sexta-feira, janeiro 27, 2012

VÓS



Vós

Vós que escreves, escreves mares de palavras, medo/ledo,
Dos vossos olhos tão nublados vejo solidão, noites/açoites.
Nas brenhas da pena, confins dos anseios, rochedo/rastejo,
Quereres de ontem, arrebata na essência, decorre/escorre...

Vós que vens do secreto, de auroras virgens, amanhecer/ser
Alucinante de sol intimo, incenso de turíbulo, aroma/assoma
Boca viçosa, perfume de romã, murmúrios velados, dizer/ter
Deleites e delírios da volúpia carnal purpureada, dona/fona...

Dentre auréolas de luzes vertiginando este soneto, jogo/rogo
Em mim, o arcano inquieto coruscando nos céus, fascina/sina
Exalação fresca, toda fragrância da escrita: cor, tons e luz...

Deusa lasciva de palpitantes seivas, suprema chama, uis/ais
Aportados na fúria de desejos pagãos impávidos, corais/cais
Brisa, luar sensual e nervoso, mãos entrelaçadas, tudo flui...

O Sibarita

quinta-feira, janeiro 19, 2012

SINFONIA

Ponta do Humaitá fica na cidade baixa,
é um dos lugares mais bonitos de Salvador, principalmente, no por-do-sol.

Sinfonia

Coração tatuado, não me negues, ando em ti e negas.
Desnudo-te, não há senilidade, no desejo, eu te refaço
Em auroras no eflorescer das vinhas que o amor rega
Navegando por mares nos aromas de algas e sargaços...

Os sentimentos estão assinalados em convulsão noturna,
A tua negação imponderável é abismo, mistério e aflição
Que dos meus olhares iluminando a escuridão das furnas
Vão escorrer na tua pele de vontades em absoluta solidão...

Alma de tatuo, o balouçar na vaga, o coração inquieto
É na essência paixão iluminando o teu ser intensamente
No trigonométrico dos percalços sob os céus de afeto,
Mórbidos anseios dos uis e dos ais despudoradamente...

Nossas carnes tépidas resplandecem de sidéreos desejos,
Deslumbrante volúpia que dos azuis ouviremos os sinos
Sinfônicos de anjos e querubins em noites de benfazejos,
Plenilúnios de cítaras, harpas, bandolins, violões e violinos...

Na lubricidade dos nossos corpos, me abraça e me beija
Tão assim, por entre ocasos e luas na ponta do Humaitá.
Em desejos letais no aroma dos teus lábios batom cereja,
Haja o que houver, vem correndo, o que acontecer, será...

O Sibarita

domingo, janeiro 15, 2012

SOLILÓQUIO DE LUA

Solilóquio de Lua

Ai meu Deus! Essa lua de botequim
Bêbada, trêmula, zarolha e de ressaca
No céu azul anil olhando-me tão assim
Penetra no meu peito como uma faca.

Uma faca azulada, sem lâmina e sem cabo
Reverberando na noite sem um luzir se quer!
No ermo presa em si mesmo no menoscabo.
-Valha-me Deus! Arma branca, malmequer...

Arisca: rastro ágil, cortante de dois gumes
E na retina dos meus olhos a rota de fuga
Por estrelas escritas nesse luar sem lume...

Solilóquio de lua esguia em soneto de tântalo
No metal de arma branca, brilhando, cortando
O fundo do coração na fragrância do sândalo...

O Sibarita

quarta-feira, janeiro 11, 2012

Lavagem do Bonfim (IAIÁ)

Hino ao senhor do Bonfim cantado por Caetano, Gil, Betânia e Gal


IAIÁ

Minha Iaiá, se ligue! É lavagem do Bonfim e verão na Bahia
Baixei todos os meus Santos do altar, agora fia, o coro come!
Sou um vulcão em plena erupção, não fique triste não, sorria
E quem mandou me liberar? Agora é tarde! É tome e tome...

Aff... Nem te conto: da praia de Jauá até a praia da Ribeira
É cada piriguete de fio dental, valha-me Senhor do Bonfim!
Vai se retar? Se rete não! Eu tô comendo todas pelas beiras,
Imagine? Imaginou, foi? Oi que porreta! Todas elas afim...

Ah, eu pinto o sete entregue aos braços das moças retadas
E na ponta do Humaitá uma lua traíra me faz lembrar de ti
Dou caruara e os cambaus, tremo sob esta noite aveludada
Já que me és um oceano de desejos desaguando em mim...

Tô pirado fia, tô na gandaia, tô na benção do Olodum, tô no pelô
Meu coração rastafári explode no bar do Reggae, teu olhar de sol
Na miragem queima minha pele morena e ai eu sou todinho amor
Os desejos aguçam, me consomem e sabes como fico... Ó paí, ó!

O que faço? Ao meu lado tem uma moça com os seios palpitando.
Fia, sempre fui desejos, em tua pele escorro sob lençóis de flores.
Ela, a moça de negros olhos de ônix nua no leito vai se revelando,
Por teu querer, sou mar de fogo convertido no venal dos amores...

-Como estou? -Mainha, lenhado! As donas moças não dão sossego
Elas fazem procissão para Jauá, aproveitam, conhecem minha rede
Tô doidim, doidim! Não sei se vou agüentar não, ore por teu nego
Omôpai! Até as turistas estão vindo ao pote com muita sede...

Piripicado, é na flor dos sentimentos que envio notícias minhas
É que sou o Negão do Olodum na cobiça curtindo aquele som
Do samba-reggae com cada negona que me valha Deus! Ah fia
Elas e eu, a noite e o mar, os uis e os ais, vixe! Tudo é tão bom...

ZéCorró

Ô meu Senhor do Bonfim desse jeito eu vou bater a biela! kkkkkkkk

TRADUÇÃO DO BAIANÊS

Minha Iaiá – Meu amor, meu desejo.
Oi, se ligue – Olhe, fique atento (a).
Baixar os Santos do altar – Sair sem compromisso, sair para festas, sair para namorar.
Agora Fia – Agora mulher.
O coro come – Tudo acontece.
É tome e tome – Fazer amor várias vezes.
Piriguete – Mulher a fim de namorar, de fazer amor e nem sempre mulher da vida.
Fio dental – Maiô devasso, apenas uma tira de pano.
Se retar – Se zangar, se aborrecer.
Comer pelas beiras – Conquistar uma mulher aos poucos para levar para a cama.
Jogo duro – Sem brincadeira, a sério.
Pintar o sete – Fazer tudo.
Moças retadas – Mulheres danadas, mulheres que namoram muito.
Ponta do Humaitá – Um dos lugares mais bonito de Salvador, Cidade Baixa.
Lua Traíra – Lua traidora.
Dar caruara e os cambaus – Ficar de perna mole, bambo e muito mais.
Tô – Estou.
Tô pirado – Estou doido.
Tô na gandaia – Estou solto, sem compromisso, em todas as festas.
Tô na benção do Olodum – Benção do Olodum festa que movimento o Pelourinho todas as terças feira o ano inteiro em que se vai muita gente para dançar samba-reggae e paquerar.
Tô no Pelô – Estou no Pelourinho.
Bar do Reggae – Bar do Pelourinho onde só se toca reggae e vende o famoso cravinho (bebida alcoólica feita de cravo) e a intelectualidade baiana se encontra para um papo descontraído.
Ó paí, ó! - Chamar atenção, olhe aí, olhe! olhe aqui, olhe! olhe ali, olhe!
Dona moça – Mulher da vida, mulher velha tirada a mocinha.
Fazer procissão – Ir muitas pessoas ao mesmo lugar.
Doidim, doidim – Doido, doido.
Ir ao pote com muita sede – Ir atrás de algo com muita vontade.
Piripicado – Faça fé, acredite.
Samba-reggae – Música inventada pelo Olodum e disseminada pelo mundo.
Negona – Mulher com um belo corpo e negra.
Vixe! – Meu Deus!
Bater Biela – Se acabar, morrer.

segunda-feira, janeiro 02, 2012

SALVE 2012!


Salve 2012

Correu o tempo, fez miserê em brilhos de alenta,
É ele, ó Deus, ó Deus! O velho ano se escafedeu.
No ventre do mundo o ano novo rompe a placenta,
Nasce a esperança, onde, o ano velho se perdeu...

Tic, tac... meia noite! Pipocam os fogos de artifícios,
Em Jauá. Eu todo de branco, o presente de Iemanjá
E o novo ano! É, salto do ano velho sem resquícios,
Deus salve todos Orixás, Obaluaê e a rainha do mar...

Purifico o espiritual em banho de pipocas e alfazemas
Quero ver a vida pegar fogo, tô entregue as vontades.
Céu de lírios, com o nome da moça na minha oferenda,
Dissimulo, o meu pensamento vai às tuas intimidades...

Apogeu da tua turgescência, clave, delícia encadeada
Do meu desejo chamejante no teu corpo volúpia, vixe!
Tô que tô! Tomo todas sob essa lua nova despudorada,
Ao meu lado, os olhares daquela dona moça azeviche...

Sou África, nos entreolhares, eu viajo mundaréu e luas,
É que nos teus olhos inumanos e tentadores eu me perco.
Os sentidos nas nuvens, as coxas da piriguete seminuas,
Apraz! Sensualmente demoníaca, ajoelho e rezo o terço...

Na veste branca e transparente a silhueta da relva e anca,
Fogaréu! O cruzar das pernas e o meu olhar fatal de tiete.
No leito: o teu corpo nu, um Moët & Chandon, noite santa
De delírios, sussurros, painho e mainha. É, 2012 promete...

O Sibarita