
Sombras
Ao ouvir a tua voz colado no chão dos teus pensamentos
Jazo inerte sob a lua nesta noite enrugada no teu coração.
Faço saltar, então, o meu rosto pasmo nas rosas funerárias
Que cobrem o meu torvo olhar no mistério desta paixão...
Dir-se-ia do silêncio da noite no perfume do viver contigo,
As palavras dizem e descem insones clamando por teu nome
Nestes versos amargos em que a lua se esconde num jazigo
E no ranger dos gonzos sepulcros o imaginário me consome...
És tu mesma? Por que o mundo é mesmo tão imenso, intenso
E, apenas ouço os teus passos perdidos que não me alcançam.
Dize-me, o que espero se tão longo é o teu percurso pretenso?
Amada os teus caminhos azuis são tão esquivos nas passadas...
Minha alma é imensa, entretanto, enfastiei-me de ser o sonho vão
Sombra de sombras numa estrada branca da fria luz dos teus olhos.
Ao longe beijo teu olhar baço que foge na distância do teu coração
Nos côncavos de medo e de saudade dos teus passos perpassados...
É que vejo em ti um vulto solitário que anoitece... Contemplou-o!
Nos passos teus pés desconsolados com o coração encovado no nada.
Seguirás o infindo dos aventureiros ao Everest desafiando o tempo?
Ou no alude voltarás à porta, ainda, entreaberta da aurora esgarçada?
Sei, dir-se-á que me virás leve, sem névoas na doçura da branda luz,
Serás tu mesma? Ou se nos teus passos amórficos há um que de zumbi?
Dizes tu! Amada, amastes coisas fugidias no poço da paixão tão estéril
Que te dou este poema, por certo, para nada. Sim! Por certo, para nada...
Mas, quero estar de coração quieto. Eu, a soma de mim mesmo
Nas dobras do teu caminhar num choro debulhado da vã ventura.
O amor se mira e as bromélias brotam no umbral dos teus desejos
Ao som das trombetas e convivas fúnebres na beira da sepultura...
O Sibarita
Música: Ave Maria - Kenny G