segunda-feira, dezembro 04, 2017

A DONA DOS RAIOS



IansãYansã ou Oyá é a Orixá dos fenômenos climáticos. Ela é a força dos ventos, o poder da natureza, e aquela que surge quando o céu se precipita em água e ventania. É a garra, a independência e a força feminina.

HISTÓRIA DE IANSÃ
Conta o seu mito que um dia ela ajudava Ogum na forja de metais com o objetivo de fabricar ferramentas de trabalho, pois ambos queriam colaborar na construção do mundo. Porém era parte de sua rotina também trabalhar em armas para guerrear, pois os dois eram apaixonados por combate. Iansã era uma ótima parceira de trabalho e a melhor companheira para Ogum por ser uma guerreira livre. Juntos, eles adotaram Logunedé, que havia se perdido de sua mãe Oxum, criando-o juntos por muito tempo.

Certo dia, o Orixá Xangô foi visitar seu irmão Ogum e encomendou algumas armas para a guerra. Assim que o viu, Iansã se apaixonou por ele e abandonou seu antigo companheiro, deixando Logunedé para ser criado apenas por Ogum.

Foi assim que ela se tornou uma das três esposas de Xangô e com ele passou a coordenar as lutas e enviar seus ventos para a limpeza do mundo, e também para anunciar a chegada dos raios e trovões deste Orixá.
Mas não foi somente com Xangô que ela viveu. Iansã percorreu muitos reinos e viveu com outros reis: OxaguianExuOxóssiObaluayê, e o próprio Logunedé (que ela criou como filho). O objetivo dela era conhecer e aprender absolutamente tudo. Com Ogum ela aprendeu o manuseio da espada, com Oxaguian ela aprendeu a utilizar o escudo para protegê-la de ataques inimigos. Exu a ensinou os mistérios do fogo e da magia e Oxóssi a ensinou a caçar, a tirar a pele do búfalo e a se transformar no próprio animal com o auxílio da magia. Ela seduziu Logunedé, filho de Oxóssi e de Oxum e – com ele – aprendeu a pescar.

Oferenda para Iansã
IMPORTANTE: toda oferenda deve ser orientada por alguém responsável do Candomblé ou Umbanda, cada Orixá possui suas peculiaridades que devem ser respeitadas e guiadas por quem os conhecem após anos de prática na religião.

Muitas são as formas de celebração e de oferenda para Iansã. Duas delas, bastante importantes para o Orixá são o acarajé e o abará.

ACARAJÉ
A palavra acarajé ou àkàrà significa bola de fogo. Je significa comer. Àkàrà-je é “comer bola de fogo”. Esse é um que tem uma origem interessante que se relaciona ao mito da relação de Xangô com suas esposas Oxum e Iansã.
O acarajé é feito com feijão-fradinho que deve ser quebrado em um moinho em pedaços grandes e colocado de molho na água até a casca se soltar. Depois, quando já estiver sem casca, essa massa deverá ser passada novamente pelo moinho até se tornar uma massa macia.
Ela deverá ficar com a aparência de uma espuma e deverá ser frita no azeite-de-dendê. O primeiro acarajé de uma leva é sempre oferecido ao Exu.

ABARÁ
O abará possui a mesma massa do acarajé, porém, ele deverá ser cozido e não frito. Deve-se acrescentar à massa cebola ralada, sal e duas colheres de dendê.
É importante envolver a massa em pequenos pedaços de folha de bananeira, cozer em vapor e em banho-maria e deixa-lo para ser servido na própria folha.

DIA DE IANSÃ
O dia de Iansã é celebrado em 4 de dezembro. E o dia da semana em que ela costuma receber as festas em sua homenagem é quarta-feira.

CORES DE IANSÃ
As cores de Iansã são o amarelo e o vermelho. As contas de seu cristal podem ser vistas na cor amarela e o cor-de-rosa também é uma das cores que referenciam a Orixá Iansã.
Características dos Filhos e Filhas de Iansã
Os principais estereótipos dos filhos de Iansã giram em torno da personalidade guerreira, independente e com muita sede de saber que a própria Orixá possui.
Os filhos de Iansã e as filhas de Iansã apresentam seus comportamentos livres, amam a natureza, gostam de viajar e – como bons extrovertidos – gostam de se divertir.
Muitas vezes são audaciosos, autoritários e também poderosos. Eles não aceitam afrontas, e tentam intimidar os seus rivais com o dom da fala presente em seus conhecimentos. Os filhos de Iansã não gostam de ser contrariados, são ciumentos e podem até ser vingativos.

SINCRETISMO DE IANSÃ
O sincretismo de Iansã relaciona-se à Santa Bárbara. A Santa do Catolicismo que ficou conhecida pelos ciúmes de seu pai, Dióscoro. O homem a todo custo tentava resguardar a filha dos pretendentes, que desejavam pedir sua filha em casamento. Para evitar tal acontecimento, o pai trancou a filha em uma torre. Nessa torre haviam duas janelas, e Santa Bárbara pediu a construção de uma terceira para representar a Santíssima Trindade. Um dia, em sua cerimônia de batismo, ela atraiu a ira do pai e fugiu do seu perseguidor.

Foi descoberta e denunciada por um pastor, capturada pelo pai e levada ao tribunal completamente nua. Foi então que o milagre aconteceu. A Santa foi vestida milagrosamente com um suntuoso manto. Porém ela acabou sendo morta pelo pai, que foi fulminado por um raio assim que a matou. Aí encontra-se a principal relação da Santa com o Orixá Oyá ou Iansã, tendo em vista que ela também é invocada nas tempestades.

ORAÇÃO A IANSÃ

“Iansã, mãe e senhora dos ventos e tempestades, das horas aflitas e das almas perdidas.
Dona de todas as direções.

Operosa divindade em prol dos desígnios dos filhos de caídos sem norte e vontade. Piedade para nós, criaturas que vivemos, à beira das tentações, dos abismos, alheios ao amor do pai Olorum.

Mãe, empresta-nos tua decisão e tua coragem, para o encontro do nosso próprio ser. Daí-nos um roteiro de esperança e triunfo. Erradicai a pobreza dos nossos sentimentos, orienta-nos para a verdade, dentro do caminho de devoção ao supremo doador. Encoraja-nos senhora dos raios, para que nossa própria mente, siga uma só direção: amar a Olorum.

Êparrei Iansã!”

SAUDAÇÃO A IANSÃ
Uma saudação muito utilizada para a Orixá Iansã é Eparrey Iansã. Essa saudação significa um “olá” com muita admiração. Pode ser escrita também como Eparrêi.

Mulher de garra e decidida, essa Orixá não tem medo dos desafios e encara qualquer obstáculo obstinada a vencer. Sua essência inspira coragem e fibra, quem busca força encontrará essa energia nos braços de Iansã.

Pesquisa O Sibarita

quinta-feira, outubro 12, 2017

NÓS, OS BABACAS!

Nós, os babacas!

Então, estamos combinados: Quer dizer que o Supremo Tribunal Federal delegou poderes para a Câmara Federal e o Senado darem o aval para que qualquer um dos seus membros possa ser afastado das suas atividades ou não! Mesmo com provas robustas, indefensáveis, como é o caso do Senador Aécio Neves, ele não será afastado, não perderá os seus direitos políticos se os Senadores disserem NÃO ao Supremo!  Com certeza o Senado dirá não! O corrupto do Aécio Neves e todos os outros ficarão impunes, sempre, é claro! E é assim é?

Ai, há uma subversão de valores! Não é o Supremo que dá a última palavra? E como é que agora esse mesmo Supremo pega os seus anéis intocáveis de sabedoria e do alto das suas togas os entregam a Câmara Federal e ao Senado para confirmar ou não, a sua própria decisão? Então, para que Supremo?

DISSOVA-SE!

-Ei, deixe de onda...
-Onda?
-Sim! Para dissolver o Supremo tem que ter aval deles os Senadores e Deputados! Você acha que eles fariam isso?
-Ô, Não?
-Claro que não! Se o Supremo, com os devidos respeitos, entregou os seus anéis ao Congresso Nacional?
-Ah bom... (kkk)

Lastimo que a Excelentíssima Presidente do STF, ao proferir o seu voto de desempate a favor do Congresso Nacional tenha dito:  “O Mandato não é de uma pessoa, mas de um eleitorado”. Sim! E nós com isso? Nós, os eleitores não concordamos não! E fomos ouvidos? Não, né?  Então...

Ora, elegemos esses políticos travestidos de honestos para nos representar com retidão e não para nos ROUBAR ou MENTIR! E porque damos o mandato, eles não podem ser punidos? Não e não! Somos trabalhadores honestos e como tal, se os políticos praticam atos ilícitos tem que ser punidos sim! Agora, delegar a eles próprios se alto punir, como? É um absurdo! O Congresso Nacional é uma casa com grande parte de políticos malfeitores, então, acredita-se que eles vão cassar, se afastar dos seus próprios mandatos?

O ELEITORADO É FAVOR QUE PUNA, QUE CASSE TODOS AQUELES DESONESTOS, OU SEJA, CORRUPTOS! Excelentíssima, desculpe-me, mas, somos a favor da MORALIDADE e não da IMORALIDADE! Como é que o eleitor vai aceitar que o político desonesto não seja punido porque o “MANDATO DELE NOS PERTECENTE” E pertence? Aonde! Se pertencesse, a maioria dos congressistas estariam presos, atrás da grade, sem mandato e com os seus direitos políticos cassados para sempre!

Essas CORJAS, essas ALCATEIAS, essas RATAZANAS, RATOS DE ESGOTOS que ENXOVALHAM, ACHICANALHAM e ROUBAM o povo brasileiro, NÃO PODEM e NÃO DEVEM ter o PODER DE DECISÃO de ALTO SE PUNIR! Isso é o conto da carochinha, está vendo logo que isso não vai ocorrer nunca!

Nós, os pobres mortais, os eleitores, crescemos ouvindo que DECISÃO JUDICIAL se CUMPRE! E agora? Pela decisão da nossa maior corte jurídica, os políticos por serem uma espécie ESPECIAL estão fora dessa máxima! Então, sugerimos, que essa decisão seja estendida para todo povo brasileiro.

É engraçado, cômico e divertido! Toda essa decisão por que os Poderes da República são independentes e harmônicos entre si. Significa em outras palavras que a harmonia deve prevalecer sob o regime das atuações restritas a justa moldura das competências e prerrogativas de cada titular em cada poder constituído.

É uma pena, o Brasil de hoje, perdeu a sua identidade e referência social. E assim vamos, os parlamentares que são os atores principais e o poder judiciário dão exibições vergonhosas de suas sandices deploráveis nas ações de condução dos mandatos e julgados. Tanto faz legislando ou julgando, é tudo a mesma coisa!

Ao Rigor da lei: julgamento e sentença a cumprir só para os pobres viventes... deputados, senadores e presidente da república? Aia aiaia...

Mas, fazer o que? Se o povo anestesiado, concentra suas ações passionais nas áreas mundanas das novelas, do carnaval e até do jornal nacional. Ou seja, nem ai para mais nada! Assistimos passivamente, os gatunos da República, diuturnamente assaltando, roubando e violentando os nossos direitos e o que fazemos?  Nada! Não temos atitude...

Todos sabemos quem são os deputados, senadores, governadores, ministros e o presidente da república. São eles, os larápios, a farinha do mesmo saco. As mentiradas ditas pelo chefe Temer e asseclas tenta enganar o povo como se a economia melhorasse, em um país sério, eles todos já teriam caídos, mas, aqui pergunta-se: cadê os panelaços? 

Vem cá meu Deus, desça de novo, ouça nosso grito de socorro. Pai, escuta a voz desse teu povo!

Você ai caro eleitor, coloque um nariz de palhaço e se olhe no espelho! E ai?

O Sibarita (Também é sociólogo para entender uma sociedade sem regras claras que um dos pais da sociologia Émile Durkheim produziu (num conceito do próprio Durkheim, "em estado de anomia"), sem valores, sem limites leva o ser humano ao desespero. Preocupado com esse desespero, Durkheim se dedicou ao estudo da criminalidade, do suicídio e da religião. A sociedade é definida como o meio social e considerada como aquilo que determina os outros fenômenos. Durkheim insiste, com razão, no fato de que as várias instituições, família, crime, educação, politica, moral, religião, são condicionadas pela organização da sociedade.

É verdade que cada sociedade tem instituições, crenças ou práticas morais que lhe são próprias, e que caracterizam o tipo a que essas sociedades pertencem. Contudo, afirmar que as atitudes morais variam de um tipo social para outro não significa que, conhecendo um tipo social, seja possível determinar a moral que lhe convém. As concepções morais estão em conflito, e algumas delas terminam por se impor. Em outras palavras, é preciso substituir a noção de sociedade, unidade completa e integral, pela noção de grupos sociais, que coexistem dentro de toda sociedade complexa).


QUALQUER SEMELHANÇA COM A NOSSA SOCIEDADE NOS DIAS ATUAIS, É MERA COINCIDÊNCIA! 

quarta-feira, setembro 27, 2017

SÃO COSME E SÃO DAMIÃO



A festa é caseira, mas farta. Todos os anos, no mês de setembro, ela acontece em milhares de lares baianos. Difícil imaginar uma mais sincrética. O “Caruru de São Cosme e São Damião” homenageia os santos gêmeos da igreja católica, os Ibêjis do candomblé e também as crianças. Tudo precisa ser feito no mesmo dia: caruru, xinxim de galinha, vatapá, arroz, milho branco, feijão fradinho, feijão preto, farofa, acarajé, abará, banana-da-terra frita e os roletes de cana. A dimensão da oferenda é medida pela quantidade de quiabos do caruru. Cada um faz como pode: mil, três mil ou até 10 mil quiabos. Quando a comida fica pronta, coloca-se uma pequena porção nas vasilhas de barro aos pés das imagens dos santos, ao lado das velas, balas e água. Depois, serve-se o caruru a sete meninos com, no máximo, 7 anos cada. Eles comem juntos, com as mãos, numa grande gamela de barro ou bacia. Só então é a vez dos convidados participarem da celebração.

A história da devoção a São Cosme e São Damião é antiga e atravessam continentes. Na Bahia, a fé nos santos irmãos ganhou importância principalmente pelo sincretismo com Ibeji, o orixá duplo dos nagôs, que representa os gêmeos. A mistura foi tão completa que ultrapassou a fronteira das religiões e classes: católicos e adeptos do candomblé, ricos e pobres oferecem a mesma comida sacrificial do candomblé às imagens dos santos cristãos. E mais, chega-se a fabricar imagens dos santos que incorporam uma terceira figura – Doú – uma corruptela de “idowu”, o nome dado, numa família nagô, àquele que nasce depois de um par de gêmeos. “Sempre tidos como muito traquinas, os idou deram origem ao ditado nagô: Exu lehin Ibeji – Exu vem depois dos Ibeji”, explica o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, em seu texto “Cosme e Damião no Brasil e na África”.

Quem assume a devoção aos santos e a obrigação de oferecer o caruru todos os anos, geralmente tem um bom motivo. Há 25 anos, no mês de setembro, Joselita Bulhões deu à luz a um dos seus filhos. Muitos moradores de Muritiba já estavam envolvidos com as festividades para os santos, que incluía caruru e foguetes. A criança, que tinha nascido com problemas respiratórios e peso excessivo – seis quilos -, por ter engolido o líquido da placenta, foi imediatamente para o médico. À noite, quando tinha retornado para casa, já à salvo da primeira dificuldade que enfrentou no mundo, o bebê novamente correu risco de vida. O vizinho da casa em frente resolveu soltar foguetes para homenagear os santos. O primeiro deles quebrou uma telha da casa de Joselita e caiu sobre o travesseiro onde o bebê dormia a poucos centímetros do seu rosto. Interpretando esses acontecimentos como provas da intervenção dos santos irmãos, Joselita decidiu oferecer, todos os anos, o caruru em homenagem a eles. Hoje adulto, o seu filho, que também se tornou médico, como Cosme e Damião, faz questão de colaborar para manter a tradição.

Na família do Mestre Curió, da capoeira Angola, a tradição do caruru vem dos antepassados.
“Começou com meu bisavô, passou pra meu avô e depois pra meu pai, que parou porque entrou para a lei de crente”. Além da vontade de prosseguir com a tradição familiar, Mestre Curió decidiu “tomar essa responsabilidade” por uma impressionante coincidência na sua vida: “Sou gêmeo, minha mulher é gêmea, tenho um casal de gêmeos e minha mãe era gêmea”. O caruru, que ele oferece em janeiro – mês do seu aniversário e do seu grupo de capoeira – acontece em três etapas. A primeira é na academia Mestre Pastinha, com três mil quiabos. A segunda, na academia dos Irmãos Gêmeos – para os sete meninos, alunos e convidados. E, depois, em sua própria casa.

 Oferenda, sacrifício e obrigação. 

Os santos são católicos, mas a forma de homenageá-los é africana. Segundo o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, “os iorubás, em suas várias etnias, entendem o sacrifício, o ebó, como a forma essencial da sua comunicação com os orixás”. O caruru – dos Ibeji ou de São Cosme e São Damião “seria, então, mais do que uma oferenda, mas um sacrifício: o que na Bahia, o povo-de-santo chama de ‘obrigação’, que tem um preço e custa dinheiro. É como se desfazer de algo muito valioso”. Joselita Bulhões conta que, nesses 25 anos, pensou algumas vezes que não fosse fazer o caruru, por causa de problemas financeiros, mas sempre conseguiu manter a promessa. “Pra mim, eles são santos vivos: o que você pedir, eles atendem. Uma vez, a situação estava tão difícil, que eu fiz uma prece bem forte. Na mesma hora, meu marido entrou. Tinha conseguido um dinheiro, nós mudamos de casa e eu fiz o caruru”, conta ela, que tem um pequeno oratório para os santos na lavanderia de sua casa. Hoje em dia, oferece anualmente um caruru completo e farto, com mais de dois mil quiabos escolhidos cuidadosamente na Feira de São Joaquim. 

 Nas últimas décadas, tem sido feita frequentemente uma associação entre os santos católicos e os erês, que é um estado infantilizado do transe no candomblé. Por isso, inclui-se a distribuição de balas, doces e refrigerantes nas homenagens aos santos, especialmente no Rio de Janeiro. Mas são poucas as casas de candomblé que fazem obrigações para os Ibeji, geralmente discretas e não necessariamente em setembro. Outro detalhe é que não se tem notícias de filhos-de-santo de Ibeji na Bahia.


I B E J I

Coisas da Bahia 

Todos os dias, antes das 6h, quando acontece a primeira missa na Igreja de São Cosme e São Damião, no bairro da Liberdade, já é possível encontrar pessoas na porta. Pequena, simples, mas visitada durante o ano inteiro, a igreja precisa conviver cotidianamente com o sincretismo que caracteriza a devoção a esses santos. “Só na Bahia existem essas imagens com Doú. Quando as pessoas as trazem, nós explicamos que não podemos benzer e elas trocam as imagens”, explica o padre Ciro. Com muitos fiéis também em outros países, o padre lembra que existem igrejas para São Cosme e São Damião em Roma e no Rio de Janeiro, e que existe uma missa própria para eles na liturgia católica. O dia reservado para os santos é 27 de setembro.

Para os católicos, não há provas de que os santos fossem gêmeos. Conta-se que eles eram irmãos, nascidos na Arábia e filhos de uma viúva. Formados em medicina, na Síria, além das curas realizadas, pregavam o cristianismo. Por estarem convertendo muitas pessoas e também por trabalharem gratuitamente, foram perseguidos e condenados pelo tribunal de Lísias. Sofreram muitas torturas, às quais sobreviveram, até que, em 303, foram decapitados. “Eles são santos muito carismáticos, porque defendiam os humildes, curavam as doenças físicas, sem nunca terem cobrado um centavo. Curavam, também, as doenças da alma”, comenta o padre Ciro, explicando a legião de devotos que os santos conquistaram nos últimos séculos.

 Vitalino dos Santos, 67 anos, que trabalha na Paróquia de São Cosme e São Damião desde 1957, já viu muitas formas de manifestação de fé. “As pessoas trazem velas para acender e imagens para ficar na igreja”. Para ele, seja no caso de São Cosme e São Damião ou qualquer outro santo, o mais importante é o exemplo que deixaram: “Os santos foram pessoas como nós, que enfrentaram muitas dificuldades, mas com força e coragem”.

Comida de sexta-feira 

Seja por motivos religiosos, gustativos ou nutricionais, o caruru é um prato sempre presente na mesa baiana. Já é uma tradição: na sexta-feira, a maioria dos restaurantes da cidade inclui o prato no cardápio. Em setembro, por causa do caruru religioso, os comerciantes aproveitam para subir os preços dos produtos, porque têm a certeza de que as vendas irão aumentar. 

Na Feira de São Joaquim, onde a maioria dos devotos se abastece, o preço do quiabo varia a cada dia de setembro. Segundo o feirante conhecido por Toinho, as vendas já foram bem melhores. “Agora todo mundo é crente, pouca gente dá caruru. Antes, numa rua qualquer mais de 10 casas dava caruru”, afirma ele, sem negar que o aumento das vendas ainda acontece. “Se normalmente eu vendo quatro sacos por mês, em setembro, são oito ou 10 sacos de quiabo”, sintetiza o feirante José Paes.
Sobre os preços, a feirante Maria Lúcia Falcão explica: “Ontem, o cento estava por R$2,00. Hoje está por R$1,50, porque entrou mais quiabo. Depois do dia 10, vai para R$2,50 ou R$3,00”. 

Alguns usam só quiabo, cebola, sal, camarão e azeite de dendê. Outros acrescentam castanha, amendoim, pimentão e tomate. Segundo a nutricionista Joseni França, o caruru é mesmo um prato muito rico: “O quiabo tem muito ferro, mas um tipo de ferro que para ser melhor assimilado precisa ser combinado com fontes de vitamina C, como limão, tomate, pimentão. O dendê tem o betacaroteno, que o nosso corpo transforma em vitamina A, boa para a pele e para os olhos. Já com as castanhas e o amendoim, o prato ganha em proteínas e uma forma saudável de gordura”.

CURIOSIDADES 

Mas por que caruru para sete meninos? Segundo a peculiar tradição afro-luso-baiana, existiam sete irmãos: Cosme, Damião, Doú, Alabá, Crispim, Crispiniano e Talabi, conta Odorico Tavares, em seu livro “Bahia – Imagens da terra e do povo”. - A fertilidade das iorubás, que tem inclusive motivado pesquisas médicas, provavelmente é um dos motivos da importância dos santos e orixás irmãos. A Nigéria, inclusive, é o país com o maior índice de nascimento de gêmeos no mundo inteiro. - No modo africano de homenagear os Ibeji e também outros orixás, o pedido de esmola para a preparação da comida é um ponto fundamental. A mesma tradição já existiu na Bahia, mas foi abandonada pela maioria das pessoas. Entretanto, ainda é possível encontrar quem mantenha esse costume, inclusive fora da Bahia. - Existem várias recomendações para quem faz o caruru, que cada um escolhe obedecer ou adaptar. Quem oferece o caruru deve cortar o primeiro quiabo e, depois de pronto, colocar a comida aos pés dos santos em vasilhas novas e fazer um pedido. A galinha do xinxim não pode ser comprada morta. Durante a festa não deve ser servida bebida alcoólica. E quem encontrar no prato um quiabo inteiro deve oferecer um caruru no próximo ano.

Sugestões de leitura

 LIMA, Vivaldo da Costa. Cosme e Damião: o culto aos santos gêmeos no Brasil e na África. Salvador: Corrupio, 2005. ____. Oferendas e sacrifícios: uma abordagem antropológica. In:

FORMIGLI, Ana Lúcia (Org). Parque Metropolitano de Pirajá: história, natureza e cultura. Salvador: Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu/Editora do Parque, 1998, p. 57-65. 

TAVARES, Odorico. Bahia: imagens da terra e do povo. Rio de Janeiro: Livraria José Olympio Editora, 1951.

 O Sibarita/Agnes Mariano 

segunda-feira, maio 01, 2017

PRIMEIRO, MAIO!

ANIVERSÁRIO

A dona Dulce, aniversariante também deste maio primeiro
É minha mãe, desencarnada há anos. A ela todas as orações!
Envio-te vibrações! Saudade imensa e tão permanente
Nas lágrimas caindo –uma a uma- no mar de Jauá!

Omodeu! Sim, hoje! Maio, primeiro.
O sol inabalável nos flancos, um céu
Com franjinhas de luar, eu o arteiro
No cântico da alma, doce como mel...

Pela candeia da nova idade o luzeiro,
O Kardecismo, o amor, a fé, ô glória!
Os sonhos acendem a vigor por inteiro,
E debruçam-se no prólogo das auroras...

Os vocábulos, limiar das confidências,
Sutileza dos versos em jarro de flores.
Infinito das vontades, clara evidência,
Dorso oculto, santuário dos amores...

O imo não é porta das emoções vagas,
Plenitude é o sentimento que me sacia.
Revelando-se na sede, na fome e afaga
Meus anos, flor do amor, tu és poesia...

Mas, as lágrimas caem neste primeiro,
Uma a uma em Jauá e no firmamento
Brilha a dona Dulce há tantos janeiros,
Minha mãe, sagração de anjo, alento...

 O Sibarita

domingo, fevereiro 26, 2017

CARNAVAL

Carnaval...

Ah, tá rebocado minha Iaiá, já é carnaval na cidade.
Do Campo Grande à Ondina o coro come na Bahia!
Transmuto-me ao profano das moças na liberalidade
Dos ensejos aflorados... Ai meu Deus! É só alegria...

Evoé, no coração daquela menina de abadá do camaleão
Coloco o meu manto de Sibarita, estou livre, leve e solto.
Sobre os teus seios de deusa os meus olhos de navegação,
Vixe mainha! Embarco, caio na gandaia e mostro o rosto.

No fogo do querer, atiro-me nas chamas, entro em cena
Deito e rolo, embolo e me entrego na cobiça desta folia.
Nas fronteiras do infinito: Eu, o luar e a moça obscena
Balançando o chão da Avenida na plenitude das orgias.

Ah, os teus beijos, fogo dos demônios ao som da Chiclete.
Gemidos, tremores e eu sorvendo dos teus lábios o aroma
Dos desejos e, no meio da multidão, vamos pintando o sete
Rolando pelas ruas desta cidade na vertigem de Sodoma!

E vamos nós, circuito Barra/Ondina, é como o diabo gosta.
Ah, eu sinto os gozos jorrarem nas chamas deste carnaval,
Ai! Na delicia o céu que nos cobre brota uma lua em tochas.
Valha-nos Deus! Como o mundo fútil no olor deste bacanal!

O Sibarita

Se ligue, Humaitá Web Rádio
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