Aos amigos de infância
Acordou, escovou
os dentes com carvão,
olhou a mesa, pratos vazios...
Ruminou com os olhos a fome.
Abriu a janela, viu
um sol nascente mirrado,
mas que enche bocas vazias,
dependurado nos caibros...
Rogou aos céus!
Passou pó de pemba no peito,
colocou o patuá no pescoço,
fechou o corpo!
Apanhou o velho gereré,
chamou por Ogum de Ronda
e desceu para a maré.
Foi mariscar...
Papa-fumo,
canivete e rala-coco.
Siris magros,
caranguejos e aratus.
Não acreditou!
Passou as mãos nos olhos,
viu a fonte do seu alimento,
sem ao menos lhe darem
outro meio de sustento
aterrada pelo lixo
da noite para o dia!
Chorou nas mãos
toda a sua agonia...
Enquanto,
ratos, baratas e urubus
faziam a festa, sorriam!
Ainda restava
um penico de maré.
Não pensou duas vezes:
no gereré rasgado
deu algum nó
e pescou magros baiacus.
Tinha ali o seu pôr-do-sol!
Subiu as pontes,
passou no boteco,
cacete-armado de Tonho de Zene,
pediu uma e deu para os santos,
depois, tomou três poca-olho.
Saiu mambembe,
revirando os olhos, zarolho...
Chegou no barraco, sem tirar as tripas,
feliz, jogou na panela os baiacus!
Danação de fome... Aferventados,
encheu o prato, agradecido,
fez o sinal da cruz!
Chamou para dentro o alimento,
enganou ali todo o sofrimento...
Deitou, dormiu por breve momento,
sonhou com uma vida melhor,
com a primeira namorada,
como seriam os filhos ali
sem escolas, sem horizontes,
só lixos, ratos e baratas por todos os cantos
e nenhuma felicidade por encanto.
Bateu escuridão! Acordou,
com o serviço de alto falantes
São Lázaro tocando: “Eu não
tenho onde morar...”
Deu caruara, guenzo
correu para o penico,
o corpo trêmulo, suava!
Ainda tomou um chá de velame
para rebater o veneno dos baiacus
que lhe tinham saciado a fome.
Deu vexame!
Colocaram o corpo moribundo
no carrinho de mão,
correram pelas pontes
Santo Antonio e Copacabana
em busca de socorro.
Chamaram Dona Joana rezadeira.
Ela, com três galhos de guiné
e um dente de alho macho
rezou o corpo de João
pensando que era mal olhado...
Tarde demais!
João, ainda, semi-inconsciente,
Pensou em Gilda sua namorada,
no terreiro de Candomblé, era corujebó,
na roda de capoeira, nos pais,
nos amigos de infância,
no ano novo chegando,
na mesa farta que nunca teve
e em uma vida melhor com esperança.
Deu o último suspiro,
ficou tudo na lembrança...
Nas rodas de capoeiras
o luto dos beribaus,
nos terreiros,
o silêncio dos atabaques!
Nos barracos pendurados
um céu cinza nos olhares...
Deus sabe!
O Sibarita
os dentes com carvão,
olhou a mesa, pratos vazios...
Ruminou com os olhos a fome.
Abriu a janela, viu
um sol nascente mirrado,
mas que enche bocas vazias,
dependurado nos caibros...
Rogou aos céus!
Passou pó de pemba no peito,
colocou o patuá no pescoço,
fechou o corpo!
Apanhou o velho gereré,
chamou por Ogum de Ronda
e desceu para a maré.
Foi mariscar...
Papa-fumo,
canivete e rala-coco.
Siris magros,
caranguejos e aratus.
Não acreditou!
Passou as mãos nos olhos,
viu a fonte do seu alimento,
sem ao menos lhe darem
outro meio de sustento
aterrada pelo lixo
da noite para o dia!
Chorou nas mãos
toda a sua agonia...
Enquanto,
ratos, baratas e urubus
faziam a festa, sorriam!
Ainda restava
um penico de maré.
Não pensou duas vezes:
no gereré rasgado
deu algum nó
e pescou magros baiacus.
Tinha ali o seu pôr-do-sol!
Subiu as pontes,
passou no boteco,
cacete-armado de Tonho de Zene,
pediu uma e deu para os santos,
depois, tomou três poca-olho.
Saiu mambembe,
revirando os olhos, zarolho...
Chegou no barraco, sem tirar as tripas,
feliz, jogou na panela os baiacus!
Danação de fome... Aferventados,
encheu o prato, agradecido,
fez o sinal da cruz!
Chamou para dentro o alimento,
enganou ali todo o sofrimento...
Deitou, dormiu por breve momento,
sonhou com uma vida melhor,
com a primeira namorada,
como seriam os filhos ali
sem escolas, sem horizontes,
só lixos, ratos e baratas por todos os cantos
e nenhuma felicidade por encanto.
Bateu escuridão! Acordou,
com o serviço de alto falantes
São Lázaro tocando: “Eu não
tenho onde morar...”
Deu caruara, guenzo
correu para o penico,
o corpo trêmulo, suava!
Ainda tomou um chá de velame
para rebater o veneno dos baiacus
que lhe tinham saciado a fome.
Deu vexame!
Colocaram o corpo moribundo
no carrinho de mão,
correram pelas pontes
Santo Antonio e Copacabana
em busca de socorro.
Chamaram Dona Joana rezadeira.
Ela, com três galhos de guiné
e um dente de alho macho
rezou o corpo de João
pensando que era mal olhado...
Tarde demais!
João, ainda, semi-inconsciente,
Pensou em Gilda sua namorada,
no terreiro de Candomblé, era corujebó,
na roda de capoeira, nos pais,
nos amigos de infância,
no ano novo chegando,
na mesa farta que nunca teve
e em uma vida melhor com esperança.
Deu o último suspiro,
ficou tudo na lembrança...
Nas rodas de capoeiras
o luto dos beribaus,
nos terreiros,
o silêncio dos atabaques!
Nos barracos pendurados
um céu cinza nos olhares...
Deus sabe!
O Sibarita

De repente voei até Salvador da Bahia.... estive na Ribeira, passei Monte Serrat, bebi uma água de coco e voltei para beliscar um acarajé....
ResponderExcluirAdorei, Sibarita...
Um beijo
Caro Sibarita, você supreende a cada dia. Grande poema! Destaquei: "...Acordou, escovou/os dentes com carvão...". E, também, "...Chamou para dentro o alimento,/enganou ali todo o sofrimento...".
ResponderExcluirNa verdade, se quisesse ser rigoroso, teria que destacar aqui, todo o poema.
Mas rapaz, quase me arrebentei de rir com aquela conversa sua com Dona Valda. Mulherzinha birrenta, hein? E vê se pode, eu não quero meu nome nem em boca de Matilda, quanto mais em boca de sapo. Lá ele! Vôte!
Grande abraço!
Meu conterâneo! Que linda forma de descrever uma triste história do nosso povo, nossa gente!
ResponderExcluirFique com Deus! E tenha uma semana feliz!
Beijos
Teria sido ele um "João Ninguém"? Ou alguém que ninguém deu valor?
ResponderExcluirBeijos cirandeiros.
Foi lamentável o incidente envolvendo os 38 pacientes e o governo do Ceará, Sibarita. Nós ainda não nos refizemos, mas é certo que tentaremos encontrar uma maneira de pagar as despesas do ônibus, pois fpi tão somente o que nos faltou.
ResponderExcluirObrigada pela msg de amizade e respeito que deixou para os meus meninos e meninas. Nós agradecemos e hinramos a sua amizade.
BeijUivooooooooooossssss da Loba
Sibarita sempre te encontro no meu site de poesias que coisa boa ! Você é super gene fina, muito gentil e venho aqui dar-te um beijo.
ResponderExcluirVia outro trabalho que este é em grupo.
Grande, grande abraço.
Alda
Uma vida vivida, sentida, sofrida num belo poema.
ResponderExcluirÉ......
ResponderExcluirBeijão
Olá Sibinha Querido,
ResponderExcluirOlha meu amigo, eu nem sei te dizer qual tipo de poema que voce escreve me comove mais...se os de Amor,com todos os ingredientes que só mesmo um Sibarita é capaz de fazer e nos levar aos sonhos...ou se dos reais poemas carregados de Intensa dor...dor esta que voce feito um mágico, transforma em belo canto...mas são os "olhos do poeta" que sabe "ver" beleza até mesmo onde aparentemente não existe.
Que Bonito Siba...tão lindo...!
Obrigada por ter me dado satisfação de onde o senhor estava viu meu fio? rsss...é assim mesmo, ADORO esta sua obediência..kkkk.
E quanto ao fato de vossa senhoria,não se achar um herói...fala sério!!!...kkkk...voce num viu sua cara sob a máscara não? Pois, aquele lá é voce seu menino...é sim....kkk....JURO!!!
Beijo comsentido,
Olá! Adorei o texto/poema. Você sintetizou muito da cultura afro-brasileira e da realidade , da fome, da decisão pornão ter outro caminho. E ainda em versos! Meu Deus,quanta capacidade! Beijo!
ResponderExcluirA dor duma vida desenhada com as tuas palavras...
ResponderExcluirBelo... triste...
*
Olá Sibarita,
ResponderExcluirQue encanto de poema, que vivência emocionante...gostei muito...
:-) Beijinhos
Meu querido amigo virtual...
ResponderExcluirComo não se emocionar com a história tão bem escrita desse povo sofrido?
São pessoas que passam por nós nas janelas dos nossos carros, todos os dias. São pessoas que mostram que viver é um desafio pra quem pode encarar...
Obrigado, amigo, por ser tão sensível conosco.
Eita! Daqui ouço o som do berimbau!!
ResponderExcluirMeu amigo bahiano (bahiano mesmo, com "h"; porque se nasce na Bahia é bahiano e não baiano, sô) eu rodei contigo na capoeira!
beijos
Menina do Rio
Anda sumido, hein meu rei? Acaso viajas com Dona Valda? Be careful, man, you now, essa mulherzinha é danada de birrenta. Se brincar, seu nome acaba na boca de um sapo.
ResponderExcluirQue lindo Sibarita...
ResponderExcluirTiraste beleza do pó da terra... como Deus tirou o homem...
Do pó da dura realidade dos pés descalços deste mundo...
Beijos para ti, amigo...
Tens a arte de contador de histórias, só que através de um poema é muito mais difícil.
ResponderExcluirO resultado é escelente, parabéns pela qualidade do poema.
Bfs, abraço.
Olá Sibarita, gostei!!!
ResponderExcluirBeijinhos,
Fernandinha
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ResponderExcluirSeleção dos melhores Sites do Brasil!
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Siba?...Ah não...Nobre Sibarita?
ResponderExcluirMenino de Deus!!!!...eu vim ver se tinha algum poema novo, e olha só o que vejo aqui? Voce está entre os melhores sites do Brasil, meu chapa..rss.Mas é o que eu digo,eu num sei escrever não meu véio,mas sei bem distinguir o joio do trigo, sei reconhecer o talento em quem de verdade possui.
PARABÉNS MEU AMIGO!
ESTOU FELIZ POR VOCE TÁ?
Mas aqui prá nóis...kkk, "eles" só te escolheram pq num viram o meu Comsentido viu? kkk...mas num tem pobrema naum...eu deixo, eu deixo...kkk, afinal voce é Siba ou num é?
Cadê voce? Num vai voltar mais naum é? Oxente!!!...kkk.
Beijo,
Fantástico!
ResponderExcluirE as imagens na mente acompaharam cada letrinha tua!
Beijinhossss
Oie lindinho! Passei pra lhe ver. Saudades! Que sua semana seja de realizações!
ResponderExcluirBeijos
Cumpadi,
ResponderExcluirComeu mosca! Perdeu minha festa!
Passei para reler e deixar a minha admiração e um beijo de boas noites...
ResponderExcluirOie meu conterrâneo... saudade de você, viu?
ResponderExcluirBeijos
Belo poema.
ResponderExcluirO feio é que isso tudo seja a triste realidade.
Grande beijo.
uma realidade transformada em poesia
ResponderExcluir♥ . . ♥ . . ♥ . . ♥ . . ♥ . . ♥ . . ♥ . . ♥
......... ) ` - . .> ' `( ........
........ / . . . .`\ . . \ ............vim♥
. ....... |. . . . . |. . .| ...........te♥
.. ....... \ . . . ./ . ./ ..........fazer♥
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....... |\ |\ ,. ||/ .................para♥
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..... '-...'-._..\||/ ............ ....teu♥
......... >_.-`Y| .....................dia♥
.............. ,_|| .................fique♥
................ \||.............perfumado♥
................. || .............♥
................. || .Bjs...♥
e bom fim de semana
carla granja
Sabe bem ler-te.
ResponderExcluirBom fim de semana.
Bjx
Meu Deus, como é possível num país rico como o Brasil existirem diferenças tamanhas?!
ResponderExcluirUm beijo!