segunda-feira, setembro 19, 2011

Mizerê

 
Mizerê

Lá ela deu ninja, se picou, arrepiou sem nenhum céu azul
Tá! Fiz um ebó com o nome dela coloquei na encruzilhada
Imerso no azeite de dendê e mel, agora é com lá ela e Exú
E eu com isso? No deboche, a cabrocha é pura presepada...

O que foi lá se foi. Ômodeu! Assim, um desague retado
Se fica: o bicho pega. Se corre: o bicho come. É, aonde!
Tô fora... Sorvo a noite gota a gota deste céu embuçado
Que arfa sobre os versos, onde, o teu olhar se esconde...

Ô mizerê da zorra! Sem ti, ao meu lado, esse frio danado,
Manda-me alguma coisa que eu sinta o teu calor, no vício,
Uma lua despudorada entregar-te-á meu coração avionado
E no entorno estará o desejo na beirada do teu precipício...

Vixe! Tu embrenhas-te nas entranhas do meu pensamento,
Flagrante delito, de unhas dentes me tranco do teu enceno,
Indagorinha, senti o despenhadeiro do teu olhar sem alento,
É beco sem saída! Estou precisando de um contraveneno...

Ô piriguete, ajoelhou tem que rezar, agora é fazer seu alalaê
Subir a ladeira do Bonfim de joelhos cumprindo os designíos
E com um balaio de pipocas na cabeça chame por Obaluaê
Atotô! Ômopai, será coisa feita, praga ou a força do destino?

Que gastura! Joguei os búzios e o teu nome na boca do sapo
Xiiii... Melhor tomar banho de folhas com quitoco, o resíduo
Faça um despacho na mata virgem, ajoelhada, ore aos astros
Clamando a Omolú, o guardião divino dos espíritos caídos...

Ô Nanã, desata esse nó!

Zé Corró (rimou kkk)

Baianês:

Lá ela deu ninja – Ela foi embora.
Se picou – Se foi.
Arrepiou sem nenhum céu azul – Se aborreceu num dia ruim.
Ebó – Feitiço.
Exú – Orixá dono, guardião das encruzilhadas.
No deboche – Na sacanagem.
Cabrocha – Mulher gostosa
Presepada – Confusão.
Ômodeu – Ô meu Deus.
Retado – Muito zangado.
Aonde – Qual é.
Ô mizerê da zorra – Acabamento retado, briga.
No vício – Vontade muito grande de fazer amor.
Avionado – Muito apaixonado.
Vixe – É assim.
Entranhas – Dentro.
Indagorinha – Foi agora.
Beco sem saída – Sem opção, esparro.
Piriguete – Mulher sem compromisso, mulher galinha.
Alalaê - Espantar para longe uma coisa maldita, má notícia.
Designíos – Pagar os pecados, as promessas.
Balaio de pipocas na cabeça – No dia de Omolú na Bahia quem é do Candomblé sai com um balaio de pipocas pelas ruas dando pipocas, cumprindo o ritual e promessa.
Obaluaê – Orixá, o mais moço, é guerreiro, caçador, lutador. Mais velho é Omolú.
Atotô – Saudação ao Orixá Obaluaê/Omolú.
Ômopai – Ô meu pai.
Será coisa feita – Será feitiço.
Que gastura – Que agonia.
Na boca do sapo – Diz-se quando se faz um ebó (Feitiço) e coloca o nome de alguém.
Banho de folha – Banho de descarrego para se sentir mais leve, tira o mau olhado e inveja.
Quitoco – Folha para banho associada ao Orixá Omolú.
Resíduo – Depois do banho sobram as folhas.
Despacho – Ai no caso é levar as folhas depois do banhoe colocar num mato virgem.
Ore aos astros – Ore aos Orixás.
Omolú – O Orixá mais velho, é o sábio, o feiticeiro, o guardião.
Nanã – Orixá mãe de Obaluaê/Omolú.

sexta-feira, setembro 09, 2011

Reminiscências

Reminiscências

Relíquia, o amor que te rasteja se revela nos teus avessos e fala
Destas ondas crespas, é que o teu seio, não se banha no razoável,
Entretanto, a felicidade inconsciente no escuro do tempo detalha,
No meu peito ressoam versos, joguetes de paixão incontrolável...

Sobre as estações nuviosas em que a aragem decifra toda luz.
Estranho esse tempo, as nossas mãos inertes em vultos tardos
E aqui as velas no mar de Jauá abertas sob as estrelas nos uis,
É noite e oscila em vagas crespas e os ais boiando congelados...

Mas, não sei! As chamas assim são frias e se existem deuses
Valha-me Deus! Os uis e ais descerão ao mar como cardumes
Arrastados pelas correntes das águas colossais dos quereres
O céu azul beija e banha, o amor se acende nos teus lumes...

Entre os suspiros e gemidos vestidos de hálitos quentes de vulcão
Nada se fará de rogado, algo tem que ser sentido... Tu hás de vir!
As estrelas estão pendulando na abóboda e cintilam na erupção,
Rolam, brincam no meu leito libertinamente num amor sem fim...

Trago as chamas para o teu coração ermo em que o amor chora,
Ô moça desligue a razão que as rosas despertam castas e frescas
Sorrindo entre os espinhos e as folhagens na claridade da aurora
Sob o sol dos meus olhos em tua estação ébria de luas tão vesgas...

Do céu roxo descem no azul do tempo retalhos, reminiscências
Escorrendo por entre os escombros no anti-horário dos relógios
E de rastros sonâmbulos tiquetaqueando o rumo da tua ausência
Chumbo, insones versos frescos afogados no perau de teus olhos...

...O meu coração é saudade, mal consegue manter os pés no chão.

O Sibarita