segunda-feira, dezembro 26, 2016

Ano Novo


Ano Novo 

Ai meu Deus! Com o ano novo saindo do coldre
Já refletindo nos espelhos retrovisores da lua cheia.
Os atabaques tocam na limpeza do espiritual da coisa
E eu salto de paraquedas do ano velho cheio de teias...

Atô tô! Na minha roupa branca o perfume de alfazemas,
Para minha proteção o guia Ogum de Ronda e meu patuá.
Com o ano velho no poço mil pedidos nas minhas oferendas
Num céu imenso de lírio azul flamejando na praia de Jauá!

Ah... Eu tô que tô! Pés nas nuvens as horas do dia eu as bebo:
Cravinho com as estrelas, com as luas e com os sois afogados
Na brisa do ano novo soprando nos mares dos meus desejos...

Do velho ano eu limpo o pó dos pensamentos encadeados.
Do ano novo que chega abro as velas, navego na claridade
Cortando o gás dos antigos ventos medonhos e semeados...

O Sibarita

segunda-feira, dezembro 05, 2016

EPARREI OYÁ!

Assista Ponto de Candomblé. Iansã com Bethânia.

Hoje, na Bahia se comemora o dia de Santa Bárbara (Iansã).
No mercado de Santa Bárbara aqui em Salvador tem caruru para
mil pessoas. No candomblé Iansã é um Orixá é dona
dos raios, tempestades e do tempo.

A Bahia, hoje, se veste de vermelho a cor de Iansã.


S O B R E  I A N S Ã

Dia: Quarta-feira
Cores: Marrom, Vermelho e Rosa
Símbolos: Espada e Eruexin
Elementos: Ar em movimento,qualquer tipo de vento, Fogo
Domínios: Tempestades, Ventanias, Raios, Morte
Saudação: Epahei!

O maior e mais importante rio da Nigéria chama-se Níger, é imponente e atravessa todo o país. Rasgado, espalha-se pelas principais cidades através de seus afluentes por esse motivo tornou-se conhecido com o nome Odò Oya, já que ya, em iorubá, significa rasgar, espalhar. Esse rio é a morada da mulher mais poderosa da África negra, a mãe dos nove orum, dos nove filhos, do rio de nove braços, a mãe do nove, Ìyá Mésàn, Iansã (Yánsàn).

Embora seja saudada como a deusa do rio Níger, está relacionada com o elemento fogo. Na realidade, indica a união de elementos contraditórios, pois nasce da água e do fogo, da tempestade, de um raio que corta o céu no meio de uma chuva, é a filha do fogo-Omo Iná.
A tempestade é o poder manifesto de Iansã, rainha dos raios, das ventanias, do tempo que se fecha sem chover.

Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Ela sabe conquistar, seja no fervor das guerras, seja na arte do amor. Mostra o seu amor e a sua alegria contagiante na mesma proporção que exterioriza a sua raiva, o seu ódio. Dessa forma, passou a identificar-se muito mais com todas as atividades relacionadas com o homem, que são desenvolvidas fora do lar; portanto não aprecia os afazeres domésticos, rejeitando o papel feminino tradicional. Iansã é a mulher que acorda de manhã, beija os filhos e sai em busca do sustento.

O fato de estar relacionada com funções tipicamente masculinas não afasta Iansã das características próprias de uma mulher sensual, fogosa, ardente; ela é extremamente feminina e o seu número de paixões mostra a forte atração que sente pelo sexo oposto. Iansã (Oyá) teve muitos homens e verdadeiramente amou todos. Graças aos seus amores, conquistou grandes poderes e tornou-se orixá.

Assim, Iansã tornou-se mulher de quase todos os orixás. Ela é arrebatadora, sensual e provocante, mas quando ama um homem só se interessa por ele, portanto é extremamente fiel e possessiva. Todavia, a fidelidade de Iansã não está necessariamente relacionada a um homem, mas às suas convicções e aos seus sentimentos.

Algumas passagens da história de Iansã relacionam-na com antigos cultos agrários africanos ligados à fecundidade, e é por isso que a menção aos chifres de novilho ou búfalo, símbolos de virilidade, surgem sempre nas suas histórias. Iansã é a única que pode segurar os chifres de um búfalo, pois essa mulher cheia de encantos foi capaz de transforma-se em búfalo e tornar-se mulher da guerra e da caça.

Oyá é a mulher que sai em busca do sustento; ela quer um homem para amá-la e não para sustentá-la. Desperta pronta para a guerra, para a sua lida do dia-a-dia, não tem medo do batente: luta e vence.

Características dos filhos de Iansã / Oyá

Para os filhos de Oyá, viver é uma grande aventura. Enfrentar os riscos e desafios da vida são os prazeres dessas pessoas, tudo para elas é festa. Escolhem os seus caminhos mais por paixão do que por reflexão. Em vez de ficar em casa, vão à luta e conquistam o que desejam. São pessoas atiradas, extrovertidas e diretas, que jamais escondem os seus sentimentos, seja de felicidade, seja de tristeza. Entregam-se a súbitas paixões e de repente esquecem, partem para outra, e o antigo parceiro é como se nunca tivesse existido. Isso não é prova de promiscuidade, pelo contrário, são extremamente fiéis à pessoa que amam, mas só enquanto amam.

Estas pessoas tendem a ser autoritárias e possessivas; o seu génio muda repentinamente sem que ninguém esteja preparado para essas guinadas. Os relacionamentos longos só acontecem quando controlam os seus impulsos, aí, são capazes de viver para o resto da vida ao lado da mesma pessoa, que deve permitir que se tornassem os senhores da situação. Os filhos de Oyá, na condição de amigos, revelam-se pessoas confiáveis, mas cuidado, os mais prudentes, no entanto, não ousariam confiar-lhe um segredo, pois, se mais tarde acontecer uma desavença, um filho de Oyá não pensará antes de usar tudo que lhe foi contado como arma.

O seu comportamento pode ser explosivo, como uma tempestade, ou calmo, como uma brisa de fim de tarde. Só uma coisa o tira do sério: mexer com um filho seu é o mesmo que comprar uma briga de morte: batem em qualquer um, crescem no corpo e na raiva, matam se for preciso.

Orikí de Oyá. Eèpàrìpàà! Odò ìyá!
“ORI O! ORI OYA,
MO GBE DE. OYA MESAN, MESAN, MESAN.
OYA ORIRI, O, O, O.
OYA MESAN,
A JI LODA ORISA.
ORI O
ORI OL’ OYA,
MO GBE DE.
ORI MI!
ORI OYA , MO GBE DE.”
“O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
OYA , que se desdobra em nove partes.
OYA , a grande mulher, charmosa e elegante.
OYA , que se desdobra em nove partes.
ORISA que usa a espada ao acordar.
O ORI do iniciado,
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.
Meu ORI.
O ORI daquele que é iniciado em OYA está aqui.”

O Sibarita
Pesquisa de algumas partes: http://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/iansa/



terça-feira, setembro 27, 2016

SALVE SÃO COSME E SÃO DAMIÃO!


Santos Cosme e Damião, os santos gêmeos, morreram por volta de 300 d.C. Crê-se que foram médicos, e sua santidade é atribuída pelo motivo de haverem exercido a medicina sem cobrar por isso, devotados à fé. Sua festa é celebrada atualmente no dia 26 de setembro pela Igreja Católica, no dia 27 de setembro pelas religiões afro-brasileiras e no dia 1º de novembro pela Igreja Ortodoxa.

Os gêmeos nasceram em Egeia (agora Ayas, no Golfo do İskenderun, Cilícia, Ásia Menor), e tinham outros três irmãos. O pai foi mártir durante a perseguição dos cristãos na era de Diocleciano. Cosme e Damião eram médicos que curavam os enfermos não só com seu saber mas através de milagres propiciados por suas orações. Seus nomes verdadeiros eram Acta e Passio.


Os gêmeos praticavam a medicina em Egeia e alcançaram, por isso, grande reputação. Não aceitavam nenhum pagamento por seus serviços e foram por isso chamados de anargiras (em grego antigo: Ανάργυροι anargyroi). Dessa forma, eles trouxeram muitos novos adeptos para a fé católica.
Quando a perseguição de Diocleciano começou, o prefeito Lísias mandou prender Cosme e Damião e ordenou-lhes que se retratassem. Eles se mantiveram constantes sob tortura e de forma milagrosa não sofriam nenhum ferimento por água, fogo, ar, nem mesmo na cruz, até que foram decapitados por uma espada. Seus três irmãos, Antimo, Leôncio e Euprepio também morreram como mártires com eles. A execução ocorreu em 27 setembro, provavelmente entre 2875 /303.

Mais tarde, surgiu uma série de relatos fabulosos sobre os gêmeos ligadas em parte às suas relíquias. Os restos mortais dos mártires estavam enterrados na cidade de Ciro, na Síria; o imperador Justiniano I (527-565) suntuosamente restaurou a cidade em sua honra, depois de ter sido curado de uma doença perigosa por intercessão de Cosme e Damião. Justiniano reconstruiu e decorou a igreja dos mártires em Constantinopla, que veio a se tornar um lugar famoso de peregrinação. Em Roma, o Papa Félix IV (526-530) edificou uma igreja em sua honra.


A Igreja grega celebra a festa dos santos Cosme e Damião em 1 de Julho, 17 de Outubro e 1 de Novembro e venera três pares de santos com o mesmo nome e profissão. Cosme e Damião são considerados os patronos dos médicos e cirurgiões e por vezes são representados por emblemas médicos. Eles são invocados no Cânon da Missa e na Ladainha de Todos os Santos.

Tradição de distribuir doces

Numa antiga lenda africana, dois príncipes gêmeos traziam sorte para o reino, resolvendo todo tipo de problema, pedindo em troca apenas doces, balas e brinquedos. Bastante bagunceiros, um deles se acidentou ao brincar numa cachoeira. O irmão que sobrou ficou tão triste que pediu para se encontrar com o outro no céu. Assim, Orunmilá atendeu o desejo do pequeno príncipe, deixando na terra duas imagens feita de barro, representando os meninos.

Seu dia é comemorado em 27 de setembro, quando tradicionalmente é feita uma farta distribuição de doces para crianças, por pessoas que cultuam religiões afro-brasileiras.


O Antigo Martirológio Inglês (The Old English Martyrology) conta a seguinte lenda

Quando eles curaram uma senhora de uma grave enfermidade, ela secretamente trouxe a Damião um pequeno presente; os textos dizem que eram três ovos. E então ela suplicou em nome de Deus que ele os aceitasse então Damião os guardou. Cosme ficou tão triste por causa isso que pediu para quando morressem seus corpos não fossem sepultados juntos. Então na mesma noite, o Senhor apareceu para Cosme e disse: "Por que dissestes aquilo pelo presente que Damião recebeu? Ele não o recebeu como pagamento, mas porque lhe foi pedido em meu nome."(...) Quando foram martirizados, os homens que acolheram seus corpos estavam indecisos sobre onde deveriam sepultá-los em separado por causa do que Cosme havia dito, até que surgiu um camelo e disse em voz humana: "Não separem os corpos dos santos, sepultem-nos juntos."

Culto

A primeira e mais antiga associação médica da Europa a reunir cirurgiões foi a Confrerie et College de Saint Côme, em Paris, 1226, que durou até a Revolução Francesa.

Portugal

No século XIX, os mártires ainda eras padroeiros de confrarias médicas, para obter o título de doutor em Coimbra, pagava-se emolumentos para a Irmandade de S. Cosme. 

Brasil

O culto aos gêmeos mártires foi trazido para o Brasil em 1530 por Duarte Coelho e tornaram-se padroeiros de Iguaraçu, em Pernambuco. No nordeste brasileiro passaram a ser invocados para afastar os contágios de epidemias. Os negros bantos identificaram Cosme e Damião como os orixás Ibejis em um sincretismo religioso. 

Padroeiros

Cosme e Damião são venerados como padroeiros dos cirurgiões, físicos, farmacêuticos, faculdades de medicina, barbeiros e cabeleireiros.

Atribuições

Caixa com unguentos, frasco de remédios, folha de palmeira. 

Principal templo

Os dois principais templos no mundo dedicado aos santos são o Convento das Clarissas (Madri) e a Basílica de São Cosme e Damião (Roma). 

Religiões

Cosme e Damião são cultuados na Igreja Católica, Igreja Ortodoxa, Igrejas não-calcedonianas, Candomblé, Batuque, Xangô do Nordeste, Xambá e a Umbanda. 
Segundo a lenda, um dos irmãos morreu afogado e o outro, extremamente triste, pediu ao “Deus supremo”, que o levasse. “Conta a tradição que foi deixada na terra uma imagem em que a figura dos dois apareciam juntas e jamais poderiam ser separadas. A partir de então, as promessas passaram a ser feitas para a imagem, também em troca de doces e brinquedos”, conta.

“Os Ibejis são celebrados com cultos próprios durante todo o ano, já que estão ligados a ideia de “criação", são cultuados em todos os rituais”, explica Pai Nino. “Devido a convivência com a cultura cristã, também fazemos festa em setembro em que são distribuídos brinquedos, doces e Caruru (comida típica que pode ser acrescida de amendoim ou castanha) para as crianças”, explica.
Oração a Cosme e Damião

"São Cosme e Damião, que por amor a Deus
e ao próximo vos dedicastes à cura do corpo
e a da alma de vossos semelhantes,
abençoai os médicos e farmacêuticos,
medicai o meu corpo na doença
e fortalecei a minha alma contra a superstição
e todas as práticas do mal.
Que vossa inocência e simplicidade
acompanhem e protejam todas as nossas crianças.
Que a alegria da consciência tranquila,
que sempre vos acompanhou,
repouse também em meu coração.
Que a vossa proteção, Cosme e Damião,
conserve meu coração simples e sincero,
para que sirvam também para mim as palavras de Jesus:
“Deixai vir a mim os pequenino, porque deles é o Reino dos céu”.
São Cosme e Damião, rogai por nós.”

segunda-feira, setembro 05, 2016

I D Í L I O

I D Í L I O

É tão assim e nenhuma paixão agreste rejeita o lirismo,
Tachando o amor de fera como espira inútil de afeitos.
E sobre a página aberta deste idílio, o sentimentalismo,
Chega a qualquer aragem levando sopros e pretextos...

Mesmo aqueles negrumes suspensos nos céus acuados
Perpetrando as alongadas confissões noturnas amáveis.
Os desejos espreitam aquele jardim do amor indomado
Como se fossemos joguetes de paixões incontroláveis...

Em mim, começa o juízo final. Destas palavras, os confins!
Sem nenhum ar rarefeito advindo, as chamas que dançam
Não sabem se o dia seguinte trará as promessas dos afins,
O Sol e a luz consoladores em desejos que nos alcançam...
E batem em nossas portas, arfando, o sargaço desta paixão,

Manuscritos debruçados, olhares, os enigmas desta poesia.
A mística do descrever, acesso, câmara ardente do coração,
Palmilhando o facho de fogo, porquanto, o texto nos espia...

Doador de confissões, a escrita semovente brilho da alcova.
Com os olhos de outrem, o lembrete da paixão vira desejo,
Preparando-se para longas confidencias noturnas e renova
O idílio consolador nós volvendo. Afeto posto, amor aceso...

O Sibarita

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sábado, julho 02, 2016

LORDE COCHRANE e a INDEPENDÊNCIA DA BAHIA

Lorde Cochrane

por Vasco Mariz
O brasileiro que visitar a abadia de Westminster, em Londres, ficará surpreso ao ver o vistoso túmulo de um lorde escocês chamado Thomas Cochrane, onde se lê com destaque que ele foi Marquis of Maranham. A curiosa inscrição é uma tradução para o inglês do título de marquês do Maranhão, outorgado por ninguém menos que D. Pedro I, primeiro imperador do Brasil. Mas como este que até hoje é considerado o maior herói naval da Escócia veio parar nos trópicos?

Thomas Alexander Cochrane, 10º conde de Dundonald e marquês do Maranhão, nasceu em Annsfield, perto da cidade de Hamilton, na Escócia, em 14 de dezembro de 1775. Passou a juventude na cidade de Cullross e aos 17 anos se engajou na marinha real como guarda-marinha. Durante as guerras de Napoleão contra a Inglaterra ele demonstrou tanta ousadia em operações navais que os franceses o apelidaram de loup de mer (lobo do mar). No entanto, suas espetaculares atividades navais não agradavam ao almirantado britânico por sua frequente desobediência. Além disso, sua excessiva popularidade despertava ciúmes e inimigos.

 Nesse ínterim, famoso em seu país, Thomas se candidatou ao Parlamento e da segunda vez que disputou um pleito foi eleito. Teve a ousadia de bater-se contra a corrupção na administração naval, e essa atitude intransigente lhe rendeu muitos inimigos influentes, que acabaram acusando-o de atividades fraudulentas e especulação na bolsa. Foi condenado em 1814 e ficou dois anos preso. Retiraram-lhe o título nobiliárquico e foi desligado da marinha real. Sua carreira, que se anunciava brilhante, parecia encerrada.

Em 1818, Cochrane aceitou trabalhar para a marinha chilena nas guerras de independência desse país e do Peru e, em pouco tempo, conseguiu várias vitórias e afundou diversos navios espanhóis. Suas operações navais asseguraram a independência dos dois países, onde até hoje é reverenciado.

Sabedor de sua atuação brilhante nos mares do oceano Pacífico, o ministro brasileiro das Relações Exteriores José Bonifácio de Andrada e Silva aconselhou o jovem imperador D. Pedro I a contratá-lo e convidou Thomas Cochrane para entrar para o serviço do governo brasileiro por meio de uma carta enviada em 13 de novembro de 1822, isto é, pouco depois da nossa independência.

O convite foi aceito. Cochrane partiu de Valparaíso, no Chile, em 17 de janeiro de 1823 e chegou ao Rio de Janeiro em 13 de março. O decre-to imperial de 21 de março de 1823 formalizou o acordo, e ele assumiu o comando em chefe da esquadra brasileira com a pomposa patente de primeiro-almirante, caso único em nossa história naval.

Uma vez contratado, Cochrane passou a organizar uma expedição para combater as tropas portuguesas que resistiam à independência na Bahia e no Maranhão. A esquadra era formada por uma nau capitânia, a D. Pedro I, três fragatas, duas corvetas, quatro brigues e três escunas, nem todas em bom estado.

A viagem à Bahia não foi fácil, pois os militares brasileiros não tinham prática de navegar. Em 28 de abril estavam à vista de Salvador e a esquadra preparou-se para o combate. Após a primeira escaramuça com os navios portugueses, percebendo a superioridade inicial do inimigo, Cochrane retirou suas embarcações para perto da ilha de Tinharé, fundeadouro bem abrigado, e os lusitanos desistiram de persegui-los. De parte a parte, não havia muita disposição para combater.

A situação piorou para a cidade, pois Cochrane apresou todos os navios de abastecimento que se aproximavam da baía e chegaram notícias de que um exército imperial se aproximava por terra. O almirante foi ousado e atacou os navios portugueses em seu fundeadouro, causando confusão. Afinal, o comandante luso, general Madeira, desistiu e embarcou suas forças nos navios portugueses, forçando o bloqueio para passar pelos navios de Cochrane.

O almirante perseguiu-os sem entusiasmo, apresou uns poucos barcos e contentou-se com isso. Ninguém tinha mesmo muita vontade de lutar. Se o tivessem feito, a adesão da Bahia ao Império do Brasil não teria sido realizada no dia 2 de julho de 1823. O almirante Max Justo Guedes, grande historiador da nossa marinha, deu mais importância à vitória: “Pode-se afirmar em conclusão que, nas águas da Bahia e em pouco mais de dois meses, um grande marujo e seus valentes comandados asseguraram a independência do Brasil”.

domingo, maio 01, 2016

PRIMEIRO, MAIO!

Praia de Jauá

PRIMEIRO, MAIO!
Dona Dulce, (Em memória) é nosso aniversário!
À minha mãe que chegaria aos noventa neste maio primeiro,
Envio-te vibrações por aquelas estrelas que brilham no céu.
Ao espírito de luz que em ti contém: O meu amor verdadeiro
Em lágrimas de saudade caindo -uma a uma- no mar de Jauá...
Ao meu pai o Sr. Anísio que este ano não está entre nós
Celebrando. Lembra-se? Envio-te orações daqui de Jauá
E sigo o teu sol, princípio do bem. Ainda, ouço a tua voz,
Saudoso, lembro teu riso. Aqui agora, gotas no meu olhar...

Ó Deus! É meu aniversário, rapidinho, eu me renovo.
Bondade e lucidez, fé intensa, absoluta. Ah, perdura
O mês de Maria e de alegria em que do tempo inovo
Nos amanheceres dos aniversários da velhice futura...
Faço aqui as minhas vontades deste maio, primeiro!
É sim, encontro-me em pleno vigor físico e intelectual,
Meu Deus, obrigado! Nesses anos de tantos janeiros
Continuo o mesmo homem simples, vulgar e especial...
Na densidade, o meu íntimo substrato é a claridade
Nutrida pela luz interior acesa ou no tudo habitado
Sempre se perfazendo resoluto no charme da idade
Do amor à vida, dos sonhos num céu azul, cifrado...

Signo de touro: desfilam fontes, jardins no meu olhar
Florescendo, regando o racional que a mente conduz
Nos afrescos românticos do tempo na tela do sonhar
Que se revigora num sol amaranto e aí a própria luz...

Jorrando, adentrando na silhueta curvada das estações
Ao tempo da idade, então, crê e acreditar a vida ensina.
A fé, a caridade, a bondade e o perdão, sinos do coração,
Respiro, assim, a Doutrina Espírita por inspiração Divina...
Procuro arfando os velhos tempos nesse dia de aclamas,
Conviver, criar a síntese dos sessenta e pouco sob os céus.
É começar, agora, no sumo dos versos, da vida, da chama,
O viver na inflexão das auroras e crepúsculos sem véus...

Auroras/crepúsculos espelham sol e lua nos francos
Com o tempo correndo voraz, seguindo no seu tropel
Nesse gira mundo sem fim a verter aprumos e prantos,
Espectro da vida percorrendo. Ó diversão doida e cruel.

Tão menos que a silhueta. O tempo é carrossel, avaria,
Mostruário de poentes cinzas e laivos, se torna insano.
É sombra e luz na imagem branda e esquiva dos dias
No olhar de olhos vítreos na esquina dos meus anos...
E comigo: os meus filhos, amigos (as) e os meus irmãos,
As moças, as sereias do mar, da terra e as sereias do céu.
E comigo: o mar de Juá, a lua e a musa em um só coração
Nas fragrâncias e nos desejos dos corpos largados ao léu...

O Sibarita

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sexta-feira, abril 22, 2016

22 DE ABRIL DESCOBRIMENTO DO BRASIL

Descobrimento do Brasil

Contexto histórico 
O Descobrimento do Brasil deve ser entendido dentro do contexto das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos (séculos XV e XVI). Portugal e Espanha eram as nações mais poderosas do mundo e se lançaram ao mar em busca de novas terras para explorar. Usavam também o mar como rota para chegar as Índias, grande centro comercial da época, onde compravam especiarias (temperos, tecidos, joias) para revender na Europa com alta lucratividade. 

A chegada dos portugueses ao Brasil  
O Descobrimento do Brasil ocorreu no dia 22 de abril de 1500. Nesta data as caravelas da esquadra portuguesa, comandada por Pedro Álvares Cabral, chegou ao litoral sul do atual estado da Bahia. Era um local que havia um monte, que foi batizado de Monte Pascoal.

No dia 24 de abril, dois dias após a chegada, ocorreu o primeiro contato entre os indígenas brasileiros que habitavam a região e os portugueses. De acordo com os relatos da Carta de Pero Vaz de Caminha foi um encontro pacífico e de estranhamento, em função da grande diferença cultural entre estes dois povos.

Primeiros contatos com os indígenas  
Cabral recebeu alguns índios em sua caravela. Logo de cara, os índios apontaram para objetos de prata e ouro. Este fato fez com que os portugueses pesassem que houvesse estes metais preciosos no Brasil. Neste contato os portugueses ofereceram água aos índios que tomaram e cuspiram, pois era água velha com gosto muito diferente da água pura e fresca que os índios tomaram. Os índios também não quiseram vinho e comida oferecidos pelos portugueses.
Neste contato, que foi um verdadeiro “choque de culturas”, houve estranhamento de ambos os lados. Os portugueses estranharam muito o fato dos índios andarem nus, enquanto os indígenas também estranharam as vestimentas, barbas e as caravelas dos portugueses.

No dia 26 de abril, foi celebrada a primeira missa no Brasil, rezada pelo Frei Henrique de Coimbra. Após a missa, a esquadra rumou em direção as Índias, em busca das especiarias. Como acreditavam que a terra descoberta se tratava de uma ilha, a nomearam de Ilha de Vera Cruz (primeiro nome do Brasil).

 Polêmica: Descobrimento ou chegada?
Quando usamos o termo “Descobrimento do Brasil” parece que nossa terra não era habitada e os portugueses foram os primeiros a encontrá-la. Desta forma, desconsideramos a presença de mais de cinco milhões de indígenas, divididos em várias nações, que já habitavam o Brasil muito tempo antes da chegada dos portugueses.  

Portanto, muitos historiadores preferem falar em “Chegada dos Portugueses ao Brasil”. Desta forma é valorizada a presença dos nativos brasileiros no território. Diante deste contexto, podemos afirmar que os portugueses descobriram o Brasil para os europeus.  

Principal fonte histórica  
A principal fonte histórica sobre o Descobrimento do Brasil é um documento redigido por Pero Vaz de Caminha, o escrivão da esquadra de Cabral. A "Carta de Pero Vaz de Caminha" a D. Manuel I, rei de Portugal, conta com detalhes aspectos da viagem, a chegada ao litoral brasileiro, os índios que habitavam na região e os primeiros contatos entre os portugueses e os nativos.
Curiosidade: 
- A esquadra de Cabral contou com aproximadamente 1400 homens. Eram marinheiros (maioria), técnicos em navegação, escrivão, cozinheiros, padre, ajudantes entre outros.

O Sibarita
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sexta-feira, abril 01, 2016

ABSTRATO

Abstrato

Meu bem, sim, sei, te mando notícias
Requentadas nestes versos tão carentes
Que por certo e por tudo são relíquias
Pelo olhar absorvido das tuas lentes...

É que caminho mesmo na monotonia
Dos passos e outras receitas do amor
Em mutações na variação das agonias
A cada verso brotado como dor/flor...

Não sei olhar as coisas do teu presente
E assim, sigo e refaço o que já está feito
Ruminando desta temporada iminente
Em que só sei escrever a teu respeito...

E sobre faíscas/carícias dos meus alheios.
Estes são apenas os meus singulares temas
Como sol novo e céu azul dos teus esteios
Reinventando palavras cruas deste poema...

Mas, amor, há quanto tu desafias o tempo
Quando a noite chega e a luz do luar é fria?
Há quanto esperas o fim do mesmo tempo?
Choque de negror, o amor rediz o que dizia...

O Sibarita

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sexta-feira, março 18, 2016

BRISEIDA, AFRODITE...

Briseida, Afrodite...

Roubo-te os lábios, neles, me afogarei no favo de mel
Sorvendo os desejos aflorados dessas tuas labaredas
E tua pele aprenderá da minha: aroma e maciez e céus
Num leito onde se entregaram todas as tuas deusas...

Da tua vontade dormirás comigo incendiada no amor
Sim, virás: é um leito de rosas com lençóis de jasmim
Ao qual moldaremos a toda forma dos nossos corpos
No sol das auroras brotadas dos céus de mim e de ti.

Assim, no que se revelará nascerão noites encantadas
Em reflexo num espelho de fundo, quarto em chamas
No Sussurro aos teus ouvidos na lascívia das palavras...

Haverá volúpias convergidas, excitadas em plena cena
Quando se entregares aflorando todas as tuas fêmeas
Evoé deusas! Penélope, Afrodite, Briseida, Madalena...

O Sibarita

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domingo, fevereiro 07, 2016

É CARNAVAL!


Já é Carnaval...

Ah, tá rebocado minha Iaiá, já é carnaval na cidade.
Do Campo Grande à Ondina o coro come na Bahia!
Transmuto-me ao profano das moças na liberalidade
Dos ensejos aflorados... Ai meu Deus! É só alegria...

Evoé, no coração daquela menina de abadá do camaleão
Coloco o meu manto de Sibarita, estou livre, leve e solto.
Sobre os teus seios de deusa os meus olhos de navegação,
Vixe mainha! Embarco, caio na gandaia e mostro o rosto.

No fogo do querer, atiro-me nas chamas, entro em cena
Deito e rolo, embolo e me entrego na cobiça desta folia.
Nas fronteiras do infinito: Eu, o luar e a moça obscena
Balançando o chão da Avenida na plenitude das orgias.

Ah, os teus beijos, fogo dos demônios ao som da Chiclete.
Gemidos, tremores e eu sorvendo dos teus lábios o aroma
Dos desejos e, no meio da multidão, vamos pintando o sete
Rolando pelas ruas desta cidade na vertigem de Sodoma!

E vamos nós, circuito Barra/Ondina, é como o diabo gosta.
Ah, eu sinto os gozos jorrarem nas chamas deste carnaval,
Ai! Na delicia o céu que nos cobre brota uma lua em tochas.
Valha-nos Deus! Como o mundo fútil no olor deste bacanal!

O Sibarita

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segunda-feira, fevereiro 01, 2016

SALVE 02 DE FEVEREIRO, IEMANJÁ!

Caro leitor ouça a música hino a Iemanjá "É DE OXUM" composição:
Geronimo Santana e Vevé Calazans, cantada pelos próprios.
Desliguem a Rádio Humaitá ao lado.

IEMANJÁ

Ô Fia, tô no Rio Vermelho, é festa da dona do mar,
Fiz pedidos e por aforismo os seus também, Alodê!
Vaidosa, poderosa, dona das cabeças, salve Iemanjá!
Com os presentes no barco, mando beijos para ôce...

Preta, estou de espinhela caída na nata dos desejos,
O sincretismo religioso da festa de Iemanjá, fogaréu.
Nos meus patuás e minhas vestes brancas, o ensejo,
Toques dos atabaques repicam quereres no azul céu...

Ô nega da alma fresca, cheia de assuntos, toda petitosa.
Aqui, o sol do Rio Vermelho se refresca no mar, Odoyá!
Ouriçadíssimas vontades plenas neste aromal de rosas
Arqueja a bem aventurança aos filhos (as) de Iemanjá...

Mar de almirante e nele a fé, os pedidos, os presentes,
Vejo, participo de perto a colossal procissão dos barcos.
A moça que mora no mar é vaidosa, amorosa, no alente,
Não faz distinção, tudo é uma coisa só, o pobre, o farto...

Nos teus cabelos tem o céu com muitas luas iluminando,
Olhos consoladores, espelho de todo bem, diva do amor!
A essência! Além dos mares, além dos rios, dos oceanos,
Odoyá, Iemanjá! Com a candeia nas mãos, Ora yê yê ô!

Neguinha, estou com os poros à flor do desejo que afoga,
Os desejos mundanos nos olhos daquela moça inocente.
Ao tudo da sedução, fogueira, em que o amor venal roga.
No aqui da festa de Iemanjá em que sou muito serpente...

O Sibarita

BAIANÊS

Ô Fia – Ô menina.
Tô – Estou.
Rio Vermelho – O bairro mais boêmio de Salvador, onde é feita a festa de Iemanjá.
Ôce – Você
Preta – Carinhosamente chamando uma mulher.
Estou de espinhela caída – Estou pasmo.
Patuás –  Amuleto da sorte.
Ô nega – Carinhosamente chamando uma mulher.
Alma fresca – Jovial, jovem.
Cheia de assuntos – Mulher que conversa muito, tem muita conversa.
Toda petitosa – Toda gostosa.
Aromal de rosas – Perfume de rosas.
Mar de Almirante – Mar sereno, calmo para navegar.
A moça que mora no mar – Iemanjá.
Neguinha – Amorosamente chamando uma mulher.
Moça inocente – Mulher da vida, mundana.
Muito serpente – Muito desejoso.

O Sibarita

SOBRE IEMANJÁ

Iemanjá, Orixá feminino (divindade africana) do Candomblé e Umbanda. O seu nome tem origem nos termos do idioma Yorubá “Yèyé omo ejá”, que significam “Mãe cujos filhos são como peixes”.

Mãe-d'água dos Iorubatanos no Daomé, orixá fluvial africano passou a marítimo no Norte do Brasil.

No Brasil, a deusa Iemanjá recebe diferentes nomes, dentre eles: Dandalunda, Inaé, Ísis, Janaína, Marabô, Maria, Mucunã, Princesa de Aiocá, Princesa do Mar, Rainha do Mar, Sereia do Mar, etc.

Iemanjá é a padroeira dos pescadores. É ela quem decide o destino de todos aqueles que entram no mar. Também é considerada como a “Afrodite brasileira”, a deusa do amor a quem recorrem os apaixonados em casos de desafetos amorosos.

No dia 2 de fevereiro acontece em Salvador, capital do Estado da Bahia, a maior festa popular dedicada a Iemanjá. Neste dia, milhares de pessoas trajadas de branco fazem uma procissão até ao templo de Iemanjá, localizado na praia do Rio Vermelho, onde deixam os presentes que vão encher os barcos que os levam para o mar.

No Rio de Janeiro as festas em honra de Iemanjá estão relacionadas com a passagem de ano.

Nos candomblés fiéis às origens africanas, o culto é prestado em locais fechados, nos atuais o culto é ao ar livre, prestado no mar e nas lagoas, sendo Iemanjá muitas vezes representada como sereia.
Os devotos levam para o mar vários presentes que são tidos como recusados quando não afundam ou quando são devolvidos à praia.

Dentre as diversas oferendas para a bela e vaidosa deusa, encontram-se flores, bijuterias, vidros de perfumes, sabonetes, espelhos e comidas. O ritual se repete em outras praias do Brasil.

As celebrações a Iemanjá também acontecem em 15 de agosto, 8 de dezembro e 31 de dezembro.

IEMANJÁ E MÚSICA
Existem várias músicas que são feitas em homenagem a Iemanjá. Exemplo disso é a música "Iemanjá" do grupo musical Chimarruts, uma banda de reggae do Rio Grande do Sul.

IEMANJÁ E SINCRETISMO
No sincretismo religioso, Iemanjá corresponde a Nossa Senhora dos Navegantes, Nossa Senhora da Conceição, Nossa Senhora das Candeias, Nossa Senhora da Piedade e Virgem Maria.


quinta-feira, janeiro 14, 2016

A LAVAGEM DO BONFIM

LAVAGEM DO BONFIM
(Desligue a rádio Humaitá ao lado para ouvir o Hino ao Senhor do Bonfim)
A procissão de Nosso Senhor do Bonfim e lavagem das escadarias da Igreja é considerada a mais importante das comemorações de largo de Salvador. O cortejo acontece na segunda quinta-feira após o dia de Reis (6 de janeiro). E os festejos religiosos (novena) encerram no domingo após a lavagem. Fogos de artifícios anunciam o início da procissão. O cortejo tem a presença de baianas e fiéis que caminham desde a Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia até o adro do Bonfim. No percurso, as baianas carregam água de cheiro, jarros de flores e vassouras. Carroças enfeitadas conduzem os devotos em um percurso de aproximadamente 8 quilômetros. Milhares de pessoas vestem-se de branco para acompanhar o cortejo, em busca de proteção do Santo e das águas perfumadas. Ao chegar, as baianas lavam as escadarias e o adro da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim com água perfumada e jorram a água sobre as cabeças de pessoas que buscam neste banho a purificação do corpo e da alma. Durante o resto do dia muitas pessoas continuam se dirigindo ao Bonfim, em blocos ou seguindo as carroças, e em pequenos veículos com equipamentos sonoros. No Bonfim, a festa prossegue com rodas de capoeira e samba, enquanto nas casas, os visitantes se deliciam com comidas populares, como o caruru, o cozido e a feijoada. Em seu lado religioso, a festa acontece com missas e novenas, durante todo o mês de janeiro, dedicadas ao Senhor do Bonfim, Nossa Senhora da Guia e uma trida de São Gonçalo.

Segundo o historiador Cid Teixeira, no Rio Vermelho havia uma capela consagrada à devoção de São Gonçalo, santo tradicionalmente festejado em Portugal com festas que eram grandes farras. A capela arruinou-se e a festa de devoção de São Gonçalo foi transferida para o Bonfim. Tem-se notícia que nos meados do século XIX, nas comemorações do mês de Janeiro, as festas já ocorriam na Colina Sagrada, com honrarias a Nosso Senhor do Bonfim, à Nossa Senhora da Guia e a São Gonçalo. No passado, grande parte dos devotos seguia por mar, em saveiros e pequenos vapores da Companhia Baiana. Desembarcavam no Porto da Lenha e subiam a ladeira de mesmo nome. Por causa da distância e das dificuldades, os romeiros chegavam ao Bonfim três dias antes da festa do santo e criaram o costume de lavar a igreja na quinta-feira, para prepará-la para o domingo.

A princípio essa lavagem era feita pelos moradores das vizinhanças e depois foi se tornando um ato cada vez mais disputado. Dos que seguiam a pé ou em gôndolas, devotas levavam água de toda a cidade, em potes, moringas ou vasilhas sobre as cabeças, dançando durante todo o trajeto. Por achar que o ato tinha assumido um caráter festivo exagerado e não-condizente com o local santo, a lavagem no interior do templo foi proibida em 1890, pelo Marquês de Santa Cruz, Dr. Manuel Victorino Pereira, chefe do Governo Provisório na época.

A festa, desde que se tem notícia, é marcada pelo sincretismo religioso. Ao lado dos devotos católicos, membros do candomblé prestam homenagem ao santo, que no sincretismo corresponde a Oxalá. No lado profano da festa, havia a apresentação de filarmônicas ao mesmo tempo de grupos com atabaques, capoeira, samba e a população dançando em alvoroço. Na véspera da festa, no chamado sábado do Bonfim, começavam a chegar à noite numerosos ternos e ranchos que cantavam e dançavam até a manhã de domingo e permaneciam à espera da tradicional Segunda-Feira Gorda da Ribeira. A Lavagem do Bonfim ainda guarda suas características do passado. Durante todo o dia devotos caminham em direção à igreja e grupos de capoeira, samba e outros ritmos musicais se espalham pelo bairro do Bonfim.
- IGREJA DE NOSSO SENHOR DO BONFIM
Um dos principais cartões-postais da cidade, A Igreja Basílica do Senhor Bom Jesus do Bonfim, ou Igreja de Nosso Senhor do Bonfim como é conhecida, é um dos símbolos da religiosidade baiana. A construção do santuário de peregrinação teve início em 1740 com a vinda para a Bahia do Capitão de Mar e Guerra, Theodósio de Faria. Segundo a Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim, o Capitão de Mar e Guerra tinha grande devoção ao Senhor do Bonfim, através da imagem que se venera em Portugal, na cidade de Setúbal e trouxe de Lisboa uma imagem semelhante esculpida em pinho de riga, medindo 1,06m de altura. Conta-se a história que o Capitão português trouxe a imagem como agradecimento por haver sobrevivido a uma tempestade em alto-mar, tendo prometido construir uma igreja no ponto mais alto que avistasse, de onde pudesse acompanhar a entrada da Baía de Todos os Santos.
Em 1745, a imagem foi guardada na Igreja da Penha de França de Itapagipe, onde permaneceu até a construção do templo de Nosso Senhor do Bonfim. Nesse mesmo ano, foi fundada uma irmandade de devotos leigos que foi denominada “Devoção do Senhor do Bonfim”. Situado na única colina de Itapagipe, o tempo foi construído entre os anos de 1746 a 1772. A imagem do santo foi passada para seu templo, em 1754, em uma procissão que contou com a presença de grande parte da população da cidade e do então Governador da Bahia. A imagem de Nossa Senhora da Guia, também trazida de Portugal por Theodósio de Faria foi também colocada na Igreja de Nosso Senhor do Bonfim e passou a ser venerada junto com o santo.
A Fachada do edifício é parcialmente revestida de azulejos brancos portugueses datados de 1873, contrastando com a pedra morena das esquinas, portais, cercaduras e frontão. Nos seis altares laterais estão painéis de Franco Velasco. Os painéis da sacristia e trinta e quatro quadros nos corredores são assinados por José Teófilo de Jesus. Os painéis “A Morte do Pecador” e “A Morte do Justo” quadros situados na entrada da igreja são atribuídos a Bento José Rufino Capinam e seu filho Tito Nicolau Capinam, respectivamente. Esta Igreja possui ainda azulejos de Lisboa com cenas da vida de Cristo e ricos adornos como: sacrário em prata lavrada, lâmpadas e tocheiros de prata. Possui também salas com lembranças das graças alcançadas com a ajuda do santo.
Em frente à Igreja encontramos o Largo do Bonfim ou Adro do Bonfim, como também é conhecido. As festas dedicadas ao santo acontecem na segunda semana de janeiro e a na semana seguinte as de Nossa Senhora da Guia. Dentro da semana dedicada ao Senhor do Bonfim acontece, na quinta-feira, a tradicional Lavagem do Bonfim, uma festa profano-religiosa, marcada pelo sincretismo religioso.
- MUSEU DO EX-VOTO
Sala da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim que comporta objetos, retratos, lembranças de pessoas que tiveram alguma graça alcançada, alguma cura milagrosa ou desejo realizado e dedica o sucesso ao Senhor do Bonfim. O museu foi criado em 11 de janeiro de 1975, por Rubem Freire de Carvalho, tesoureiro da irmandade Devoção do Senhor do Bonfim, com a colaboração do seu irmão João Carlos Freire de Carvalho Lopes.
Entre os objetos que fazem parte do acervo do museu destacam-se as muitas peças confeccionadas em gesso, madeira, em prata ou em ouro que reproduzem partes do corpo humano como mãos e pés. Muitas telas pintadas representam os milagres alcançados como o quadro de agradecimento pela sobrevivência a uma epidemia no ano de 1855 ou quadros pintados por artistas conhecidos como Francisco Velasco e Canizares. Uma escultura em cedro retrata um negro chamado Amaro, um escravo que foi doado à Capela como ex-voto em 1868.
-SALA DOS MILAGRES
Assim como o Museu dos Ex-votos, a Sala dos Milagres guarda lembranças deixadas por devotos do Senhor do Bonfim de graças e milagres alcançados. Enquanto o Museu está localizado no andar superior da Igreja, a Sala se situa no andar térreo, ao lado do altar-mór. Muitos moldes de gesso reproduzindo pés, pernas, braços e outras partes do corpo estão pendurados no teto da sala, representando as doenças curadas. Ao lado de pinturas representativas dos milagres atribuídos ao santo, figuram radiografias, quadros de formatura, retratos de pessoas, de casamentos e outras espécies de pertences doados à sala como sinal de gratidão dos devotos.
 - IRMANDADE DE NOSSO SENHOR DO BONFIM
A Irmandade Devoção do Senhor do Bonfim foi criada em 1745, junto com a chegada da imagem, trazida de Portugal pelo Capitão de Mar e Guerra Theodósio Rodrigues de Faria, este passou a ser o responsável por manter o culto ao Senhor do Bonfim e Nossa Senhora da Guia. A Irmandade é ainda responsável pela conservação do templo e das obras de arte do seu interior. Atualmente desenvolve também cursos profissionalizantes para a comunidade da paróquia do Bonfim além de cuidar da promoção da evangelização e da catequese na Basílica.
Trienalmente acontece a eleição da Mesa Administrativa, que se compõe dos chamados “Irmãos dignitários”. As funções, definidas em estatuto, são desenvolvidas por cargos como o de juiz, tesoureiro, escrivão e procurador. As eleições são realizadas em Assembleia Geral composta por “Irmãos devotos”, entre os quais se distinguem os “beneméritos”, pessoas que prestaram serviços de grande relevância ao culto e às obras mantidas pela Devoção do Senhor do Bonfim.
À Irmandade é atribuída a construção de vias de acesso até a Igreja do Bonfim, sendo a principal entidade responsável pelo desenvolvimento da península. A única forma de chegar ao Bonfim era pelo mar, então mandam abrir a estrada do Bonfim, hoje Av. Dendezeiros, que passou a ligar o Largo de Roma ao Bonfim. Construíram também o Cais das Amarras e a Ladeira da Lenha, ao lado da Igreja. As construções prosseguiram com a construção de vias, hoje Barão de Cotegipe e Fernandes da Cunha, em direção a Calçada. Foi a Irmandade também que construiu as casas dos romeiros, ao redor da Igreja.
 - CASA DOS ROMEIROS
Desde que se deu início o culto ao Nosso Senhor do Bonfim, o templo do santo atraiu muitos peregrinos até a colina sagrada. Os romeiros vinham de toda a Bahia, principalmente do recôncavo, em todas as épocas do ano, mas em especial no período da novena. Vinham para pagar promessas, em penitencia ou por devoção ao Senhor do Bonfim. Antes de existirem as avenidas que se dirigem ao Bonfim, a Igreja de Nosso Senhor do Bonfim era de difícil acesso, pois existiam poucas estradas que levassem até lá. O acesso era feito por mar, através do Porto da Lenha. Os romeiros subiam ladeiras íngremes e procuravam se acomodar no largo e em torno do templo. Famílias inteiras permaneciam ao relento a espera dos festejos.
 A Irmandade do Senhor do Bonfim sentiu necessidade de propiciar alguma forma de acolhimento àqueles devotos. Nesse propósito edificaram algumas pequenas casas perto da Igreja, para acolher os romeiros. Não era necessário pagar para ocupar os imóveis. No período da novena, a Irmandade Devoção do Bonfim organizava ceias para receber os romeiros. Hoje os romeiros não possuem esses espaços próprios para se hospedarem. As casas pertencentes à Irmandade perderam sua função inicial e estão alugadas ou vendidas a terceiros.
Pesquisa, Na Mídia:
:: LAVAGEM DO BONFIM, UMA HISTÓRIA DE PROIBIÇÕES - CONFLITOS E MUITA FÉ, A TARDE, 15.01.1987, cad 2, p. :: BONFIM, A DEVOÇÃO NA PRIMEIRA SEXTA, JORNAL DA BAHIA, 06.01.1973, cad 1, p.3, :: IMAGEM DO BONFIM NOS FESTEJOS DOS 150 ANOS, JORNAL DA BAHIA, 28.06.1973, p.3, :: FESTA DO BONFIM SERÁ DIA 20, A TARDE, 17.01.1974, cad 1, p.3, :: NA FESTA DE BRANCO, OXALÁ VAI TER O SEU TEMPLO LAVADO, JORNAL DA BAHIA, 07.01.1970, cad 1, p.7 

O Sibarita

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