Meia noite. Os desejos aflorados, etc e tal... Três, dois, um. Uff! Ano novo e eu a bordo. Demais! As estrelas, o mar e a lua de Jauá. O que foi lá se foi... Passou... Nada recordo.
O céu concha azul de uma valva que a noite beija Dá brilho de todos os tons nos fogos em chamas Sobre a beira-mar de Jauá quando a lua sombreia O ano velho se apagando ouriçado de escamas...
A tudo esqueço: Cismas, ilusões e prantos vãos. Coloco nas águas o meu presente para Iemanjá. No som dos atabaques, o dono da minha cabeça, Ogum de Ronda, saúda o novo ano em Iorubá!
Atotô! No azul pipocam os fogos de artifícios. É... O que passou... Já foi. O que teve de ser... A flor do réveillon desfolhou. Era meu vício... Ah, como o mundo é fútil no aroma do sache!
No céu de Jauá um imenso lírio épico de verão. Eu tomo todas... O meu mundo, agora, é fictício. Bebo sim! Na moça das flores compro corações No delirium tremens dos meus goles de absinto...
De porre, os meus olhos de navegação correm mundo. Mas o que e a quem lembrar? O que teve de dar, já deu... O meu orixá joga os búzios. O ano novo é pano de fundo. É que, com a aurora no poço, o ano velho se escafedeu...
E sob minhas vestes brancas, na vertigem dos desejos, O meu coração finca os pés no chão da melodia ijexá. A lua rastafari dança e veste-se dos meus loucos beijos Fingindo os orgasmos na luz dos espelhos do ano novo!
Ai meu Deus! Com o ano novo saindo do coldre Já refletindo nos espelhos retrovisores da lua cheia. Os atabaques tocam na limpeza do espiritual da coisa E eu salto de pára-quedas do ano velho cheio de teias...
Atô tô! Na minha roupa branca o perfume de alfazemas, Para minha proteção o guia Ogum de Ronda e meu patuá. Com o ano velho no poço, mil pedidos nas minhas oferendas Nesse céu imenso de lírio azul flamejando na praia de Jauá!
Ah... Eu tô que tô! Pés nas nuvens, as horas do dia, eu as bebo: Cravinho com as estrelas e com as luas, agora, os sóis afogados Na brisa do ano novo brilham nos mares dos meus desejos...
Do velho ano eu limpo o pó dos pensamentos encadeados. Do ano novo que chega abro as velas e navego na claridade Cortando o gás dos antigos ventos medonhos e semeados...
... Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel! (Assis Valente)
Valha-nos Jesus Menino! Você vê O farol do Monte Serrat Iluminando a Bahia De todos os Santos, Ao fundo, a ilha de Itaparica Embelezando o seu recanto! Você não vê Os alagados, a maré, os casebres De tábuas sobre caibros Balançando ao léu com sua gente Tirando do lixo o sustento! Não faz parte da sua história Esse povo sem memória... Você vê A lua chegar por sobre o seu pedestal Para iluminar a sua mesa farta De produtos importados Na ceia de natal. Você não vê Crianças famintas pelas ruas, Nas sinaleiras, fora da escola Cheirando cola, não faz parte Do seu dia a dia essa escória! Você vê, revê Abraça os seus amigos Na ceia natalina Ao lado dessa gente fina Grudada em sua resina... Você não vê Crianças barrigas de lombrigas Num céu de desesperos Com estrelas hidráulicas Sustentando as pontes Que balançam aulicamente Nas asas dos ventos... Você vê Os seus filhos Saírem para a balada do natal Cheios de presentes: Roupas, tênis de marcas E coisa e tal... Você não vê O natal das crianças da maré Com tamancos rachados A espera de Papai Noel Nas janelas dependurados... Pela manhã, nenhum brinquedo, Papai Noel nunca vem, disfarça! Nenhuma boneca, nenhuma bola Mais um natal banguelo, sem enredos Isso, não lhe toca o coração, você isola... Você vê O dia amanhecer Na confraternização com trocas de presentes Tendo a mesa farta e o peru do natal, Agradece esse belo momento. Mas, não se liga em Jesus, E nos seus ensinamentos Tocando em seu coração, Então, você vira o rosto Para o seu irmão faminto Quando Ele mandou repartir o pão. Você não vê O natal nos alagados, Nascendo banguelo sobre os caibros E que pela manhã, o sol chega Olha, disfarça e sem esperança Lacrimejando se joga das pontes Submergindo nos pinicos de maré lentamente... Você vê A ficha cair, mas, não está nem aí Do seu baú de ouro Reluzindo o seu tesouro Com o mundo aos seus Pés E, Deus lhe olhando de viés! Você não vê O rumor dos seus passos Atados nos percalços Das trevas do seu coração E no sentido oposto A escória enxugando As lágrimas do seu rosto Nesse poema parodiado Do seu espelho congelado!
Você vê Apenas lê O zen astral Do seu signo Na coluna social De qualquer Jornal...
Há sempre um caminho que me leva aqui e ali Nos céus deste poema debruçado no teu olhar Tão doce que ainda sinto-o devorando a mim Da garupa de uma lua luzindo no mar de Jauá...
Minha flor, sei apenas do amor correspondido Eu te sonho enquanto a distância é desespero Guardo-te, perco-te? Altas noites por ti! Cismo Nem luas, nem teu rosto e um céu de desejos...
Tão só eu e teus terníssimos suspiros afloram, Se entregando, deixo correr as horas fugidias Noites adentro na volúpia do amor que chora, No peito, o pesar que passa em plena agonia...
Minhas palavras, flor! Tem mãos cariciosas, Na porta do coração uma enorme saudade O que me nutre: flui tudo de ti! Ó preciosa Volta, estou te esperando, à noite, à tarde...
Quero em ti o que de louco corre em mim Contigo estou de tão longe o querer vertido Sorvendo a tua seiva na lembrança sem fim Dos desejos de amor, dos ais comprimidos...
Por amor deste amor, entre o amor e teus sutis toques Manda-me notícias tuas, desse tempo, assim, sem mim E, negue-me o sorriso, os lábios. Negue-me os bosques, Negue-me auras o ar, os desejos se eu de ti me esqueci.
Eu sei que ávido, o amor, em chamas dos anseios puros Calcina-me no teu seio de fogo pousado em céu distante. Mas, ah! Penso em ti, ouço-te e no teu espelho eu surjo Toco-te a face na vigília da noite em beijos flamejantes...
Ao murmúrio do amor, o teu coração, se erguerá sem véus E na confluência dos ventos, acendo a lua, ascendo ao céu, Na glória, esculpo o tempo na aurora sob as orlas dos dias...
Mando-te uma flor, roubo-te um beijo e tudo se diz no infinito Fica no meu peito, como no amor, o teu nome sem precipícios Desta estação em que me encontro na solidão das noites frias...
Assista o vídeo! Isso é Bahia, isso é Pelô, isso é Olodum, isso é ser baiano!
Ó paí, ó!
Minha Iaiá, oi se ligue, viu? Já é Primavera/verão na Bahia Baixei todos meus Santos do altar, agora fia, o coro come! Estou um vulcão em erupção, não fique triste não, sorria Quem mandou me liberar? Agora é tarde! É tome e tome...
Aff... Nem lhe conto: da praia de Jauá até à praia da Ribeira É cada piriguete de fio dental, valha-me Senhor do Bonfim! Vai se retar? Se rete não! Eu tô comendo elas pelas beiras, Jogo duro! Que piriguetes são estas? Hummm... Todas afim!
Pinto o sete, me entrego aos braços dessas moças retadas E na ponta do Humaitá uma lua traíra me fez lembrar de ti Dou caruara e os cambaus, tremo sob esta noite aveludada Já que me és um oceano de desejos desaguando em mim...
Tô pirado fia, tô na gandaia, tô na benção do Olodum, tô no pelô Meu coração rastafári explode no bar do Reggae, teu olhar de sol Na miragem queima minha pele morena e ai eu sou todinho amor Os desejos aguçam, me consomem e sabes como fico... Ó paí, ó!
O que faço se ao meu lado tem uma moça com os seios palpitando? Fia, sempre fui desejos em tua pele escorrendo sob lençóis de flores. Ela, dona moça de negros olhos de ônix nua no leito vai se revelando, Por teu querer, sou um mar de fogo convertido no venal dos amores...
Piripicado, é na flor dos sentimentos que envio notícias minhas É que sou o Negão do Olodum na cobiça curtindo aquele som Do samba-reggae com cada negona que me valha Deus! Ah fia Elas e eu, a noite e o mar, os uis e os ais, vixe! Tudo é tão bom...
O Sibarita
BAIANÊS
Minha Iaiá – Meu amor, meu desejo. Oi, se ligue – Olhe, fique atento (a). Baixar os Santos do altar – Sair sem compromisso, sair para festas, sair para namorar. Agora Fia – Agora mulher. O coro come – Tudo acontece. É tome e tome – Fazer amor várias vezes. Piriguete – Mulher a fim de namorar, de fazer amor e nem sempre mulher da vida. Fio dental – Maiô devasso, apenas uma tira de pano. Se retar – Se zangar, se aborrecer. Comer pelas beiras – Conquistar uma mulher aos poucos para levar para a cama. Jogo duro – Sem brincadeira, a sério. Pintar o sete – Fazer tudo. Moças retadas – Mulheres danadas, mulheres que namoram muito. Ponta do Humaitá – Um dos lugares mais bonito de Salvador fica na Cidade Baixa. Lua Traíra – Lua traidora. Dar caruara e os cambaus – Ficar de perna mole, bambo e muito mais. Tô – Estou. Tô pirado – Estou doido. Tô na gandaia – Estou solto, sem compromisso, em todas as festas. Tô na benção do Olodum – Benção do Olodum festa que movimento o Pelourinho todas as terças feira o ano inteiro em que se vai muita gente para dançar samba-reggae e paquerar. Tô no Pelô – Estou no Pelourinho. Bar do Reggae – Bar do Pelourinho onde só se toca reggae e vende o famoso cravinho (bebida alcoólica feita de cravo) e a intelectualidade baiana se encontra para um papo descontraído. Ó paí, ó! - Chamar atenção, olhe aí, olhe! olhe aqui, olhe! olhe ali, olhe! Dona moça – Mulher da vida, mulher velha tirada a mocinha. Piripicado – Faça fé, acredite. Samba-reggae – Ritmo de música inventada pelo Olodum e disseminada pelo mundo. Negona – Mulher com um belo corpo e negra. Vixe! – Meu Deus!
*Vídeo referente ao filme “Ó PAÍ, Ó” da peça do mesmo nome encenada há muitos anos pelo Bando de Teatro Olodum! Música ”VEM MEU AMOR” de Pierre Onassis um dos compositores do Olodum interpretada aqui por Lázaro Ramos um dos atores nascido dentro do Bando de Teatro Olodum.