quarta-feira, novembro 28, 2007

LAÇOS

Laços

No anseio do amor guardo os teus beijos intensos
Sob aquela lua entre nós esparramada nos lençóis,
Enquanto, cravavas no meu peito a paixão ardente
Na razão que cobria a nudez de todos os teus sóis.

Sei... Seria eu cego aos ventos da sanha que te devora.
Acesos desejos galopando nos céus irados do vendaval
Que te possui e sufoca o teu coração na vaga luz de fora,
Vagante ao teu lado em horas dentro na paixão visceral.

Contudo, a lua mansa reina na tua essência de menina.
Sinto, então, o teu seio pulsando no meu chão de versos
Explodindo amor, amor e amor no luar das tuas retinas
Alumiando celestialmente a esquina dos meus desertos.

Meu bem, por ti me vejo e, assim, aos teus olhos profanos
O fogo do coração nas lágrimas vertidas, o tempo se refaz
No universo. E eu na corrente do rio sempre vou ao oceano,
Perto ou longe qualquer coisa me afoga entre soluços e ais.

Nas rotas de fugas, sou abrigo. É necessário tão somente voar
Como um pássaro de pluma ao coração que bate no meu peito
E sem malas ou agendas, para lá ou para cá é preciso só amar
No frio da madrugada quando eu cair, enfim, ao teu (de) leito.

Mas, que dor oculta te oprime o coração? No suspiro, dizes tu!
Se te perco ou se te guardo no pranto dos teus olhos perdidos
Nada perdes! O amor aprisionado nas chamas navega no azul,
Exaltando cobiças, sou um oceano de gelo em fogo convertido.

Assim, o teu olhar rasgado palpita e me consome no teu fogo.
Teu corpo como plumas acaricia o meu corpo, a flama ressoa
Na avidez da tua boca sedenta nos delíquios de todos os rogos,
É, uma lua em gozos sobre nossos corpos estremece, sobrevoa...

O Sibarita

sexta-feira, novembro 23, 2007

RELICÁRIO

Relicário

Lembrar-te-ei e resguardarei os meus passos
Na suavidade da paisagem em que modula
A freqüência das cicatrizes... Eu me refaço
Em carne rubra de desejos que o amor anula...

Decifras, então, as noites que nos rodeiam
Em que o amanhecer ruminando ventanias
E por teu desejo me queres preso a tua teia
Fios cândidos, tênue das horas em agonias...

Dar-te-ei uma flor, roubar-te-ei um beijo
E tudo diz no infinito... Entrego-me e ouço
Sob a mesma noite que nos cobre, e vejo!
Do teu olhar a melhor parte do meu corpo...

Diz-me então, se há regras, se o fogo avança
Ou se é para o teu olhar que estou correndo?
Dos olhos em que busco o amor, em si estanca
Ora! Direis do meu coração que está morrendo...

Pasmo! Sobre a angustia do pensar e no alude
Desse manto na vertigem do azul céu/lua, tateio!
Então, entrego-te em luz o que a boca não te diz
O outono desses versos apontados para o teu seio...

É... Mas, dos teus olhos de primavera acesa
Colho brancos lírios, encontro desejos e fuga.
Oh doce estrela, não sei se a paixão é avessa
Ou se ébrio de ilusão o destino faz o caminho...

O Sibarita

sábado, novembro 17, 2007

DEMI-MONDAINES

Demi-mondaines

Caô, Caô!
Ah, eu corri mundo no meretrício:
*Pelourinho, Ladeira da Montanha
Maria da vovó, Sayonara, Taboão
Maciel, Tabaris, Sessenta e Nove,
Ladeira da Misericórdia, Conceição...

No olhar das donas moças a emoção
Como bel-prazer numa lua de assanha.
Dentro dos pardieiros o leito da profanação
Na opulência das púrpuras romanas...

Elas cantavam as infinitas nostalgias
Das noites dos teus corpos no esplendor
Nos mistérios do amor e melancolias
Sob as asas palpitantes dos teus gigolôs.

Elas tinham os olhos inocentes,
Inocentes de saberem tudo
Bebiam do azul a cobiça reticente
No arcabouço dos sussurros...

Vestidas de flores do luar,
O azul se dissimulava.
É que atrás dessas flores
O bel-prazer se lançava, perdurava.

Na relva oxigenada do púbis,
Daqueles púbis - horto exíguo –
Resplendeciam fragrâncias mundanas
Nas chamas supremas do fogaréu infinito
Dos teus corpos de emoções profanas...

Sob o lençol de aromas do meu corpo,
A suave teia do louco que existia em mim
Buscava com fúria os desejos absortos
Nos bosques dos teus orgasmos sem fim...

Evoé! O Sibarita se atirava louco, lírico
E elas se faziam nuas na dança dos véus.
Ai! Nas dobras de todos os precipícios
Elas me levavam aos infindos dos céus...

Em todas elas as noites se revelavam
No fausto dos teus corpos majestosos.
As tuas pupilas dançavam e boiavam
Nas deliciosas síncopes dos gozos...

Os seios delas, asteróides pontiagudos,
Oferecendo-se sob vestidos insinuantes
Às bocas desejosas e na contra-luz do abajur
Os corpos ardentes das meretrizes amantes.

Ao ritmo dos corpos, cintura e ancas
Num leito de rosas e lençóis de jasmim
A noite em montes de pétalas estancava
Na ardência das chamas, ai de mim!

Valha-me Deus Nosso Senhor!

Diacho de demi-mondaines às espreitas
Na carnadura dos sentidos maledicentes,
Vil metal gemendo, serenatas perfeitas
Nos gozos em prostíbulos reticentes...

O Sibarita

*Eram os locais dos meretrícios (Bregas em baianês) em Salvador por volta dos anos 60,70,80. Uns entraram em decadência total, outros continuam, mas, sem o mesmo glamour de outrora.

Peço desculpas aos amigos que tem vindo aqui sem que eu dê retorno. Estou em viagem de trabalho e por isso mesmo sem o devido tempo. Na próxima semana estarei de volta à Salvador ai então visitarei à todos.


sábado, novembro 03, 2007

JOÃO PALAFITAS

João Palafitas
Aos amigos de infância
Acordou, escovou
os dentes com carvão,
olhou a mesa, pratos vazios...
Ruminou com os olhos a fome.
Abriu a janela, viu
um sol nascente mirrado,
mas que enche bocas vazias,
dependurado nos caibros...
Rogou aos céus!
Passou pó de pemba no peito,
colocou o patuá no pescoço,
fechou o corpo!
Apanhou o velho gereré,
chamou por Ogum de Ronda
e desceu para a maré.
Foi mariscar...
Papa-fumo,
canivete e rala-coco.
Siris magros,
caranguejos e aratus.
Não acreditou!
Passou as mãos nos olhos,
viu a fonte do seu alimento,
sem ao menos lhe darem
outro meio de sustento
aterrada pelo lixo
da noite para o dia!
Chorou nas mãos
toda a sua agonia...
Enquanto,
ratos, baratas e urubus
faziam a festa, sorriam!
Ainda restava
um penico de maré.
Não pensou duas vezes:
no gereré rasgado
deu algum nó
e pescou magros baiacus.
Tinha ali o seu pôr-do-sol!
Subiu as pontes,
passou no boteco,
cacete-armado de Tonho de Zene,
pediu uma e deu para os santos,
depois, tomou três poca-olho.
Saiu mambembe,
revirando os olhos, zarolho...
Chegou no barraco, sem tirar as tripas,
feliz, jogou na panela os baiacus!
Danação de fome... Aferventados,
encheu o prato, agradecido,
fez o sinal da cruz!
Chamou para dentro o alimento,
enganou ali todo o sofrimento...
Deitou, dormiu por breve momento,
sonhou com uma vida melhor,
com a primeira namorada,
como seriam os filhos ali
sem escolas, sem horizontes,
só lixos, ratos e baratas por todos os cantos
e nenhuma felicidade por encanto.
Bateu escuridão! Acordou,
com o serviço de alto falantes
São Lázaro tocando: “Eu não
tenho onde morar...”
Deu caruara, guenzo
correu para o penico,
o corpo trêmulo, suava!
Ainda tomou um chá de velame
para rebater o veneno dos baiacus
que lhe tinham saciado a fome.
Deu vexame!
Colocaram o corpo moribundo
no carrinho de mão,
correram pelas pontes
Santo Antonio e Copacabana
em busca de socorro.
Chamaram Dona Joana rezadeira.
Ela, com três galhos de guiné
e um dente de alho macho
rezou o corpo de João
pensando que era mal olhado...
Tarde demais!
João, ainda, semi-inconsciente,
Pensou em Gilda sua namorada,
no terreiro de Candomblé, era corujebó,
na roda de capoeira, nos pais,
nos amigos de infância,
no ano novo chegando,
na mesa farta que nunca teve
e em uma vida melhor com esperança.
Deu o último suspiro,
ficou tudo na lembrança...

Nas rodas de capoeiras
o luto dos beribaus,
nos terreiros,
o silêncio dos atabaques!
Nos barracos pendurados
um céu cinza nos olhares...
Deus sabe!

O Sibarita