quinta-feira, julho 02, 2009

SALVE 02 DE JULHO INDEPENDÊNCIA DA BAHIA

ODE AS TRÊS MARIAS DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA

Caros leitores, a independência da Bahia foi um movimento iniciado em 1821 e terminado em 02 de julho de 1823 com a entrada triunfal do Batalhão dos Periquitos, este, sob comando do Major José Antônio da Silva Castro (futuro avô de Castro Alves) em Salvador, expulsando as tropas Portuguesas comandada pelo General Madeira.

Este movimento foi motivado pelo sentimento federalista emancipador do povo baiano que a apesar de D. Pedro I ter libertado o Brasil, as tropas portuguesas comandada pelo General Madeira sediadas na Bahia não aceitaram, mantendo a Bahia como colônia portuguesa para a partir daqui destituir D. Pedro I e retornar o Brasil ao poder da corte Portuguesa.

Por isso, 02 de julho, é a data mais importante da Bahia sendo comemorada com cortejo cívico e parada militar. É como se fosse 07 de setembro. E as grandes lembradas e homenageadas são as três Marias, sim, elas foram os destaques na expulsão dos portugueses da Bahia e na consolidação da independência do Brasil.

Embora, o texto seja um pouco grande espero que todos leiam. VALE A PENA LER!

Ao final deixo a poesia Ode Ao dous de julho de Castro Alves em homenagem aos heróis da independência e em especial ao seu avô o major José Antonio da Silva Castro.

As Marias: Maria Felipa, Sóror Maria Angélica e Maria Quitéria aqui falo um pouco de cada uma dessas heroínas brasileiras, um exemplo para mulheres e homens do Brasil.


MARIA FELIPA

MARIA FELIPA DE OLIVEIRA, nossa heroína da ilha de Itaparica.


Lendária por ter defendido a independência da Bahia no século XIX, liderando 40 mulheres que queimaram 42 barcos invasores portugueses na costa da Ilha de Itaparica, a marisqueira Maria Felipa é pouco lembrada pela história oficial do país. Quando a ilha foi assaltada pelos portugueses, em 10 de junho de 1822, Maria Felipa morava na antiga Rua da Gameleira, na povoação de Ponta das Baleias. Assim que foi organizada a resistência, ela se apresentou como voluntária e atuou tanto como guerreira, liderando os combates, quanto como enfermeira, socorrendo os feridos em plena luta.

Exímia capoeirista, ela costumava remar sua canoa de Itaparica até o Cais Dourado, em Salvador, para jogar capoeira de Angola com os lutadores da cidade, aproveitando para colher informações sobre as manobras dos portugueses na capital, com o objetivo de reforçar as estratégias da resistência. Era também espiã de guerra, enganando a vigilância portuguesa. Há quem afirme que Maria Felipa seja a lendária capoeirista Maria Doze Homens, que inspirou Jorge Amado na criação da personagem Rosa Palmeirão, do romance Mar Morto.

Maria Felipa de Oliveira, é descrita em diversas situações como a “crioula estabanada, alta e corpulenta, que usava torço e e saia rodada”. Sob o seu comando, 40 mulheres fingiram a intenção de seduzir soldados portugueses que vigiavam embarcações do General Madeira de Melo e lhes pespegam uma histórica surra de cansanção, e, enquanto estes se contorciam com uma mistura de coceira e dor insuportável, atearam fogo às embarcações, fato que foi significativo nos planos de ataque a Itaparica, ilha que serviria de base no domínio da Baia de Todos os Santos e de Salvador.

Histórias como a de Maria Felipa, resistem como atos de bravura, juntamente a outros heróis e heroínas negras que foram esquecidas ao longo da história da Bahia, contada por historiadores brancos.

Não foi preciso nenhum disfarce para lutar pela independência de seu povo. Foi vestida de si mesma, armada de palavras duras, um exército de mulheres e galhos de cansanção que a lendária Maria Felipa enfrentou os portugueses no século XIX. Era um desaforo ignorar a resistência dos pescadores e marisqueiras da Ilha de Itaparica aos ataques de Madeira de Melo. A heroína negra, esquecida pela história oficial, fez jus à bravura das massas rebeladas. Hoje, 180 anos depois, virou personagem lendária, venerada na região. Nada mais justo para quem desafiou os lusitanos e mostrou que a vitória pela guerra da Independência da Bahia não pertencia apenas ao exército comandado por Labatut.

SÓROR MARIA ANGÉLICA

SÓROR MARIA ANGÉLICA A Mártir da independência da Bahia.

“Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver”. Sóror Maria Angélica

Ataque à "Casa de Deus"

Sólida construção colonial, ainda hoje existente em Salvador, o Convento da Lapa que virou Universidade Católica da Bahia, compõe-se de uma clausura, cuja principal entrada é guarnecida por um portão de ferro.

Os gritos da soldadesca são ouvidos no interior. Imediatamente a Abadessa, pressentindo certamente objetivos da profanação da castidade de suas internas, ordena que as monjas fujam pelo quintal.

O portão é derrubado e, num gesto heróico, Joana Angélica abre a segunda porta, postando-se como último empeço à inusitada invasão, então, exclamou:

"Para trás, bandidos. Respeitem a Casa de Deus. Recuai, só penetrareis nesta Casa passando por sobre o meu cadáver."

Joana Angélica, Abrindo os braços, num gesto comovente, tenta impedir que os invasores passem. É, então, assassinada a golpes de baioneta - penetrando no sagrado recinto, onde encontram apenas o velho capelão, Padre Daniel da Silva Lisboa - a quem espancam a golpes de coronhas, deixando-o como morto.

Joana Angélica tornou-se, assim, a primeira mártir da grande luta que continuaria, até a definitiva libertação da Bahia, no ano seguinte, a 2 de julho, data efetiva da Independência da Bahia.

O SOLDADO MEDEIROS

Maria Quitéria que mesmo na sua condição de mulher nascida na Cidade de Feira de Santana, mas, morando na Cidade de Cachoeira (onde, começou a batalha) não se furtou em lutar pela independência da sua Bahia e Brasil. Ela desobedecendo às ordens do pai, pegou os documentos do cunhado, cortou os cabelos, vestiu as suas roupas e se alistou no Batalhão dos Periquitos (Comandado pelo futuro avô de castro Alves) como o Soldado Medeiros. Na maioria dos quartéis do Exército Brasileiro tem a sua estátua como símbolo de mulher destemida.

O Governo da Província dera-lhe o direito de portar espada. Na condição de cadete, Quitéria envergava original farda azul com saiote por ela própria modelada, além de vistoso capacete com penacho. Assim ataviada, entrou em Salvador, com as forças do 02 de Julho, finda a guerra oferecida às tropas do General Madeira.

Maria Quitéria é a maior heroína brasileira de todos os tempos, sendo, patrona do Exército Brasileiro pela sua bravura, foi recebida pessoalmente no Rio de Janeiro por D. Pedro I para ser condecorada e lá estava toda a corte que a aplaudiu de pé! Humilde pediu ao Imperador para escrever uma carta ao pai dela para que a perdoasse por ter-lo desobedecido ao fugir de casa para se alistar, o Imperador a atendeu imediatamente.

Ela volta a Salvador, onde, é recebida também com honras militares depois vai para reserva do Exército Brasileiro como Oficial Superior, se casa e tem uma filha, morre em 1853 aqui em Salvador aos 61 anos, esquecida, pobre e cega.

Maria Quitéria foi uma mulher à frente do seu tempo, aqui coloco trechos do seu diário pouco conhecido para que os senhores leitores e em especial as leitoras sentirem quem foi essa brava mulher. Sobre os seus feitos deixarei links para quem quiser se aprofundar mais.

O DIÁRIO DO SOLDADO MEDEIROS

EU GOSTARIA DE ENTRAR NUA NO RIO...

Eu gostaria de entrar nua no rio, caso estivesse no sítio do meu pai. Mas estou aqui entre homens, somos todos soldados, e o banho no Paraguaçu é forçado. Os portugueses de uma canhoneira bombardearam Cachoeira, então um bando de Periquitos, e entre eles eu e mais cinco ou seis mulheres, entramos no rio, de culote, bota e perneira, dólmen abotoado e baioneta calada.

Queríamos que os agressores desembarcassem para o combate em água rasa da margem. E eles vieram, aos brados. Traziam armas brancas. Alguns as mordiam com os dentes. O encontro deu-se num banco de areia, com água pela cintura. Senti quando a água fria subiu pelas pernas, abraçou as coxas e espalhou-se pelas virilhas. Um toque frio, desagradável. Com o calor da luta, tornou-se morno. E houve um instante em que eu tinha água pelos seios. Senti que os mamilos se enrijeciam sob a túnica. Pensei outra vez no sítio, na rede em que costumava embalar-me. Ali tudo era cálido, os panos convidavam ao sono. Aqui, luta-se pela vida, pela nossa Cachoeira, pela Pátria.

Mas uma voz secreta me sopra que também luto por mim. Estou guerreando, sim, para libertar Maria Quitéria de Jesus Medeiros da tirania paterna, dos sofridos afazeres domésticos, da vida insossa. Ah, eu combato, com água no nível dos peitos, pela libertação da Mulher, pela nova Mulher que haverá de surgir. Minha baioneta rasga o ventre de um português que não quer reconhecer a Independência do Brasil gritada, lá no Sul, pelo Imperador D. Pedro.

AH, EU MORRO DE VERGONHA!

Nunca pensei em pisar num palácio. Quitéria, eu disse a mim mesma, foste criada para andar de pés nus e cabelos ao vento. Quitéria, és uma tabaroa. E no entanto, o que fizeram de mim? Ou melhor, o que a vida fez de mim? Nunca pensei que, ao pegar em armas, ao entrar naquela guerra do Recôncavo, eu acabaria aqui, hoje, nesta recepção palaciana. O Imperador vai entrar.

É ele, é ele. Altaneiro no porte, com aquelas dragonas douradas, o dólmen justo salientando o peito, a barba negra. A gente conhece logo um Imperador pela barba e, também, pelo jeito direto e franco de olhar. Um olhar sem medo, um olhar dentro dos olhos-olhar de quem tudo ousa, de quem sabe que tudo pode. Cavalheiro distinto, garboso e galante, o Imperador. Irritou-se com as exigências de seus compatriotas, reunidos num conselho chamado Cortes, e, a cavalo, soltou o grito.

Foi fácil, aqui no Rio de Janeiro e em São Paulo, porque havia um José Bonifácio, havia outros antigos conspiradores em prol da Independência. Pois D. João VI não havia previsto, não havia aconselhado: “Pedro, algum dia o Brasil se separará de Portugal. Se assim for, põe a coroa sobre tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”.

Entra o Imperador no salão espelhante, cheio de cadeiras e canapés forrados de veludo verde e vermelho. Um luxo. Faianças, cristais, candelabros, pesados reposteiros. Deve ser bom viver aqui nestes luxos, mas prefiro os meus matos, os campos rasos da minha terra. Estou atordoada, com uma zoeira nos ouvidos, mal entendo o que diz em discurso o nosso comandante. Ouço palavras soltas: “heroína”, “mulher valente”, “amor à Pátria nascente”.

“Agüenta, Quitéria”, eu digo aos botões da minha túnica. “Tu não és soldado, mulher?” Abro os olhos, o Imperador está diante de mim, curva-se e sorri. Tenho vontade de passar a mão naquela barba negra que parece seda. Mas a minha palma é calosa, com certeza o Imperador retrocederá assustado — e me prendem. Fecho de novo os olhos. O Imperador me condecora, um sujeito de roupa espalhafatosa lê um papel em que me concedem um soldo para o resto dos meus dias.

A Pátria agradece, mas, francamente, eu não pensava em recompensas. Os dedos do Imperador D. Pedro tocam-me a gola, roçam-me o busto. Ah, eu morro de vergonha. Quem diria que eu, Quitéria, donzela criada quase solta pelos campos, com os animais, seria alvo de tantos olhares neste palácio do Campo de São Cristóvão? As damas de saia arrastando no chão só faltam me comer com os olhos. Tenho o rosto em fogo, as orelhas ardem. Será que vou dar chilique em público?”

Imperador me põe a condecoração. Tremo toda. Ele entende o que se passa comigo e sorri.
- Parabéns. A senhora é uma heroína. A Pátria lhe será eterna devedora.
- Cumpri apenas meu dever de brasileira - consigo balbuciar em resposta.
O Imperador curva-se e vai retroceder. Faço-lhe um gesto. O homem poderoso se detém.
- Posso ser-lhe útil em algo mais, senhora?
- Quero pedir-lhe um obséquio, um grande obséquio...
- Queira dizer-m’o.
- Quero que o senhor peça perdão, por mim, ao meu velho pai.
- E por que motivo? - indaga o Imperador.
- Porque fui-lhe desobediente, fugi de casa para entrar na guerra - eu lhe digo, toda ruborizada.
O Imperador sorri de leve.
- Está perdoada. Farei o senhor seu pai sabedor do meu perdão.
O Imperador levanta a mão sobre a minha pessoa, em sinal de bênção.
______
(*) Hélio Pólvora, escritor brasileiro, é autor do recente livro A Guerra dos Foguetões Machos, lançado em Portugal pela Orabem Editora.

Ode Ao dous de julho

Antonio de Castro Alves

Recitada no Teatro de São Paulo)

Era no Dous de Julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito ...
O mundo perguntava erguendo um grito:
"Qual dos gigantes morto rolará?! ...

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado...
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado...
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! ...

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras - corno águias eriçadas —
"Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz...
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava...
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!...

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito...
Um trapo de bandeira — n'amplidão!...

(S. Paulo, junho de 1868)

Links para saber mais de Maria Quitéria:

http://www.vidaslusofonas.pt/maria_quiteria.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Quit%C3%A9ria

http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_910.html

ZéCorró



6 comentários:

Anônimo disse...

LH
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Denise disse...

Comentando o comentário...

Oh meu reiiiiiiiiii
ZéCorró(substituto do Sibarita)
Esse trem bão de óleo de dendeeeee ia estragar minha saladinha light.

prometo preparar outra receita ok...e deixar escorrer tudinho ooooo xennti que vai ser tudibom

(sou melhor no mineires que no bahianes rs)

beijos e um cheiro

De

ah muito agradecida por ir ler-me

Deusa Odoyá disse...

Olá meu Zé Corózinho.
Olha uma bela postagem !
Uma aula de historia de grande valor e méritos dessas grandes mulhres guerreiras e vitoriosas.
E viva a Independência da Bhia.
Corózinho aonde vc. foi buscar esses documentários, o Siba te ajudou?
Vc. meu lindo como jornalista e historiador, mereces nota millllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll

Beijinhos meu lindo.
Uma postagem de grande valor histórico.
Uma semana de muita paz, amor e luz.
beijinhos de saúde em painho, beijinhos doces para vc. e beijão e saudades em Nelson.
Sua amiguinha.

Regina Coeli.

Uma aprendiz disse...

Parabéns, Corró

você é um ótimo jornalista. Sou sua fã. kkkkkkkkkk

Que aula, hein, moço?

Essas mulheres foram brilhantes e tenho certeza que as atuais também são. Só posso dizer: PARABÉNS BAHIA DE TODAS AS MARIAS.

Mulheres guerreiras e os homens na rede, é Corró??? kkkkkkkkkkk

um beijo grande e um ótimo final de semana

bat_thrash disse...

Que aula!

Viva à Bahia e ao Senhor do Bomfim.

Maria disse...

Sodade, sodade, sodade
De Salvador da Bahia!
Este post é História pura, Sibarita!
Revi os dias passados aí no ano passado, nesta mesma altura, e foi bom demais!

Beijos