A MÃE DO ANO
Mãe Stella de Oxóssi
Eleita Imortal Academia de Letras da Bahia
cadeira 33 patrono Castro Alves.
FELIZ DIA DAS MÃES!
Caras(os) leitoras(es), neste domingo dia das mães nossas HOMENAGENS à
todas as MÃES! E nada melhor do que falar da MÃE STELLA DE OXÓSSI. Espero que
todos leiam, degustem tudo, independente
de religiões ou dogmas. O Importante é saber quem é Mãe Stella de Oxóssi, negra,
mãe de santo e cidadã do mundo! Aqueles que lerem tudo com certeza sairão abastecido e enriquecido culturalmente.
Mãe Stella de Oxóssi é uma mulher à frente do seu tempo, Ialorixá do
Terreiro Ilê Axé Opó Afonjá um dos mais famosos e frequentados da Bahia, Enfermeira formada pela UFBA -Universidade
Federal da Bahia (trabalhou mais de trinta anos na profissão), escritora com seis
livros lançados, Colunista do Jornal “A Tarde” (maior jornal do norte e
nordeste brasileiro), Doutora Honoris
Causa por duas Universidades: UNEB - Universidade do Estado da Bahia e UFBA - Universidade
Federal da Bahia, ganhadora do prêmio jornalístico Estadão, eleita há poucos
dias como a mais nova Imortal da Academia de Letras da Bahia para ocupar a
cadeira de número 33, patrono, Castro Alves, também detém diversos títulos
conquistados aqui e fora do Brasil, é uma cidadã do mundo.
Eu, nascido em Salvador/Bahia e criado em meio ao Candomblé, (Na Bahia é
assim, o sincretismo religioso nos leva também aos terreiros de Candomblés,
como já disse magistralmente Gilberto Gil “Toda(o) menina(o) baiana(o) tem um Santo que
Deus dá”.) embora, eu seja Espírita Kardecista de longos anos respeito e louvo
o povo de Santo, mesmo porque a nossa matriz está na África.
Okê arô!
Saravá Mãe Stella!
O Sibarita
A essência divina de Mãe Stella é a de um caçador.
Silenciosamente e pacientemente ela caça na floresta da vida o que é necessário
para manter a religião que lhe foi confiada sem permitir que a essência dela
seja perdida ou até mesmo desvirtuada. Tudo isso sem deixar de acompanhar as
permanentes, intensas e profundas mudanças que vem acontecendo no mundo.
A religião dos Orixás, conhecida no Brasil como
Candomblé, tem uma origem muito antiga. A transmissão do conhecimento através
da tradição oral sempre foi e continua sendo o melhor mecanismo da transmissão
não apenas de conhecimento, mas também de axé (a força espiritual que os velhos
sacerdotes transmitem para os mais novos). Entretanto, a aquisição da escrita é
um grande ganho da humanidade que não pode e não deve nunca ser negada. Apesar
de Mãe Stella dizer e vivenciar sabiamente a frase meu tempo é agora, sua visão
vanguardista não deixou de enxergar a necessidade de usar essas duas formas de
transmissão do conhecimento: a oral e a escrita. Um dia Mãe Stella disse: “O
que não se registra o tempo leva”. Desse dia em diante, ela começou a escrever
livros. E não parou mais. São seis os livros já escritos e editados:
- E daí aconteceu o encanto (Edição esgotada).
- Meu Tempo
é Agora - livro com tema específico que é bastante procurado por seguidores ou
interessados pela Religião dos Orixás.
- Oxossi, o
Caçador de Alegrias – livro esclarecedor sobre a divindade yorubá que
tem como função ser o provedor da família.
- Owé /
Provérbios – ter este livro, pequeno em tamanho porém grande
em sabedoria, é como estar acompanhado de grandes mestres a orientar o caminhar
pela vida, de modo que cada um possa cumprir seu destino, da maneira mais amena
possível. Ele é o presente ideal para ser oferecido a quem se deseja uma feliz
travessia na jornada terrestre.
- Epé Laiyé – livro
infanto-juvenil, com belíssimas fotografias, que estimula a juventude a cuidar
do meio ambiente.
- Opinião – coletânea
de artigos sobre os mais diferenciados temas da vida cotidiana, onde a beleza
das gravuras enriquece a simplicidade profunda dos textos.
Sempre com o espírito moderno e visando um melhor
entendimento da religião que professa, Mãe Stella não se negou ao pedido de
seus filhos quando estes lhe propuseram colocar seus livros em um site para que
pudessem ser adquiridos por pessoas que não tem a oportunidade de estar na
Bahia e vir ao Ilê Axé Opô Afonjá. Foram estas as palavras de Mãe Stella: “Usar
a tecnologia moderna para ampliar o conhecimento e, consequentemente, diminuir
qualquer tipo de preconceito é sempre bom. Mas nunca mais me peçam para comprar
uma máquina de cortar quiabos, pois este ato é fundamental para exercitar uma
atitude que é indispensável para um sacerdote – a concentração”.
A idade avançada de Mãe Stella, nascida em 02 de
maio de 1925, não permite que suas pernas tenham a força de antes, mas os
Orixás lhe deram a graça de manter uma mente em plena atividade. É assim que
dois novos livros já estão completamente prontos para serem editados, e vários
outros germinam em sua cabeça que foi abençoada pelos Orixás desde os seus
quatorze anos de idade, quando foi iniciada.
Mãe Stella de Azevedo dos Santos, a Mãe Stella de
Oxóssi, nasceu no dia 2 de maio de 1925, em Salvador, Bahia. É a quarta filha
de Esmeraldo Antigno dos Santos e Thomázia de Azevedo Santos. Formada em
enfermagem pela Escola de Enfermagem e Saúde Pública da Universidade Federal da
Bahia, Stella exerceu a profissão durante trinta anos.
Foi iniciada no candomblé por Mãe Senhora, em
setembro de 1939, quando tinha apenas catorze anos, recebendo o orukó (nome) de
Odé Kayodê. Mãe Senhora foi a mãe religiosa de Mãe Stella e esta lhe acompanhou
durante décadas, na terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, até 1967, ano da morte da
Ialorixá. Ondina Valéria Pimentel (Mãezinha) assumiu, então, o Opô Afonjá e, um
ano após sua morte, em 1976, Mãe Stella foi escolhida por Xangô e pelos búzios
para ser a Ialorixá do terreiro de São Gonçalo do Retiro.
Mãe Stella viajou diversas vezes para a África,
visando aprofundar os conhecimentos sobre a cultura iorubá (que é, basicamente,
oral), e conseguiu transformá-la em uma herança escrita. Isto possibilitou uma
maior divulgação dos cultos africanos e da religião dos orixás, em todo o país.
Mãe Stella é colunista do jornal A Tarde e autora de livros como “Meu tempo é
agora”, “Òsósi – O Caçador de Alegrias” e “Epé Laiyé- terra viva”. Em 2009,
recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia
(Uneb). Foi a primeira Ialorixá a escrever livros e artigos sobre sua religião.
No último dia 24 de abril, a Ialorixá do Ilê Axé
Opó Afonjá passou a ocupar a cadeira de número 33 da Academia de Letras da
Bahia, antes ocupada pelo historiador Ubiratan Castro, que morreu em janeiro.
Em 19 de março de 1976, foi
escolhida para ser a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opó Afonjá, conforme consta no
livro de atas do conselho religioso do próprio terreiro, a seguir:
Transcrição da ata registrada no
dia 19 de março de 1976 do livro de Atas do Conselho Religioso:
Aos dezenove dias do mês de março
de 1976 (hum mil novecentos e setenta e seis), presentes 136 pessoas, todas com
suas assinaturas gravadas no livro de Atas do Conselho Religioso deste Axé, às
10 horas e 45 minutos, no Barracão, eu, Fernando José Pacheco Vasquez,
Secretário da Sociedade Civil (Obá Xorun), dirigi-me a todos os presentes,
solicitando que se aproximassem da mesa onde seria realizado o jogo para a
escolha da futura Iyalorixá, uma vez que antes do jogo ser iniciado, o
professor Agenor Miranda, Babalaô, considerado o único Oluô no Brasil, filho
espiritual da falecida Eugênia Anna dos Santos (Mãe Aninha), irmão da também
falecida Ondina Valéria Pimentel, vindo do Rio de Janeiro exclusivamente para
esta cerimônia, irá fazer uma dissertação do que acontecerá em seguida. Com a
segurança que lhe é peculiar, e a franqueza de sempre, ele se dirigiu aos
presentes nos seguintes termos: "Não estou aqui para ser agradável a quem
quer que seja, sei que muitos dos presentes já fizeram sua escolha, porém eu
estou aqui para cumprir a determinação de Xangô, e advirto a todos os filhos e
filhas, Obás e Ogãs, e a todos vinculados a este Axé, que vontade de Xangô é
Lei, é sagrada, e sua escolha, sobre quem quer que caia, terá de ser por todos
acatada e respeitada, e a filha deste Axé que for por ele escolhida não deverá
se deixar levar pelo coração, e deverá, sim, agir com justiça e sabedoria,
promovendo a união de todos, e acima de tudo ter pulso forte para manter a
hierarquia, doa em quem doer". A hierarquia, ele repetia que tinha de ser
mantida acima de tudo. Sentou-se em seguida para dar início ao jogo. Ao seu
lado direito estava sentada Eutrópia de Castro (Iyakêkêrê), aos eu lado
esquerdo o Assobá Deoscóredes dos Santos, e em volta destes, representações do
Engenho Velho, Gantois, Bate-Folha, e de diversas outras Casas da Bahia e do
Rio de Janeiro, e ainda os membros do Conselho Religioso. O Professor Agenor
Miranda segurou os búzios e concentrou-se. Todos os presentes conservaram um
silêncio absoluto, atentos ao professor. Ele deu início à leitura, e falou
EJIONILÊ, recolheu os búzios e, após uma pausa, jogou-os novamente e falou ODI,
e novamente usados os búzios falou OXÉ, em seguida OSSÁ, após nova concentração
usou novamente os búzios e falou EJILASEBORÁ, apresentando Oxossi, em seguida
falou ÔFUN trazendo ORUKÓ de ODÉ KAIODÊ; novamente o professor usou os búzios e
voltaram OSSÁ e OXÊ, os Odus de Odé Kayodê, filha do Axé a quem Xangô escolhia
e determinava ser a nova Iyalorixá. O professor Agenor se dirigiu aos
presentes, dizendo que se ali, naquele momento, houvesse algum Oluô, ou pessoa
que sabe ler nos búzios, que se aproximasse e viesse ler e constatar o que ali
estava determinado por Xangô. Em seguida, como é de praxe, o Assobá partiu um
OROBÔ e pediu a Xangô confirmação do que disseram os búzios, e por duas vezes
seguidas a palavra foi confirmada com ALAFIÁ. O Professor Agenor procurou saber
quem atendia pelo nome de Odé Kayodê, e Stela Azevedo se apresentou e foi
notificada pelo Professor Agenor ser ela a escolhida por Xangô para dirigir os
destinos do Axé. Dirigindo-se a mim, solicitou que eu notificasse em voz alta o
que Xangô acabara de determinar. Comuniquei aos presentes que, por determinação
e vontade de Xangô, fora escolhida a filha do Axé de nome Stela Azevedo - Odé
Kayodê - Kolabá, para ser a Iyalorixá a partir daquele instante. Todos os
presentes acolheram minhas palavras de pé e com uma salva de palmas. Em
seguida, um a um, os filhos deste Axé de Opô Afonjá, os representantes das
diversas casas ali presentes, os visitantes, todos, enfim, foram cumprimentar a
nova Iyalaxé, que se curvava à vontade de Xangô, e como mais nada atinente ao
assunto tivesse de ser registrado, encerrei a ata feita no livro de Atas do
Conselho Religioso, assinando a mesma, em Salvador, 19 de março de 1976, eu,
Fernando José Pacheco Vasquez, Secretário (Obá Xorun), o Presidente Carybé,
senhor Hector Bernabó (Otun Obá Onasokun) e os diretores presentes, Mario M.
Bastos, Deoscóredes Maximiliano dos Santos.
Quando Mãe Stella foi escolhida
iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Dona Milta explicou que não conseguia aceitar
o peso da responsabilidade que caía sobre os ombros da irmã:
"Corri para dona Menininha do
Gantois, implorando que ela desse um jeito, mas ela, Mãe Menininha, disse:
'Isso não é comigo, isso é com os orixás, eles sabem que Stella tem força, eles
a conhecem. Vi que era um poder maior e lembrei de Camões, 'Cesse tudo o que a
Musa antiga canta, que outro valor mais alto se alevanta...' Vi que não podia
fazer nada."
Em 1981, Mãe Stella visitou
templos e casas de orixás em Oshogbo na Nigéria. Ela cumprimentava as pessoas, era recebida por todos
e, uma vez, ao entoar um canto para Oxum, à sua voz incorporaram-se outras. Houve total entendimento
e todos se emocionaram. O mesmo se deu nas cidades de Ile-Ifé e
Ede. Apesar das barreiras linguísticas, fez amigos e foi homenageada. Em 1983 o professor Wande Abimbola, à
época reitor da Universidade de
Ile-Ifé, fez questão de realizar
em Salvador, na Bahia, a II Conferência da Tradição dos
Orixá e Cultura, porque sabia haver em Salvador raízes profundas da cultura
yoruba.
O primeiro pronunciamento público
de Mãe Stella foi na II Conferência Mundial de Tradição dos Orixás e Cultura,
de 17 a 23 de Julho de 1983, em Salvador, quando lançou ideias originais sobre
o sincretismo.
Ela também participou da III Conferência
Mundial de Tradição dos Orixás e Cultura, em 1986, em Nova Iorque,
Estados
Unidos.
Em 1987, Mãe Stella integrou a
comitiva organizada por Pierre Verger para a comemoração da Semana Brasileira
na República do Benin, na África. Sua presença mereceu destaque e ela foi recebida com
honras de líder religiosa.
Em 1999, Mãe Stella conseguiu o
tombamento do Ilê Axé Opô Afonjá pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (IPHAN), órgão ligado ao Ministério da Cultura.
Prêmios
- Em 2009, ao completar setenta anos de iniciação no Candomblé, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Estado da Bahia. É detentora da comenda Maria Quitéria (Prefeitura do Salvador), Ordem do Cavaleiro (Governo da Bahia) e da comenda do Ministério da Cultura.
- Em 2010, recebeu das mãos da vereadora Olívia Santana uma placa pelo centenário do terreiro Opó Afonjá ao lado do ministro da Cultura, Juca Ferreira e do secretário estadual da Cultura, Márcio Meirelles, no Plenário da Câmara de Salvador, Bahia. (fontes: Diário Oficial do Legislativo, 15 de Julho de 2010.)
- Em 2013, foi eleita por unanimidade para a Academia de Letras da Bahia. (fonte: http://www.politicalivre.com.br/2013/04/mae-stella-de-oxossi-e-eleita-para-academia-de-letras-
4 comentários:
Oie Siba; felizmente, foi reconhecida. Muitos nunca passaram do anonimato.
Bela homenagem! Bom fim de semana! Beijos
Você contribui divulgando a cultura e as pessoas.
beijo
Belíssima homenagem, Que mulher expressiva esta que com tanta seriedade e determinação age em favor do enriquecimento cultural disponível a todos nós. Linda publicação, parabéns.
Cadinho RoCo
A benção Mãe Stella, reconhecimento e graças!
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