló-ló"(http://otrololo.blogspot.com) após eleição da Dilma, tal foi o sucesso, que foi reproduzido em outros diversos blogs. Espero que todos leia e se divirtam.

Alô meu Santo Amaro da Purificação, alô mano Caetano! Cadê você? Oi, não ouvi uma palavrinha sua sobre a Mayara Petruso, você não se ofendeu, se escafedeu, foi? Ômôdeu! –Como? Você não é mais baiano não, é? Desabaianou de vez? Xiiii... -Agora sou samparioca, mistura de paulista e carioca! É só Av. São João e Leblon, oi que bom! –Oxente Caetano! E o Porto da Barra e o Rio Subaé meu rei, esqueceu? Como é que pode? Valha-me Cristo! Não me responda nada não, viu?

Raapazzz, nem na sua coluna de domingo no Jornal ATARDE não tinha uma linhazinha se quer, nada de nadica sobre o preconceito e o racismo da Mayara Petruso aos nordestinos e em especial a nós baianos? Zorra! Você lenhou foi com o meu domingo, piripicado, nem vontade de comer água eu tive, passei o domingo maus! Acredita? –Nada dessa cica de palavra triste em minha boca... –Sei... Outras palavras? Ah bom...

Mas, a minha nega me deu um alento disse que você iria na segunda fazer o Música Falada do Fernando Guerreiro no Teatro Castro Alves, sabe o que fiz? Saí de Jauá, sol a pino, divino e maravilhoso, só você vendo! Me piquei, peguei um buzu para o Campo Grande tão cheio que parecia lata de sardinha todo mundo apertadinho com muitos farofeiros voltando da praia em água dura no maior samba de arranca rabo, imagine a fulerage dentro do buzu? As mulheres tudinhas com um espanta nigrinha da porra, mais enfeitadas do que jegue na festa do Bonfim, eu nem ai...  

Eu queria mesmo era chegar às bilheteirinhas do Teatro Castro Alves e comprar o meu ingresso, tinha certeza que você ia botar prá “F” ao vivo no meio do seu povo. Oi que sacanagem? Não tinha mais ingressos, fiquei “P” da vida, aproveitando que já estava lá mesmo fui chorar no pé do Cabloco por perder essa oportunidade. Aí me informaram que a WEB TV da Rádio Metrópole ia transmitir ao vivo, foi só alegria... Ô beleza!

Na segunda, dia do Música Falada nem fui para o trampo, não ia arriscar chegar atrasado em casa e perder o seu show. (Você sabe, o engarrafamento na linha verde tá de lenhar e de buzú então...) Cedinho fui ao Terreiro de mãe Teca de Oxossi para ela me rezar de mal olhado, sabe como é, eu dando um azar retado para ouvir ou ler alguma coisa sua sobre a Mayara e cadê? Então, acho que tava de mau olhado, melhor prevenir, é ou não é? Sabe o que o Orixá me disse Caetano? -Meu fio, tire o seu cavalinho da chuva, esse pote ai já secou faz é tempo, se nem o Santo dele ele está zelando, imagine o resto... –Xiiii... e é? Ô meu Deus! O que vou fazer da minha vida sem uma palavrinha sua? Vai, me diz Cae! Sai foi acabrunhado, pedindo pinico e agora? Ainda assim comprei um engradado de cerva, dois garrafas de poca ôio (é com cachaça de Santo Amaro, da boa, né não?) e encomendei o tira-gosto para a noite: agulhinhas fritas, abarás e acarajés, tudo isso para ficar numa nice assistindo ao Música Falada. Até chegar a hora fui tomando umas cotreiazinhas que ninguém é de ferro! E fazendo fé para que o Orixá tivesse se enganado mesmo sabendo que isso jamais ocorrerá, mas...

Alegria, alegria! Chegou a hora e eu colado no PC. As cervas, véus de noiva, convidativas e você Caetano ali do outro lado da tela, voz e violão, pura emoção, em outras palavras, estampa fina mesmo! Atô tô meu pai, Babaluaê! Pego mais uma geladinha e você começa falando, cantando tão impávido que nem um índio.

O tempo passa, você fala de tudo, como surgiu Os Doces Bárbaros, sobre a censura sofrida na sua música “Negror dos Tempos” feita para Betânia e até canta, fala também da ditadura, encanta a platéia com a música “Enquanto seu Lobo não Vem”, que porreta! Fala da Tropicália, revela que foi você quem colocou o nome e fez o diálogo na contra capa do disco, superbacana! E nisso, eu impaciente continuava tomando goro na esperança que a partir dali você organizasse o movimento, metesse bronca contra os chapadões do sul do pais, sobre as nossas cabeças os petardos racistas da Mayara Petruso.

E aí? Você em vez de botar para lenhar na Mayara, bota para “F” em cima de nós baianos lulistas, é assim, é fio? Suas palavras: “Os baianos lulistas devem tomar cuidado com o governante que fala um linguajar popular. Pode estar nascendo um novo fascismo. Eu me orgulho de ser baiano, mas não me engano com o governo Lula”. A platéia alienada veio abaixo aplaudindo. Panis et Circenses! Ou, só tinha Serristas, confesse! Crendeuspai...

Como pode você dizer que com Lula tá nascendo o novo fascismo só porque ele fala a linguagem do povo? Diga-me uma coisa: Se Lula é da esquerda e o fascismo vem da direita como pode ser isso ai? A não ser que o Lula dê a guinada que o Mussolini deu ao sair do socialismo do qual era um grande defensor foi para a direita onde fundou o Partido Fascista apoiado pela burguesia e pela igreja, acho que ficaria melhor com o Serra, é ou não é? Serra não tem a línguagem popular porque do povo quer distância, o perfil e a caminhada dele é igual ao de Mussolini. Ele saiu da esquerda para se alinhar ao pior que existe da direita no Brasil, quem o apoiou? A burguesia e a igreja, como diz o compade Gil, arrepare...

Ô seu Caetano, tá rebocado, piripicado tô que tô com você fio! Oi, votei no Lula, votei na Dilma, falo e escrevo no popular, em baianês e por isso sou fascista? Sou não, viu? Sou sim, um baiano boca de zero nove, madeira de dar em doido, nó cego e num tô comeno esse alface seu não! Oi, saiba que no senado que existe nas escadarias da Igreja de Nossa Senhora da Purificação em Santo Amaro, encontro dos biriteiros e faladores da vida alheia, (se lembra ainda? Aiaiai...) os comentários eram sobre sua declaração, tá todo mundo muito retado com você! Eles, os freqüentadores, só entendem da linguagem popular, embora, o reverencie como o conterrâneo maior não entendem muito do que você escreve na sua coluna domingueira para O Globo e A TARDE, o seu linguajar é muito rebuscado, intelectualizado para eles pobres mortais... E ai?

Colé de mermo mano Cae? Você bateu fofo nessa declaração, um acorde dissonante por entre milhares de mortais falantes populares! Meu bródi, se você chegar a ler este texto cheio de erros, misto de popular e baianês, desculpe, pelo palavreado, viu? É que fiquei, estou numa pindaíba da porra, batendo biela! Meu Senhor do Bonfim é melhor eu ir dançar para meu corpo ficar odara do que me retar com você Caetano e quem é lá eu?

-E eu sei lá quem é você escrevedor de meia tigela? Quero mais que você vá para o inferno!

–Ô, é? Xiii... retou-se, foi fio?

-E outra coisa seu analfabeto, não entendo nada desse tal de baianês, entendo sim de paulistês e  carioquês.

-Tá certo seu Caetano, sou anarfarbeto, mas, o senhor não saber o baianês? Onde fui amarrar meu burrinho minha Nossa Senhora da Purificação!

-Mano, você quer aparecer as minhas custas, eu tenho milhões de discos vendidos, você tem o que?

-Hein? O Que? Eu, eu... Seu Caetano, o senhor jogou pesado, é verdade nem eu mesmo sei o que tenho, aliás... Ô Tonha, o Cae tá dizendo que tem milhões de discos vendidos e pergunta o que tenho e ai? Oxém mulher! Você quer me lenhar de uma vez só, é? Se eu disser isso, sei não viu...

-Pode dizer...

-Digo não seu Caetano, a Tonha é doida varrida, deixa isso para lá!

-Ah bom!

Caetano é assim que você é minha corrente querendo ver a minha caveira? Ta viajando na maionese, é? Ô maluco, saia da meia lua inteira que você é bróder! Se plante, tá ligado? Cê se lembra do baianês ainda? Não se lembra não? -Já disse que não! -Não acredito! Ô meu Deus do céu que vexame retado do Cae! Oi, então, vou colocar abaixo a tradução para você entender tudinho, viu? Tá vendo ai que sou gente boa! Ah, vou lhe dar é um ninja... você não quer caminhar a favor do vento com lenço e documento num sol de quase dezembro, imagine o porto da barra? Sabe de uma? Tô todo enfastiado com sua declaração! Enquanto você toma uma coca-cola a Mayara não pensa em casamento, arregaça com os nordestinos, isso lhe consola?

-Assim tá bom, né meu nego? Como?

-Porquê não, porquê não, porquê não... Ô meu, vá procurar seu bloco, você não passa de um otário!

-Que Cae é esse meu Senhor do Bonfim? Ô mizera! Eu, otário, é? Vixeee... me lenhou todo! Caetano, diga isso de lá eu não! Oi tenho a coleção dos seus discos, vou enviar para você autografar, e ai?

-Nem vou lhe responder, deve ser tudo pirata, se enviar dou queixa crime contra você, me deixe em paz!

-Meu Deus! Cae, esqueça, não está aqui mais quem pediu autógrafo, não sei se são piratas, agora, que comprei no Paraguai, comprei sim! Fuiiiiiiiiiiiiiiiii....
 
 
-E a Mayara Petruso?
-É queixão, continua mangando de nós!
-Ô, é? Meu Deus! E o Caetano...
-Depois de ler esse texto se entender o baianês vai ficar de calundu.
-Xiiii...
-Meu rapá, ele vai jogar as cajás em você!
-Valha-me Cristo! Será?
-Né não, é? Não feche sua cara não, fique ai!
-Ôxe! Sacanagem...
-Ora, se... Você com essa cara de Exu...
-Oxente, lá ele, viu?
-Vou é pegar a pista!
-Vai? Eu também vou me picar, fuiiii... Ô Cae, se rete não, sou seu fã e a Tonha também, viu? Vou mandar

Zé Corró
Escrevedor popular.
Me tenha piedade my bródi Caetano!

Tradução do Baianês

Escafedeu – Sumiu.
Ômôdeu – Oh, meu Deus.
Desabaianar – Deixar os costumes e linguajar baiano.
Oxente – Incrédulo.
Rio Subaé – Rio que corre dentro de Santo Amaro da Purificação.
Raapazzz – Moço.
Lenhou – Acabou.
Piripicado – Acredite.
Comer água – Beber muita bebida alcoólica.
Maus – Ruim.
Minha nega – Minha mulher.
Jauá – Praia que fica no litoral norte de Salvador.
Sol a pino – Sol muito quente.
Me piquei – Saí.
Buzú – Ônibus.
Campo Grande – Praça onde fica o Teatro Castro Alves e Cablocos.
Farofeiro – Pessoas que vão para a praia levando farofa.
Água dura – Bebendo muito bebida alcoólica.
Samba de arranca rabo – Samba num espaço muito pequeno ou dentro do ônibus.
Fulerage – Sacangem.
Botar para “F” – Botar para fuder.
Ficar “P” – Ficar puto, retado.
Chorar no pé do Cabloco – Lamentação.
Música Falada – Show que o cantor responde a várias perguntas e fala da sua trajetória.
Trampo – Trabalho.
De lenhar – De acabar.
Bodega – Barzinho.
Cumadi – Comadre.
Cerva – Cerveja.
Poca ôio – Bebida de infusão feita com cachaça e folhas. Muito forte.
Numa nice – Numa boa.
Tomando umas cotreiazinhas – Bebendo aos pouco bebida alcoólica.
Véu de noiva – Cervejas no ponto para beber.
Atô to meu Pai, Babaluaê – Saudação ao Orixá Ogum.
Geladinha – Cerveja gelada.
Tomando goró – Tomando cachaça.
Meter bronca - Botar para lenhar.
Crendeuspai – Esconjurando.
Arrepare – Veja, observe.
Tá rebocado – Faça fé, acredite.
Tô que to – Estou puto.
Fio – Filho.
Boca de zero nove – Pessoa que não se deixa enrolar, destemida.
Madeira de dar em doido – Pessoa de briga.
Nó cego – Pessoa que joga duro, difícil de ser convencida.
Num tô comeno esse alface – Não acredito em nada do que disse.
Senado ou parlamento de Santo Amaro da Purificação – Nas escadarias da Igreja Nossa Senhora da Purificação todos os dias pessoas se juntam para falar de tudo.
Colé de merrmo – Qual é mesmo.
Bateu fofo – Se enrolou.
Meu bródi – Meu irmão.
Pindaíba da porra – Acabado.
Ô maluco sai da lua que tu é bróder – Deixa de ser lunático meu irmão.
Cê ta ligado que é minha corrente – Você fique certo que é meu amigo.
Né véi – Não é meu velho?
Dar um ninja – Ir embora, sair de fininho.
Se plante, tá ligado? – Fique firme, ta experto?
Tô enfastiado – Estou enjoado.
Queixão – Cara de pau.
Mangando – Rindo, gozando.
Calundu – Cara fechada.
Meu rapá – Meu amigo.
Se retar – Ficar zangado.
Feche sua cara – Não ria.
Ôxe! – Será?
Cara de Exu – Cara feia.
Lá ele – O outro.
Pegar a pista – Ir embora.
Me picar – Ir embora logo.

sábado, março 12, 2011

ENÍGMA

Enigma

Que o amor à forma fecunda os momentos,
A promessa enfeita, rejeita o céu amoroso.
Nesse vago passado e presente vira templo,
Ao coração, a vida cinde o ar seco e poroso...

Nada se explica aos versos polidos no vazio,
Soltos, suspensos em réstia de tempestades
Naquelas enormes nuvens sob um céu frio
Congelando a nossa essência na intensidade...

Assim, corta a razão, a volúpia esvai pelo viés,
E por ti, os versos se perdoam, beijam o chão
Dos teus pés louvando... Tu que me és e não és
Enigma galopado do tédio, paraíso e solidão...

Se é assim que és: nas igrejas e terreiros da Bahia
De joelhos, acendo as velas, oro a Orixás e Santos.
Do amor no teu úbere a candeia é chama tão fria
Aos defuntos desejos dos nossos entretantos...

Para no delírio saborear o mel do rosa da tua boca
E por entre sede, trovoadas e punhais das antíteses
Ser a cobiça dos teus lábios carmim na agonia louca
Do faz de contas das delicias e viajar na maionese...

Na tua penteadeira:
Espelhos temporais
E flores debruadas
Em jarros chineses
Do Paraguai!
Na tua cama:
Nenhum eco
Dos meus uis e aís...

O Sibarita

terça-feira, março 01, 2011

Dendê


Dendê

Desejo, na rotação dos tempos o ano velho abriu o gás,
Porcos espinhos, mutretas e venenos dentro do alforje.
Mas, olhando o horizonte, uma lua nova desce e se faz
No novo ano que chega montado no dragão de São Jorge...

Ressalta o sol formal em afinidades e correspondências.
Do centro do teu ser o amor se eleva no teu coração casto
Em noites abotoadas que tu me procuras e nas evidências
Mirando-se no espelho modelado talvez em um novo astro...

Além do ar, além da terra, além do mar, no íntimo do céu,
No imo das luas análogas cercadas por anjos de presságios
O que fomos ou somos vícios, ao longe, o amor é escarcéu,
É estorvo preso em flagrante delito dos nossos adágios...

Nas peripécias do que há no amor, este poema é lua cheia
Toado em céus azuis na linha do teu mundo sem insônias.
Nem tudo desacontece, desquer se o teu olhar me clareia
Em quaisquer confins... Por ti, eu boto fogo na babilônia.

Vã paixão incendiária no palor do teu coração dissonante
Despido do manto entre o silêncio e as torres dos delírios.
Nos meus dias azuis o cinza sibila em todos os instantes,
E vivencio a solidão de áspera clausura a bordo do vazio...

Sem filosofias e de unhas e dentes o tudo se deságua,
Na fronteira das estações há sede, a fonte seca, esvai
Porque na seca o coração que é bobo, pede, quer água
E sem lirismo, sabe amor? Mancha de dendê não sai...

O Sibarita