segunda-feira, novembro 19, 2012

20 DE NOVEMBRO, CONSCIÊNCIA NEGRA


 
Ouçam a música de Edson Gomes "Capturados" A letra, bom a letra demais!
Desliguem a rádio Humaitá ao lado.
 
Zé Lalado
 
Caro leitor, neste 20 de novembro se comemora a morte de ZUMBI DOS PALAMARES e o dia da CONSCIÊNCIA NEGRA em sua homenagem. Espero que leia todo o texto que é de suma importância sobre Zumbi, o Reino de Daomé (Hoje, República do Benin) de onde vieram à maioria dos escravos para a Bahia dos quais somos descendentes diretos.  Tem também a poesia Daomé (Escravos). Tomara que goste, boa leitura e reflexão!

Zumbi foi o último dos líderes do Quilombo dos Palmares de 1655 a 20 de novembro de 1695. A palavra Zumbi, ou Zambi, vem do africano quibundo "nzumbi", e significa, "duende". No Brasil, Zumbi significa fantasma, segundo a crença popular afro-brasileira, vagueia pelas casas a altas horas da noite.
O Quilombo dos Palmares (localizado na atual região de União dos Palmares, Estado de Alagoas) era uma comunidade autossustentável, um reino (ou república na visão de alguns) formado por escravos negros que haviam escapado das fazendas, prisões e senzalas brasileiras. Ele ocupava uma área próxima ao tamanho de Portugal e situava-se onde era o interior da Bahia, hoje estado de Alagoas. Naquele momento sua população alcançava por volta de trinta mil pessoas.

N.R. - Na realidade, Zumbi nasceu no interior do Estado da Bahia ao qual Palmares pertencia. O Estado de Alagoas não existia, o território baiano era imenso fazia divisa com os Estado do Maranhão e de Pernambuco. Muitos anos depois é que nasceram os Estados de Sergipe e Alagoas com a divisão do território baiano.

Zumbi nasceu em Palmares, Bahia, hoje, Alagoas, livre, no ano de 1655, mas foi capturado e entregue a um missionário português quando tinha aproximadamente seis anos. Batizado 'Francisco', Zumbi recebeu os sacramentos, aprendeu português e latim, e ajudava diariamente na celebração da missa. Apesar destas tentativas de aculturá-lo, Zumbi escapou em 1670 e, com quinze anos, retornou ao seu local de origem. Zumbi se tornou conhecido pela sua destreza e astúcia na luta e já era um estrategista militar respeitável quando chegou aos vinte e poucos anos.
 
Por volta de 1678, o governador da Capitania de Pernambuco cansado do longo conflito com o Quilombo de Palmares se aproximou do líder de Palmares, Ganga Zumba, com uma oferta de paz. Foi oferecida a liberdade para todos os escravos fugidos se o quilombo se submetesse à autoridade da Coroa Portuguesa; a proposta foi aceita, mas Zumbi  rejeitou a proposta governador e desafiou a liderança de Ganga Zumba prometendo continuar a resistência contra a opressão portuguesa, Zumbi tornou-se o novo líder do quilombo de Palmares.

Quinze anos após Zumbi ter assumido a liderança, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho foi chamado para organizar a invasão do quilombo. Em 6 de fevereiro de 1694 a capital de Palmares foi destruída e Zumbi ferido. Apesar de ter sobrevivido, foi traído por Antônio Soares, e surpreendido pelo capitão Furtado de Mendonça em seu reduto (talvez a Serra Dois Irmãos). Apunhalado, resiste, mas é morto com 20 guerreiros quase dois anos após a batalha, em 20 de novembro de 1695. Teve a cabeça cortada, salgada e levada ao governador Melo e Castro. Em Recife, a cabeça foi exposta em praça pública, visando desmentir a crença da população sobre a lenda da imortalidade de Zumbi.



 *Daomé (Escravos)

Rota de tráficos, Daomé capturada, circo dos temores.
Nos céus de bronze, oceano de trevas e povo inocente  
Chicoteado em  navios negreiros o palco dos horrores,
Enquanto, senhores e açoites se olham secretamente...
 
Pelos oceanos navegando a miséria, a tempestade!
O navio negreiro, no seu porão, o povo de Daomé.
Penumbra, fome, dor nas chibatadas da crueldade,
Ranger de dentes, capturados acorrentados aos pés...

A manopla dos dias pesa nos teus corpos, desgraça!
Sonhos se desfazem sob o céu de temor e tremores,
O sol da tua pátria na distância do cativeiro refrata,
Chicoteia o lombo dos escravos, céus dos horrores...
 
Oh, vidas ceifadas, como se ultraja assim o firmamento,
Onde estão os anjos? A cor dos céus é negra ou branca?
Maldição! Nas senzalas, entoam-se os cantos de lamento,
O amanhecer veste-se de sangue, o vil chicote espanca!

Na amplidão do horizonte o tinir dos ferros  destrata,
O sangue jorra, banha o sol de vermelho sobre o sal.
Estalam os açoites, negros arquejam, roda a chibata,
O horror cobiça teus corpos, a morte te faz o funeral!

No palor, a lua espia a peleja do incerto em céus varonil
Ruge a desgraça, o povo de Daomé geme na escravidão!
Os escravizados forçados a trabalhar neste imenso Brasil
O chicote no ar, o chicote a sangrar pelo bem da nação...

Na indigência de um povo escravo não há o que resumir
Sim, somos nós, filhos dos desgraçados, dos capturados,
Ó tempo! Mas, não temos desonra em admitir e assumir
Em cada pedra do Pelourinho está o sangue derramado...

 Descorados sóis, véus das dores,  a história não condiz,
A aflição, a exploração de um povo roubado, macerado.
Por toda desgraça  aos teus filhos são negados a ser feliz,
Somos nós os encarcerados, os castrados, os favelados...
 
Descem dos dias onde a desventura sibila nos morros!
Jogados nas calçadas, nas favelas de primaveras toscas,
Nos buracos sem que ouçam os nossos gritos de socorro,
E sobre as nossas covas, luas de milênios, frígidas, ocas...
 
Pálidos guerreiros nas escuras profundezas do abismo
Estremecem-se nos horizontes dos céus reverberados,
Choram nos ferros gusa por teus descendentes nascidos
Sob a lei do ventre livre. Na saga, jazemos escravizados...

Por isso não temos vez e sempre estamos nas cozinhas
No papel menor, no papel pior, servidão que nos corrói,
Degenera a nossa sina na pele negra de Joãos e Marias,
A chibata estalando, a chibata sangrando até hoje dói...

Ó, auriverde pendão do meu Brasil, ruge no teu estandarte
A saga, onde, crianças negras são aprendizes de marginal.
Aos ferros embate de um potente povo sempre em descarte,
Deus, Deus! Onde estás? Nos liberta deste cativeiro mental...
 
O Sibarita


 
O povo de Daomé
 
 
DAOMÉ

Daomé – Nação Africana, hoje República do Benin, a maioria dos escravos vieram para a Bahia, nós baianos somos descendentes direto desse povo, ou seja, temos um pé na África, muitos de ainda tem parentes por lá e existe intercâmbio entre a Bahia e o Benin.

Aqui em Salvador existe a Casa de Benin localizado no Pelourinho para visitação, e em Porto Novo capital do Benin tem a casa da Bahia. Em ambas as casas são mantidos e expostos todos os laços que nos unem. Foram desses escravos que nós os seus descendentes herdamos a culinária magistral a base do dendê. O acarajé, o abará, a moqueca, a cocada e por ai vai... tão presentes no nosso dia a dia tem sua origem no antigo Reinado de Daomé .

Herdamos também a sua cultura, como a capoeira, a dança, a música e o seu jeito de falar e ver as coisas. Ressaltemos também que a Bahia é o estado mais negro do Brasil e o que tem mais negros fora da África.
 
O Dahomey (Daomé em português) reino africano, hoje, República do Benin. O reino foi fundado no século XVII durou até o século XIX, quando foi conquistado com tropas senegalesas pela França e incorporado às colônias francesas da África Ocidental.
 
O seu apogeu econômico ocorreu no início do século XIX com a exportação de grande quantidade de escravos para o Brasil e Cuba, o seu litoral era conhecido como Costa dos Escravos. Pasmem, um dos mais famosos traficantes de escravos nesta época foi o brasileiro Francisco Félix de Souza, o Chachá de Uidá.
Daomé torna-se em 01/08/1960, formal e totalmente independente da França.
Pelourinho – Local em Salvador onde os negros eram barbarizados, chicoteados, hoje, bairro de resistência ao racismo.

O Sibarita




9 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Siba histórias do nosso povo, de um passado triste e lamentável. Um poema cheio de verdade, de uma página que nos envergonha.
Belo post, Siba!
Boa semana! Beijos

Anajá Schmitz disse...

Vamos comemorar e agradecer pela bela cultura que os negros deram ao mundo. Os mal tratos todos de alguma forma vivemos, mas temos que lembrar das coisas boas. A alegria, a comida e a musica entre todo as maravilhas deixadas para nos me enche de orgulho deste povo que é meu povo também.
Obrigada pela lembrança de meu aniversário.
Tenha um dia maravilhosos.

Bandys disse...

Seu Siba,
Voce como poeta dá um excelente professor e vice versa.
Aprendi bastante e fico comovida com o que vc conta. Sua poesia é pura. Pura verdade do que o homem fazia com o homem.

Deus, Deus! Onde estás? Nos liberta deste cativeiro mental...

Só mesmo deus para libertar.

Gostei muito.

Beijos
ps: tu ta querendo mãos e bocas, kkkkkkkkkkkk, tome juízo homi!!

Anónimo disse...

Olá, Siba!

Como vai?

Ler toda a sua postagem, com a atenção que ela nos merece, não deixa escrever kkkkkk, retado, etc. e tal, embora até seja "linguagem local".
Por vezes, também, me parece que usa essa forma de linguagem para aliviar ou disfarçar estados de alma, que precisava exteriorizar.

Falamos a sério e de um assunto sério.

É a História, que nos conta esses acontecimentos, nem sempre agradáveis para a Huumanidade, mas que foram reais.

Tudo se passou no século XVII e foi quase até ao´XX.

Zumbi foi um herói. Muitas pessoas da Baía desconhecem suas origens, que são africanas.

Significativo o poema sobre escravatura, mas ela foi real, existiu.

Um dia, Deus, separará as águas, porque só Ele conhece os corações.

Saudações.

Vivian Loreti disse...

Um ótimo post. O nosso passado. Histórias incríveis, diria.
E belo poema, o seu :)

Lúcia Laborda disse...

Siba; tive uma tia e madrinha que era filha de meu avô, com uma escrava, (vó Lúcia) e daí o meu nome, em homenagem a ela. Mas depois que ela pariu, foi alforriada pelo meu bisavô. E quando meu avô casou com minha vó, ela continuou na mesma casa, porém, já não tinham mais nada e ela apenas ajudava minha vó. E foi quem ajudou minha mãe também, quando éramos pequenos, em Sto. Amaro. E era tanto carinho que chamávamos de vó.
Mas nem todas as histórias tiveram esse fim, e sabemos bem disso.
Beijos

O Sibarita disse...

Á Leitora Luz, por ela não ser brasileira, diz: "... Muitas pessoas da Baía desconhecem suas origens, que são africanas."

Então, nos cabe esclarecer, embora eu saiba que não foi por maldade e sim por falta de conhecimento já que nunca conviveu no Brasil.

Ao contrário do que escreveu, nós baianos sabemos perfeitamente das nossas origens.

Somos afrodecendentes da mãe África e principalmente do Reino de Daomé (hoje repúbllica do Benin) de onde vieram a maioria absoluta dos escravos para a Bahia. Na própria postagem está claro isso.

A Bahia é negra! E como tal, somos assumidos quer na cor da pele, na culinária, na dança, na música, no teatro, no vestir, no andar, na graça, enfim, em tudo, inclusive, na cultura.

O Povo baiano é negro com um pé na África. Aqui, ou se é negro ou se é branco! Óbvio, quase 90% da população é negra, ou seja, fora da África a maioria dos negros estão na Bahia e temos muito orgulho!

Sabemos sim e com certeza das nossas raizes e a reverenciamos sempre, não por acaso, o dia da Consciência Negra nasceu na Bahia e tomou todo Brasil.

Este esclarecimento não tem o intuito de gerar polemica, mesmo porque, o que foi comentado pela Luz não tem o cunho maldoso e sim de desconhecimento mesmo.

O Sibarita

Anónimo disse...

Boa tarde, Siba!

Como vai?
Pensava que, uma boa maioria das pessoas da Bahia, desconheciam suas origens, daí a minha afirmação, e desde peço as minhas desculpas.

Feliz dia!

Uma aprendiz disse...

Eita, Siba

Todo ano cria-se uma polemica sobre este tema. Desapega, homi!

Minha porção "neguinha" (porque faço questão de ser, muito embora haja controversias) agradece pelo post. Sempre tão instrutivo.

Minha porção mulher esta satisfeitíssima agarrada ao meu "neguinho". rsrsrsrsrsr

E tem coisa melhor?
Deixo a luta para os que entendem do assunto. Quero mesmo é "vadiar" e tocar o barco pra Lapinha. rsrsrsrs

beijos, meu segundo negro favorito

P.S.: e não me venha com replicas, hein? rsrsrsrsrsr