sexta-feira, maio 30, 2008

MIRAGEM

A vaga, agora, cruza o silêncio de agonias.
E, comigo, uma lua de miragem orvalhada
Saindo ao léu para ensombrar os meus dias
Sob um céu amaranto de seiva evaporada...

Piro, viajo na maionese e no olhar esquivo
Sol e lua no mar e o crepúsculo espelhado
Franqueando a noite para um céu risível
Nos lábios da tarde ardentemente curvado.

Então, eu te sinto lúdica e aromal que se revela
Espreitando o meu caminho com o teu perfume
De flores sugadas em rondas de pura quimera...

Contigo, estrela e brilho que a noite inflama
Na placidez dourada dessa alma leda e cega.
Valha-me Deus! Pelas trevas, tu me chamas...

O Sibarita

quarta-feira, maio 28, 2008

PREGUIÇA BAIANA

Preguiça retada para escrever este texto, eu aqui na minha rede comendo água... Valha-me Senhor do Bonfim! (kkk)

Amigo(a) leitor (a) este diálogo fictício, entre, o escritor Jorge Amado e o Sibarita é em resposta à Orpheus, paulista, que escreveu dizendo que baiano é bicho preguiça. Bons risos!

Caro Jorge Amado lhe escrevo para me ajudar a descascar um pepino. Continuo lindo, sou todo alegria apesar do Orpheus dizer que baiano é uma porcaria. -Se ele falou? -Valei-nos São Jorge dos Ilhéus! Ele extrapolou... que babaca, vixe, xô, xô inhaca! Escreveu que nós baianos somos preguiçosos. Pergunto: pelo tamanho das nossas proles, me diz, somos ociosos? Estamos sempre enfiados, dentro, como ele mesmo diz, a rede é o nosso templo! (kkk) E então seu Jorge? O Senhor que foi um baiano retado, afamado, agora, sendo difamado? –Como? -O senhor está aí quietinho no seu cantinho e aparece esse louquinho? Cuidado seu Jorge com os burburinhos... Ainda bem que o senhor está no Céu! Seu Jorge me tire uma dúvida, pergunta ao Homem aí, os Dez Mandamentos que Moisés nos apresentou é um DECÁLOGO? –É mesmo? –Xiii... Orpheus se lenhou ao chamar de Decálogo as dez baboseiras, ou melhor, besteiras que escreveu dizendo que baianos são bichos preguiça. -O que? -O Homem está pasmo, diz que ele é um asno e que eu tenho livre arbítrio para tirar um sarro? Oxente! Será que não é esparro? Amiúde, sou meio rude, ele se diz tão inteligente, o que será da gente? Que eu vá em frente, o Homem vai me dar os repentes? Se assim é... Vou chamá-lo logo de Zé Mané! -Não pode? -Ah entendi... assim, ele explode e tem o problema da auto-imagem a marca identidária e a dele não é nada ordinária! –Como? Ele é maluquel e por isso se presta a esse papel? -Sim, sei... -Ele gosta mesmo é de segurar o taco do Rui Chapéu e quando vê o mel se lambuza prá dedéu! -Xiiii... (kkk) -Não, não vamos rir, mesmo porque ele não vai admitir, é um rapaz muito hilário, não sai do armário e pensa que somos baianos otários, nem tudo é perfeito, não temos preconceitos, cada um vive do seu jeito... -Calma seu Jorge, não se afobe, ele é muito nobre e adora um esnobe! Isso rima com lobby, pode ser que ele se dobre querendo um love, por favor, não me rogue, porque não sei qual é o seu hobby... (kkk) Seu Jorge, ele disse, que nós baianos, “não fazemos amanhã, porque, deixamos para fazer depois de amanhã” e aí? É para chorar ou para rir? Nesse caso, não é melhor o senhor consultar o Freud para tudo explicar? -Sim... – O que? Freud, disse isso? Sacana! Ele não quer meter a colher, só se fosse à sexualidade... e agora? Ah, ele passou a bola para seu discípulo Carl Jung? Pois não! -O Jung está dizendo: “o que está dentro, está fora...” é aí que ele exterioriza toda ignorância, que o perdoássemos pela arrogância, esses preconceitos vêm da infância, se é assim... Vou apelar ao Senhor do Bonfim! O problema é que ele nas entrelinhas chamou todos baianos de escória do povo brasileiro. Eu sei que somos batuqueiros, festeiros, agora, fuleiros? -Heim? -O senhor acha então que o Orpheus é um canastrão? -Sabe, vou mandar para ele uns confetes, no meio uns bofetes e para que não se rete, mando via internet e digo que ele é a vedete, entrego o nome dele à bola sete e que tal ele ir à festa vestido de Babete? –Ô, é? Meu Deus! (kkk) Para finalizar, seu Jorge antes de lhe escrever passei no Terreiro do Jardim Cruzeiro, tomei um banho de sal grosso, arruda e alho, fechei o corpo! A mando dos Orixás, li para eles o tal dos mandamentos do Orpheus, os Orixás indignados e ao som dos atabaques fizeram despachos mandando três Corujebós para as encruzilhadas, o senhor que era filho de Santo, o que acha? Será que foi para o internauta? -É mesmo? -Xiii! Ebó? Tá rebocado, piripicado... Ele tá lenhado! (kkk) Seu Jorge, um último pedido, peça ao Homem para me deixar cheio de repentes e um pouco inteligente, sabe, o Orpheus pode querer ir à réplica, eu que tenho o miolo mole, não saberei ir à tréplica e nesse caso estarei perdido, para não dizer fud... (kkk)

Tá rebocado, piripicado!

O Sibarita

PALAVRAS EM BAIANÊS

Comendo Água – Bebendo muito cravinho (bebida alcoólica)
Descascar um pepino – Resolver um problema.
Babaca – Besta, otário.
Vixe – Pasmo.
Xô, xô – Tangendo alguém como se fosse uma galinha
Inhaca – Pessoa que tem odor.
Retado – Decidido, que não foge da briga.
Difamado – Esculhambado, injuriado, caluniado.
Burburinho – Confusão.
Baboseira – Coisa sem valor.
Tirar um sarro – Fazer uma gozação.
Oxente – Espanto.
Esparro – Cair numa confusão.
Repentes – Responder rapidamente sem pensar direito.
Zé Mané – Besta, abobalhado.
Maluquel – Maluco de onda.
Prá dedéu – Muito.
Não sai do armário – O homossexual não assumido.
Bofetes – Tapas.
Fuleiro – Sem valor algum.
Bola Sete – Demônio.
Um Love – Um namoro.
Vestido de Babete – Transvertido de Gay.
Terreiro – Casa de Candomblé.
Despacho – Feitiço.
Corujebó - Pessoa de Santo que leva o Ebó.
Encruzilhada – Local de vários cruzamentos, onde, é colocado o despacho.
Ebó – Feitiço mais pesado.
Tá rebocado, piripicado! – Com certeza, faça fé.

sexta-feira, maio 23, 2008

OS SEIXOS

Os Seixos

Bailado de seixos
Cardumes de espumas
Corpos de algas
(cristais e brumas)

Areias e corais
águas paradas.
Sereia escarlate
(lanterna encarnada)

A concha mais bela
(quem sabe qual?)
A onda que falta
Eu dissolvo o sal...

Em verdade, em verdade
Eu vos digo destas palavras
Que as noites são saudades
Daquelas luas arrebatadas...

(Fragmentos de rochas,
pedras soltas,
seios em tochas.)

O Sibarita

terça-feira, maio 20, 2008

MAIO, 1784

MAIO, 1784

Para Déa

Uma vaga luz intensa do alamor
induziu-me à meditação, um anjo
incendiou-me, ele tinha o olhar azul
tinha vida e a suavidade do esplendor.
O brilho e uma translúcida claridade,
era um anjo de disciplina mongeana
de luz alada com áurea dourada.
Havia nele o dia e a claridade nos olhos,
ele guiou-me na leveza das plumas
por jardins de caminhos perfeitos
e imagens sacras de cenas do evangelho,
via-se nelas a urbe de almas panteístas
ao redor de castiçais e círios acesos
de silentes anjos de um céu angélico
em góticas catedrais barroquianas
e, no tocar dos sinos, eu carregava a cruz!

Foram pecados... Outros passados!
Eram passados... Outros pecados!

A colheita é a que semeias
a fé vem do evangelho
o anjo vem da circunstância
a cruz vem dos atos...

Livre da inconstância
desencarnei em 1784!

O Sibarita

terça-feira, maio 13, 2008

DEUS É MAIS!

Caros leitores o vídeo é uma homenagem ao Mestre Bimba o inventor da capoeira regional. Aqui está o Mestre Bimba, a roda de capoeira, o samba de roda, o maculelê. O Mercado Modelo, Elevador Lacerda, Pelourinho, Terreiro de Jesus, Igreja de São Francisco, Largo da Ribeira, Praia da Ribeira, Praia do Costa Azul e Itapoan. IMPERDÍVEL!

Deus é mais!

A Cabrocha que andava
Dependurada no olhar
Do Nego Retado de Bom
Abriu o gás, deu ninja,
Saltou de pára-quedas
Ganhou o mundo, se picou!
Foi ganhar a fama
Virar mulher dama...
Desceu o Elevador Lacerda
E de saia rendada cor de gelo
Foi para a roda de samba
No Mercado Modelo...
Seus seios às amostras
Suspirando por beijos
Numa blusa super decotada
Viraram dois asteróides,
Siliconizou!
Com o balaio grande
Tem um remelexo
Que me valha Deus
Nosso senhor.
Turbinou!
Na praia do Costa Azul
Ela desfila de fio dental
E diz que é da Grife Daspu.
Arrebentou!
De cara esticada
Fez plástica no rosto
E na boca de sulapa.
Botoxzou!
Colocou lentes de contatos
Os zóios são azuis esmeralda.
De vez. Desbaianou!

Agora, só fala em ingrês
Au do iou du? Uat zi neme?
Ai Deus, americanizou!
É gringo prá lá, é gringo pra cá,
Nego retado de bom se lenhou.
Vixe... Ela piriguetou!

Pelas bandas do Pau Miúdo
Nego Retado de Bom
Era capoeirista, o cão de calçolão.
A cabrocha o seu elo perdido
E jogando capoeira lembrou da paixão,
Bateu fofo. Deu vacilo!

Num rabo de arraia mal dado
Tomou, no contra passo, um martelo
Uma cabeçada e um aú cortado
De espinhela caída ficou lerdo.
Coitado!

Avexado, tentou se recuperar
Numa meia lua de compasso
Tomou uma benção e não se plantou
Viu o céu se exaurindo no arregaço,
Bateu biela. Subangou!

Na roda de capoeira
O berimbau silenciou.
Nego Bom, sem eira, nem beira
Pediu pinico. Embarcou!

Ele, ainda, sentiu o tic-tac do coração
No suspiro da vida que se esvai
Deixando as cinzas da ilusão.
Deus é mais!

E eu,
Nesse ziriguidum,
Pirei de vez
No samba-reggae
Do Olodum...

O Sibarita

TRADUÇÃO DO BAIANÊS

Deus é mais! – Podes crer!
Cabrocha – Mulher da bunda grande com andar muito sensual.
Nego (a) Retado (a) de Bom – Baiano (a) gostoso (a) de namoro, de sexo.
Abriu o gás – Se mandou, foi embora.
Deu ninja – Deu um jeito de ir embora.
Saltou de pára-quedas – Saiu suavemente sem ser percebido (a).
Ganhou o mundo – Está em todos os lugares.
Se picou – Foi embora rapidamente.
Mulher Dama - Profissional do sexo, puta.
Saia Rodada – Saia que as baianas usam.
Samba de Roda – Típico da Bahia, as mulheres sambam e batem palmas.
Largo da Ribeira – Fica na Cidade Baixa, Península Itapagipana.
Seios de asteróides – Seios grandes, volumosos.
Siliconizou – Colocou silicone.
Balaio Grande – Bunda grande.
Remelexo – Dança mexendo muito a bunda.
Turbinou – Colocou silicone na bunda.
Praia do Costa Azul – Praia da Cidade alta, jardim dos namorados.
Fio Dental – Maiô minúsculo que deixa a bunda toda do lado de fora.
Daspu – (Das putas) Grife das profissionais do sexo parodiando a Daslu.
Arrebentou - Fez sucesso.
Boca de Sulapa – Pessoa de boca e lábios grandes.
Botoxzou – Colocou botox.
Zóios – Olhos.
Desbaianou – Aquele (a) que deixa os costumes, o jeito de ser baiano.
Americanizou – Pessoas que não sabem o Inglês e enrolam os gringos.
Gringo – Turista estrangeiro.
Se Lenhou – Perdeu, ficou mal.
Piriguetou – Mulher que virou piriguete, vai para cama com vários homens.
Pelas Bandas - Por aquele local.
Pau Miúdo - Bairro de Salvador.
Cão de Calçolão - Pessoa boa em alguma coisa.
Beter Fôfo - Ser mole, amolecer.
Vacilar - Dar moleza à alguém.
Rabo de Arraia - Golpe de Capoeira, salto mortal na cabeça do adversário.
Martelo - Golpe de Capoeira mortal no peito do adversário.
Cabeçada - Golpe de Capoeira com violência no torax do adversário.
Aú Cortado - Golpe de Capoeira no calcanhar do adversário derrubando-o.
Espinhela caída - Dor no peito.
Avexado - Apressado.
Meia Lua de Compaço - Golpe de Capoeira atinge o adversário no calcanhar.
Benção - Golpe de Capoeira para atingir o adversário com a planta do pé.
Não se plantou - Não ficou firme.
Arregaço - Acabou tudo de forma violenta.
Bateu Biela - Se acabou.
Subangou - Se acabou, se lenhou.
Sem eira, nem beira - Ficou sem nada.
Pediu pinico - Pediu socorro.
Embarcou - Morreu, partiu desta para outra.
Tic-Tac - O bater do coração.
Ziriguidum – Confusão.

sábado, maio 10, 2008

O CIRCO II

O Circo II

“-Hoje tem marmelada? -Tem sim senhor!”

Senhoras e senhores, adorável público... Boa noite!
Versando à amada, ali está, o palhaço em evoluções,
No globo da morte, o amor, faz e acontece nos açoites.
Encerrando o espetáculo, ele, o domador de emoções...

Amada, entrego-te o coração escrevendo o teu nome
Agora, sob a lona desbotada deste circo, eu, o palhaço
Arranco gargalhadas da platéia no fel do teu assombro
Enquanto, no trapézio, animo o céu dos meus farrapos!

No suor das gargalhadas nasci palhaço para te amar
Desse picadeiro abro consultas ao livro dos oráculos
Chamo, digo o teu nome, em resposta vejo o teu olhar
Costuro no então a lona rota na seiva do espetáculo...

Pois, reinvento a inocência brincando de palhaço
A melhor parte! No picadeiro como berço do riso
O meu coração faz acrobacias ao léu... Disfarço
E clamo aos espectadores que rimem flor e dor!

Dar-te-ei o sol das copas orvalhadas do meu olhar
E nas peripécias do teu coração... Laço e enjaulo!
Amor felino! Eu, domador de emoções sob o luar
Desta lona rota e nesse trampolim, balanço, caio...

Admirável público meu cordial muito obrigado
Encerrando este espetáculo bradem comigo!

"O raio do sol suspende a lua,
Olha o palhaço no meio da rua...”

O Sibarita

quinta-feira, maio 08, 2008

O ILUSIONISTA (Circo I)

O ilusionista

-Hoje tem espetáculo? -Tem sim senhor!

A paixão louca, é alude, chora lágrimas perdidas.
Aniquilado e na amargura, o amor, faz mistérios!
E, o que foi, lá se foi... Oh, flores fortuitas, a vida
Balançando na aragem dos vãos de um trapézio...

...Paladina do amor e encantadora na essência pura,
Curva o destino... A paixão, auréola dos derradeiros
É santa mártir, qual luz dissolve e, no tempo perdura
Como heroína dissoluta do coração lançado ao picadeiro.

No palco do circo da aflição, o amor é carrossel,
Ó diversão, doida e cruel! O palhaço do sentimento
É ilusionista... Ri de si! A platéia faz o seu tropel...

Divina! Agônico, pulsa o coração malabarista,
Em mim, alguma coisa a ti pertence... O amor,
Ao tudo, ao nada, fala da paixão contorcionista...

-O que é que o palhaço é? -Ladrão de mulher!

O Sibarita

domingo, maio 04, 2008

DESÁGÜE ZEN...

 
Deságüe Zen...

“Só é seu aquilo que você dá...”
Lembrar-te-ei da paixão no aroma de jasmins esmigalhados.
A dor da partida faz sentir o gosto de maresia e água salgada
E, sempre, à noite pára o tempo nas estrelas dependuradas,
Não falam à alma e não forjam o pranto do amor desaguado...

Então, Precipito-me em deixar-me aqui nesse sol escaldado,
Deixo-me vestido da tua ausência, onde, uma lua orvalhada
Que se esvai segue também sem mim por rotas desvairadas.
Não era para tu partir assim pedaço de desejos esfacelados...

Se te pareço melancólico e imperfeito, olha-me de novo
Ando mesmo zen... Suscito luas agônicas e as dissolvo.
Não se chora o fim do que não houve, alma embaraçada.

Olha-me de novo. Com menos soberba. E mais atenta
As horas que descem te aprofundam na auréola densa
Encobrindo os teus olhos tão bonitos mesmo fatigados.

“O beijo que você deu é seu, é seu, é seu beijo...”
O Sibarita

quinta-feira, maio 01, 2008

O 83 e o 58...

Este vídeo é ao vivo do reggaeman Edson Gomes, baiano de Cachoeira,
o maior regueiro do Brasil. A música chama-se ÁRVORE, nela me encontro.
No show, sim, eu estava. Assistam, vale a pena!

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O 83 e o 58...

À dona Dulce minha mãe
Aniversariante também.
Em memória.

À minha mãe que chegaria aos oitenta e três neste primeiro
Envio-te orações por aquelas estrelas que brilham no céu.
Ao espírito de luz que em ti contém: O meu amor verdadeiro
Em lágrimas de saudade caindo -uma a uma- no mar de Jauá...

Valha-me Deus! É primeiro, maio
Mainha, é nosso aniversário!
Ai é que saio!
Coloco os meus pára-raios
Caio na gandaia, me esvaio...

Faço aqui as minhas vontades deste maio, primeiro!
É sim, encontro-me em pleno vigor físico e intelectual
Ai, meu Deus! Nesses meus cinqüenta e oito janeiros,
Continuo o mesmo homem simples, vulgar e especial...

Ai Senhor do Bonfim! Eu estou todo brejeiro,
É meu aniversário! Eu, sereno, esquivo, leve
E tão silente, singro num céu de brigadeiro
Sob a lua espantando o atro ocaso do tédio.

Ah! Eu cavalgo a rocha dominando a aspereza da lida
Na flor silvestre que desabrocha na viva luz... Eu fico,
Flutuo numa atmosfera rarefeita e existe tanta vida
Que no aroma do viver minha alma adeja pelo infinito...

Na própria luz reveladora dos dias com meu pai me pareço.
Respiro o Deus nas alturas ao sol de girassóis e tudo flui
De ser paixão e vagar na solidão oculta em que me perco
Pelas ruas do meu eu. Ontem sou, hoje serei, amanhã fui.

Ondas e ventos se calam e a noite e o mar
Murmuram na lua minguante da solidão...
Sou sol crescente da luz de prata de Jauá
Onde, me contorço, em plena inflexão...

Do homem que chega aos cinqüenta e oito
Na febre sã da aurora na curva em gráfico
Desenhando uma queda de alcance longo
Nos passos elípticos desses anos ou átimo.

O crepúsculo espelha sol e lua nos francos
Corre o tempo voraz, segue, no teu tropel...
Marcha sem fim a rodar aprumos e prantos
Nas horas correndo. Ó diversão doida e cruel.

Tão menos que a silhueta. O tempo é avaria
É um poente em cinza e laivos de amaranto
Vindo na imagem branda e esquiva dos dias
De olhos vítreos na esquina dos meus anos.

Oh, Deus! A fúria do jovem que já houve, não há mais,
A vida sucumbe nos instantes que passa e nada reverte.
A morte em seu palor... O que ontem foi, hoje, é jamais.
Evoé! Não me entrego, caio na gandaia e pinto o sete!

No fundo das coisas idas montado nos aprumos
No bojo das horas densas mago dos ventos serei
E desse tempo breve e paladino dos meus rumos
Do meu destino como um legado de desejos, rei.

Signo de touro sou sol da manhã e lua nova,
Aos que quiserem me ouvir: Ah, vem comigo...
Que nesta data o espírito renasce e se renova
Nos abraços de todas amigas e todos os amigos.

E comigo: o meu pai, meus filhos e os meus irmãos
As sereias do mar, da terra e todas as sereias do céu.
E comigo: a noite, a lua e a musa em um só coração
No aroma e desejos dos nossos corpos largados ao léu...

Debruçado no terraço
Observo o horizonte baço...

O Sibarita