sábado, dezembro 30, 2006

ANO NOVO III


Praia de Jauá (Litoral norte de Salvador)

Ano Novo III

Aos amigos Letícia Gabian e Fred Neumann

Meia noite. Os desejos aflorados, etc e tal...
Três, dois, um. Uff! Ano novo e eu a bordo.
Demais! As estrelas, o mar e a lua de Jauá.
O que foi, lá se foi... Passou... Nada recordo.

O céu concha azul de uma valva que a noite beija
Dá brilho de todos os tons nos fogos em chamas
Sobre a beira-mar de Jauá quando a lua sombreia
O ano velho se apagando ouriçado de escamas...

A tudo esqueço: Cismas, ilusões e prantos vãos.
Coloco nas águas o meu presente para Iemanjá.
No som dos atabaques, o dono da minha cabeça,
Ogum de Ronda saúda o novo ano em Iorubá!

Atotô! No azul pipocam os fogos de artifícios .
É... O que passou... Já foi. O que teve de ser...
A flor do reveillon desfolhou. Era meu vício...
Ah, como o mundo é fútil no aroma do sachê!

No céu de Jauá, um imenso lírio épico de verão.
Eu tomo todas... O meu mundo, agora, é fictício.
Bebo sim! Na moça das flores compro corações
No delirium tremens dos meus goles de absinto...

De porre, os meus olhos de navegação correm mundo.
Mas o que e a quem lembrar? O que teve de dar, já deu...
O meu orixá joga os búzios. O ano novo é pano de fundo.
É que, com a aurora no poço, o ano velho se escafedeu...

E sob minhas vestes brancas, na vertigem dos desejos,
O meu coração finca os pés no chão da melodia ijexá.
A lua rastafari dança e veste-se nos meus loucos beijos,
Fingindo os orgasmos na luz dos espelhos do ano novo!

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 27, 2006

ANO NOVO Il

Praia de Jauá (Litoral norte de Salvador/Bahia.)
Ano Novo II

Atô, tô
Meu Pai,
Babaluaê!

Minha Iaiá, hoje é só alegria. Da flor do teu silêncio
Coloquei o meu bloco na rua é ano novo na Bahia!
Peço-te, então, uma das tuas máscaras emprestada,
Para compor o meu manto de Sibarita à tua revelia...

Ôie! Acorda cidade, clamai aos deuses libidinosos.
É o ano novo! O sol todo nu se abre obscenamente
E penetra no hímen da praia de Jauá. À noite, a lua
Enciumada me toma aos beijos despudoradamente.

Ai! Mostro a cara, caio na gandaia e no dever do oficio
Meu humano coração é de todas as meninas. Em cena
Fundo tudo num só afago e nos desejos do meu vício
Estou leve, livre e solto entregue às moças obscenas...

Mas, amor, leia as noticias, veja as fotos pelo jornal,
Sob o esplendor da lua as minhas estripulias, não ria!
Sou o Sibarita do amor dúbio. Neste tempo de bacanal
As donas moças são alegrias no teu silêncio da agonia...

Oh, sim! Meia noite. Bebo todas, a lua, debochada e fina
Faz-me o fogo dos pensamentos, atiro-me nas chamas.
Ébrio, rio, deliro, beijo tua boca nos lábios das meninas
De carnes atiçadas em cada barraca na seiva da tua lama.

É que no afrodisíaco da libido a noite em desejo é bendita
Nos orgasmos venais dessas moças cheias de má intenção.
Solidário ao teu silêncio (Ai meu Deus!), sou o teu Sibarita
Enviando-te as noticias nas entrelinhas dessa profanação.

Queria tê-la ao meu lado de roupa branca toda molhada.
Não finjo esse desejo e no ensejo deste meu dia de folia
Em que os meus gozos orvalham nos meandros o ano novo
Da urgia, peço-te então, data vênia pelo carnal da alforria!

O Sibarita

ANO NOVO I

Praia de Jauá (Litoral Norte de Salvador)

Ano Novo I

Ai meu Deus! Com o ano novo saindo do coldre
Já refletindo nos espelhos retrovisores da lua cheia.
Os atabaques tocam na limpeza do espiritual da coisa
E eu salto de pára-quedas do ano velho cheio de teias..

Atô tô! Na minha roupa branca o perfume de alfazemas,
Para minha proteção o guia Ogum de Ronda e meu patuá.
Com o ano velho no poço mil pedidos nas minhas oferendas
Num céu imenso de lírio azul flamejando na praia de Jauá!

Ah... Eu tô que tô! Pés nas nuvens as horas do dia eu as bebo:
Cravinho com as estrelas, com as luas e com os sois afogados
Na brisa do ano novo soprando nos mares dos meus desejos...

Do velho ano eu limpo o pó dos pensamentos encadeados.
Do ano novo que chega abro as velas, navego na claridade
Cortando o gás dos antigos ventos medonhos e semeados...

O Sibarita

sexta-feira, dezembro 22, 2006

FELIZ NATAL...

Foto: Alagados (Maré) Bairro: Jardim Cruzeiro - Salvador/Bahia.
Aos meus amigos de Infância das pontes: Copacabana, Santo Antonio, Vinte de Junho... In memoriam aos que se foram afogados pela maré de março, pela leptospirose, pela coqueluxe...

Feliz Natal...
Sob um céu de Jade,
Nos olhares, quanta alegria
Escondendo a dor, a melancolia...
Chega o natal nas palafitas,
Com estrelas hidráulicas
Sustentando as pontes
Que balançam aulicamente
Nas asas de todos os ventos...
De tamancos rachados
Percorrendo as pontes
Jesus menino sangra
Fugindo da leptospirose!
Crianças correm pelo lixo e tábuas carcomidas
Catando raios de esperança no manto da noite
Que te virá em sudário na flor que deságua
Os desejos de infância batendo como açoite.
Sobre os telhados,
Luas sazonadas
Espiam ao tempo:
Nenhuma árvore,
Nenhum presépio,
Nenhum papai Noel...
Com a aurora no fundo do poço o dia floresce
Na angústia dos sonhos sempre macerados:
Nem ao menos um presente, um brinquedo...
Mais um natal que chega sem enredos!
O natal nos alagados,
Nasce banguelo sobre os caibros.
Pela manhã, o sol chega, disfarça
Lacrimejando se joga das pontes
Submergindo nos penicos
De maré lentamente...
Valei-o menino Jesus!
Comida para baiacus,
Presente para crianças inocentes!
Oh! Jesus menino,
Livrai da tentação
Os vossos pequeninos!

FELIZ NATAL E OLHAIS ÀS VOSSAS CRIANÇAS!
O Sibarita

terça-feira, dezembro 19, 2006

MUMÚRIO À LUA

Murmúrio à lua

Há algo de lúdico
na escuridão e no vazio da noite...
Oh lua, libera um olhar!
O cabalístico obliterando
corta o tempo – insânia –
além das estrelas, gris-obnubiação!
Mirando o destino, súbito suplício:
Afoga - há luzes apagadas.
Chora o vazio, o silêncio – o que fiz?
A escuridão é toda a estrada,
no vagazul, o panicômico,
onde afunda a minha alma!

Oh lua! Onde estás
que não vejo a tua claridade?
Libera o olhar, a estrada agora:
É vasta e nua...

O Sibarita

quarta-feira, dezembro 13, 2006

ESPELHO

Espelho

Ah... Eu não sei, mas sei desses mares
Navegantes, pelas ondas, sonham luas.
Cavaleira e cavalo de vidas estelares
Desafinam nas sidéreas sombras nuas...

Eu formato nuvens descoradas no céu,
Espalho do espaço anil em descompasso
O meu universo heróico ao sabor do fel
Na imensidão galática dos meus astros...

É que a noite rumina na abóbada, negra e fria.
Saltimbancos murmuram estes versos pecos
Espelhando tua imagem. Vaga em sesmaria,
Galopa nos corcéis alados de todos avessos...

E no avesso dos teus olhos laça-me o coração
Como um rio que chega junto ao mar, ávido,
Não navego, cavalgo pelos desejos da paixão
Onde o teu olhar sempre me vê no passado...

Se é que somos os construtores dessas horas
Com o sol e a lua nos flancos não há inverno
Que turve a primavera de sonhos e memórias
Na auréola da estação que te faz fruto eterno...

Contigo sempre ao meu lado... É sempre assim,
No peito, eu sinto o murmúrio da paixão infinita.
De corpo e alma prisioneiro pleno em teu jardim,
Oh, Baby! És tu, cabelo de trancinhas e sem fitas...

Ah, o teu lamento:
De um terrível vendaval,
Mas sem vento...

O Sibarita

Posted by Picasa

terça-feira, dezembro 05, 2006

A RAZÃO E A PSIQUÉ

A razão e a psiqué

Há uma esquina no metafísico da minha psiqué
Que foge do oculto e se esconde no teu olhar!
Quem sou? Não me perguntes, não tentes saber
Contenta-te, fita-me e que te bastes imaginar...

Não finjo, há um dilúvio de luz na minha alma
E na paisagem o sibilo de flechas na escuridão
Rompe em tochas o noturno da noite que medra
O azul dos versos no eco do psicofísico da razão...

Meu cérebro é eletrônico no perímetro urbano
Tem largas ruas, becos, caminhos e um delta
Na foz da psique desembocando no rio insano
Da paixão que afoga os desejos na aresta...

Das solidárias sou servo... Colho os lírios da lua
E, olhando das estrelas, na fé, sinos axiomáticos
Badalam na esquina do pensamento a face nua
Do fervor que brota no espaço mental somático...

Mas, trago no peito um gramofone anunciando
Um coração partido ao meio e no zênite, o fogo
Do amor que devasta nuvens alvas reverberando
Na vitrine dos olhares de um anjo vesgo, coxo...

O Sibarita

sexta-feira, dezembro 01, 2006

O CIRCO I

O Circo I

“O que é que o palhaço é? – Ladrão de mulher!”
- Senhoras e Senhores! Hoje, tem marmelada?
- Tem sim senhor! - Boa noite! Agora, nos risos
Da dor, o amor aplaude o palhaço que chora...

Mas, o espetáculo não pára, o palhaço marmelada
No picadeiro faz graça de si e ri do próprio funeral.
Apaixonado, amavio... Declama os versos à amada!

A paixão cambalhota canta o coração no primeiro ato
Preso na suave teia se entrega na vertigem do amor
Em cena, sem armaduras, se contorce nos hiatos...

Sob a lona rota da paixão nos refúgios destruídos,
O coração perna de pau vê do picadeiro o céu mofado.
E, do luar sem brilho, as lágrimas dos desesperados...

No globo da morte o amor faz dos sentimentos alude
Desencanta a paixão do palhaço no sofrer do coração,
Reluzente, mostra os dentes de aço, gargalha, ilude...

Ai amor! O palhaço faz do tédio o picadeiro, na paixão,
Bebe do teu fel no riso da platéia sob as luas agônicas,
Na gargalhada da dor, evoca, o teu nome e sobre nome!

O Sibarita

sábado, novembro 25, 2006

A Volante do Sargento Bezerra



Outro vídeo da Volante do Sargento Bezerra.
Tomara que todos gostem e comentem.
Deixo um soneto para degustação.

Soneto I

Meu bem, o meu escrever clareia o cinza que te aflige,
Minhas palavras rebuscadas são águas do regato coradas
No meu seio que falam o que os meus lábios não te dizem
E beijam o teu coração despindo-me todo de corpo e alma...

Nobres e ágeis são as palavras no frenesi da humilde pena
Que ao escrever sabe aonde vai ou aonde vou no renascer
De repente um novo horizonte que o teu coração faz a cena
Da paisagem na paixão em que a lua sempre virá nos ver...

Por vezes enigmático, romantizo, banho o teu coração de luz
E nem sabes nas entrelinhas das palavras que nasceram de ti
Ecoando o sol da paixão que na distância soldamos os azuis!

As palavras à doçura embalam... O falar, a garganta engasga
O céu que germina do meu peito. Entretanto, o que palpita
Nos meus lábios são tintas sem cores ou cheiros, tão vagas...

O Sibarita

segunda-feira, novembro 20, 2006

SOLILÓQUIO


Tela de Joan Beltran Bolfill
Solilóquio

Nada mais.
... O silêncio é teu!
Mas, ainda sobre a cama,
está aquele lençol de seda
ecoando os nossos gemidos
daquelas noites sodomitas
em que perdíamos os sentidos...

Naquela penteadeira,
ainda reflete por aquele espelho
os teus lábios pagãos de batom cereja
em que me lambuzavam de desejos...

Ainda pela mesa,
enfeitando as noites
em jarras chinesas
aquelas flores...

Pelo quarto,
aquelas tuas juras,
ainda impregnadas
nas paredes, agora,
por teu desejo, amareladas...

Pelo chão, está,
aquela taça de vinho
em que traçavas o destino
e, naquela vitrola
ainda toca, à meia luz,
aqueles nossos blues...

Por aquela porta,
ainda, entreaberta...
A paixão solda,
o que a nuvem tosa!

Entre nós, a vida...
Uma peça de teatro
encenada por Hidra
naquela pequena coxia.
Nos hiatos, um solilóquio
de Hércules no sétimo ato...

O Sibarita

Posted by Picasa

terça-feira, novembro 14, 2006

A Volante do Sargento Bezerra


Caros leitores, a partir de hoje postarei três vídeos em homenagem a banda baiana A Volante do Sargento Bezerra que desponta no Brasil, via São Paulo, depois de arrebatar todos os prêmios na Bahia. No Troféu Caymmi (o mais importante prêmio da música do Norte e Nordeste do Brasil) teve seis indicações, inclusive o de melhor banda. Tomara que os senhores assistam, gostem e opinem. Acessem o blog da banda pelo link ao lado. Deixo uma poesia para degustação.

O Sibarita

OS SEIXOS

Bailado de seixos
Cardumes de espuma
Corpo de alga
(cristal e bruma)

Areia e coral
água parada.
Sereia escarlate
(lanterna encarnada)

A Concha mais bela
(quem sabe qual?)
A onda que falta
Eu dissolvo o sal...

O Sibarita

quarta-feira, novembro 08, 2006

PRINCESA

Princesa

Oh! Minha gata selvagem
nos teus olhos de fogo, os gozos
tem brilhos no morrer da primavera.
Musa fogosa, sensualmente demoníaca,
seios de amêndoas, limiar do sexo!
Ah, me fale dos desejos
sobre a face das flores...
Flores do acaso, rosas estáticas
ornamentando sortilégios e loucuras,
sedução e orgasmos pelo prazer lúdico
dos Deuses libidinosos em meio aos lábios rubros
e urros desconcertantes... Corpos sedentos!
Serpentes enroscadas, beijos batons,
tabuleiro de orgias e cumplicidades
no prazer delirante do entardecer
pânico das estrelas à beira mar...

Deusa das sete luas, entre ti e o vazio,
fosse o céu que o céu tem querubins!
Fosse as estrelas que as estrelas tem alma!

A noite espreita o ventre da solidão,
inverno dos astros e visões na sombra do tempo...
Delírios perdidos, nas juras do teu corpo,
Ai! Os meus uis e os teus ais
explodidos à meia noite, à meia luz...

Vento, ventania,
cachorros doidos no cio
rastejando ao sol do meio dia!

O Sibarita

Posted by Picasa

sexta-feira, novembro 03, 2006

DEMÔNIA

Demônia

Na nudez das manhãs, do teu olhar exilado
Vejo o mar na cor dos verdes olhos, concordo!
E do teu coração ao continente do amor navegado
No mapa da paixão, abro as velas! Ufa! À bordo...

Enigma originado estendo-me em tua alfombra
A nudez do horizonte acende o pavio... Demônia
Andas, à noite, vasculhando meus sonhos, inflamas
Céus, luas, estrelas e a paixão no fogaréu da insônia...

Oh! Alma fresca, o coração em chamas te chama!
O fervor ao sabor do teu rubro vinho, o fogo avança
De um incêndio ao outro incêndio... E, no compêndio
Deste teu poema, a palavra é amor! O desejo se lança...
Como a chama dos santelmos, hei de encontrar-te, açucena.
Já me tens preso na íris dos teus olhos em que busco o estio!
Vou pela porta aberta desta primavera soberba e serena
No entanto, julgo-te lua nas fases do teu olhar ao azul anil...

Coração aos ferros, bronze florentino esculpindo a madona
Enquanto em um canto qualquer do meu quarto, desbotados
Jarros chineses voltam a ganhar vida na luz dos olhos de Jônia
Ai! Teu coração veste o nu da estátua, a lua ri no meu espelho.

O Sibarita
Posted by Picasa

quinta-feira, outubro 26, 2006

LUZ E FOGO

Luz e fogo

Por amor deste amor é a noite... qual o teu rosto?
Não sei! Nadja, Maria, Clarisse, Joana, Helena...
A quem, por meu destino e teu pecado exposto,
Que eu pague à estrela do mar teu céu fora de cena...

O amor é feito de claridade na água de bica em pedra.
Em tua pele eu escorro, é que sou todo uma nascente
Entre nuvens caindo da noite que no teu olhar medra
Quando tua pupila se dilata, gira e se apaga inocente.

Ah! Se o meu bem, se a minha alma em ti se esconde
Meu amor sempre te procura nos movimentos noturnos
E nem ao menos ao eco respondes! Onde estás? Aonde?

Não sei se te guardo ou se te perco na tua chama fria.
O meu amor é silêncio quando teu coração branqueia
E, sempre, luz e fogo perdidos em haustos de agonias...

O Sibarita

sábado, outubro 21, 2006

ELA... A LUA

Ela... A Lua

É sempre assim...
Na caída do dia
quando o pôr-do-sol
apaga os rastros da tarde
na preamar de Jauá.
O tempo
degela a noite
no celeste infindo
e repleta de luz
flameja a lua
tão clara
tão leve
tão nua
que a redondez sensual
flui toda volúpia
do cio aflorando
libidos
e fantasias
na grade da noite.

É sempre assim...
A lua solta,
Lasciva e o céu
Sacudindo em brilho.

Em êxtase
fervilho!

O Sibarita

domingo, outubro 15, 2006

VÔO

Vôo

Olhando o horizonte,
o caminho
acena por linhas,
disfarço...
Se no pôr-do-sol
bebo do teu vinho
cheio de presságios,
guio a linha, o fio...

faço, então, os traços
e, no azul crespo,
desfaço...

Mas,
se mudas
a cor do vinho,
refaço
e, nas tuas asas,
parto...

O Sibarita

quarta-feira, outubro 11, 2006

OBSESSÃO

Obsessão

Agora é tudo!
Mas, não me fale
das flores na beira
do túmulo...
Na luz da paixão
o amor fascina
e nega!
Porém, na curva
do teu olhar
te vejo nua
matando a flor
do amor que
se insinua.
Me diz então
Se o punhal
da agonia
virá em
algum dia?
É que olhando
o céu de Sofia
esta paixão
pode correr
a revelia...
No entanto,
ouvindo o teu canto
do meu sol desabado
o coração enlaçado
embarca na nau
dos desesperados
e acende o farol
dos naufragados...
Mas, não sei
se jogarás a bóia
dos afogados!

O Sibarita

domingo, outubro 08, 2006

PEGA-ME, SONETO

Pega-me

Pega-me sempre nas tuas mãos macias, pega-me
A lua e sempre ao derredor do nosso leito... Nua
Largada, cumprida a meia luz nos lençóis... Amada
Em frenesi orvalha a noite que sai do casulo e ri...

Pega-me na relva fina do teu púbis, oh, pega-me
Reinunda os desejos do céu que germino... unta
Anseios, peles e olor erguendo libidos... lampejos
Advindos, ápice, orgasmos, doçuras e gemidos...

Pega-me sempre no teu olhar em chamas, pega-me
Fala do amor a pura essência do teu seio... Afaga
Desejos antigos no céu e no luar dos teus beijos...

Pega-me sonhando no teu colo inefável, pega-me
Sublimo o teu ser nessa noite de colheitas... Rimo
Versos sorvendo do teu mel nos gozos ascéticos...

O Sibarita
Posted by Picasa

sexta-feira, outubro 06, 2006

ALAGADOS

Alagados

Aos meus amigos de Infância.
Em memória: Valtemir, Vando Bandolo, Gilson Caruru,
Toinho Magriça, Carlinhos Negão e Mario Nagô.

Estes versos
são memórias e sonhos
da maré como lembrança
nos desejos da infância
vivida nas palafitas...
De pés descalços
correndo pelas pontes,
catando raios de sol
nas asas de um beija-flor!
Meu coração tinha enredos:
melancolia e fantasias
palpitavam como folias
e desfilavam sem alegorias...

À noite,
os momentos eram
infinitos: um fifó aceso
espantando a escuridão,
gatos lânguidos esfomeados,
ratos correndo dos algozes
e tamancos rachados
fugindo da leptospirose...
O tempo à noite
sempre se estendia,
eu tentava empurrá-lo
com as mãos, pura agonia!
Ele teimava em desfilar
entre os dedos, lentamente...
Segundos, minutos, horas e dias,
parava o tempo!

Uma Ave Maria e um Pai Nosso
para amenizar o sofrimento!

Pela fresta,
via-se as últimas gotas
de estrelas trêmulas
circulando sobre tábuas
podres sobrepostas
e esqueletos de caibros
sob a lua que ludibriava os telhados...

O dia
florescia na enchente,
atiçada pela maré de março.
Em cada barraco, olhos velados
retiravam o que tinham
e o que não tinham, sufoco!
O povo dos alagados
recorria a todos os santos
sob a luz de um sol minguado...

Correi marezeiros!

Há nas pontes,
dependurados e sombreados,
desejos da vida, sangue em lágrimas,
trapos velhos e pinicos furados
rasgando o ventre dos sonhos,
agora, macerados!
Bocas de caranguejos, asas de morcegos
e nenhuma flor como desejo...

A maré cheia
nos convidava ao mergulho.
Crianças davam caídas,
era o prazer do corpo na água,
o debater de braços e pernas,
nadar! Ingenuidade da flor idade...
Na borda do prazer,
a cilada montava o cenário
entre estacas, lixos e galhos.
O perigo era fatal... Tarde demais!
No azul, um sol de tempestades.
A morte é crua, a felicidade é fugaz,
na adversidade mais um que se vai...
Erguia-se um silêncio!
Havia uma alma desesperada,
em fuga, pedia a extrema-unção.
A tarde uivava, a dor se curvava
e nenhum padre, nenhuma benção,
mas a noite te virá em orações!
Naqueles momentos,
a maré cumpria a sua sina.
Vestia-se de cinza
e nos desespero das lágrimas
uma garoa fina!

Mas, não sei, era paradoxal!
Pratos vazios, tripas em revoluções,
urubus, cachorros e ratos
lutavam por comidas no beira mangue...
Siris magros e mariscos aferventados,
crianças amareladas exangues.
O prato se repartia, mercúrio disputado,
enquanto, lombrigas faziam greve de fome!

Sob um céu de jade,
natal chegava
com luas estreladas!
Nos olhares, quanta alegria,
escondendo a dor, a melancolia...
Os barracos eram enfeitados,
nos pisos de tábuas carcomidas
a areia branca dava o toque mágico,
nos alagados, enfim, tinha vida!
Nos jarros de barro,
galhos de pitanga e espadas de Ogum,
folhas de arruda presas nas portas,
sal grosso nos telhados e alfazema
para espantar os maus-olhados,
gatos pretos ludibriados...
A noite era o olhar e viria em clarões!
Nas portas, nenhum tamanco, nenhum chinelo
e pela manhã, nem ao menos uma bola, uma boneca!
Papai Noel nunca vinha, disfarçava, enganava...

No fundo de nós,
uns olhos de tormentos
torturados por natais iguais,
à procura de manhãs desiguais!

Valei-nos, Jesus menino!
Lembrai dos vossos pequeninos,
em vossas mãos, os nossos destinos!

O Sibarita.
Posted by Picasa

terça-feira, outubro 03, 2006

JOÃO PALAFITAS

João Palafitas

Acordou, escovou
os dentes com carvão,
olhou a mesa, pratos vazios...
Ruminou com os olhos a fome.
Abriu a janela, viu
um sol nascente mirrado,
mas, que enche bocas vazias
dependurado nos caibros...
Rogou aos céus!
Passou pó de pemba no peito,
colocou o patuá no pescoço,
fechou o corpo!
Apanhou o gereré,
chamou por Ogum de Ronda
e desceu para a maré.
Foi mariscar...
Papa-fumo,
canivete e rala-coco.
Siris magros,
caranguejos e aratus.
Não acreditou no que viu!
Passou as mãos nos olhos,
viu a fonte do seu alimento,
sem ao menos lhe darem
outro meio de sustento
aterrada pelo lixo
da noite para o dia!
Chorou nas mãos
toda sua agonia...
Enquanto,
ratos, baratas e urubus
faziam a festa, sorriam!
Ainda restava
um pinico de maré,
não pensou duas vezes:
do gereré rasgado, deu-lhe algum nó,
pescando magros baiacus,
tinha ali o seu por do sol!
Subiu as pontes,
passou no cacete-armado
de Tonha de Zene,
deu uma para o Santo
e tomou três poca-olho.
Saiu mambembe,
revirando os olhos, zarolho!
Chegou ao barraco, sem tirar as tripas,
feliz, jogou na panela os baiacus,
danação de fome! Aferventados,
encheu o prato, agradecido,
fez os sinal da cruz!
Chamou para dentro o alimento,
enganou ali todo sofrimento...
Dormiu por um momento,
sonhou com uma vida melhor,
com a primeira namorada,
como seriam os filhos ali,
sem escolas, sem horizontes,
só lixos por todos os cantos.
Bateu escuridão! Acordou
com o serviço de alto falantes
São Lázaro tocando: eu não
tenho onde morar...
Deu caruara!
Correu para o pinico,
o corpo trêmulo, suava!
Ainda tomou um chá de velame
para rebater o veneno dos baiacus
que tinham lhe saciado a fome.
Deu vexame!
Colocaram o corpo moribundo
no carrinho de mão,
correram pelas pontes
em busca de socorro.
Tarde demais!
João, semi-inconsciente
pensou na maré e na infância.
Deu o último suspiro,
ficou tudo na lembrança...

Nos terreiros,
o silêncio dos atabaques!
Nos barracos pendurados
um céu cinza nos olhares...

Deus sabe!

O Sibarita

quinta-feira, setembro 28, 2006

FASES

Fases

Fases são como luas
estão entre nós, estão no deserto da alma.
São as quatro estações, são as flores
são os jardins, são os nossos amores!

Fases são chuvas em noites vagas
despertando o molhar dos rostos...
São os caminhos, são as chagas
são nevoeiros, são corações postos!

Fases são sonhos cheios de abismos,
é o correr do tempo, é o teu ser...
São névoas, são cataclismos
são dores e não se deixar morrer!

Fases são renascimentos
sou eu! Vi sonhos, vi destinos...
São luzes, são alentos
são Anjos, são momentos!

Fases são luas encantadas
é voce! Brilho dos céus estrelados...
São rotas, são estradas
são querubins, são fados!

Fases são luas novas, luas cheias
somos nós! Tabuleiros de astrologias...
São fios, são teias
são búzios, são magias
são taros, são alquimias!

O Sibarita

Posted by Picasa

terça-feira, setembro 26, 2006

NOITE DE GATOS

Noite de Gatos

Ah, essa noite de gatos,
ceifando o brilho do abajur!
Sombras sobre a cama
no primeiro ato...

Desejos se apagarão em instantes!
Corações trêmulos em plenos hiatos
e, carnes rubras sob ventos agônicos
que corpos enroscados cristalizam.

Noite de retalhos...
Penumbra de gatos!
Arrancam-se os espelhos,
partem-se os cristais!

É paixão? Mas, corrói!
Felinamente o amor
foge a galope...

O Sibarita


Posted by Picasa

domingo, setembro 24, 2006

PRELÚDIO

Prelúdio

Há de se exprimir esse meu derramamento de amor,
Letras por letras, letras vivas que a boca não te diz!
Eu sei que o mesmo coração que encharca a pena,
Expressa nos versos o desejo, o instinto da paixão...

Mas, o amor faz medo... A confissão espanca, arde,
Sangra impotente, dá nó e morre presa na garganta.
Enfolho, então, o grito abafado. O pensamento ferve!
- Vulcão sentimental incandescente e lava reticente...

O coração traspassado na paixão fala e fala nos versos.
Na mente, a ânsia do amor, escorre em retalhos de papel!
-Guardo, no entanto, nos meus olhos os desejos imersos...

Os debruns das palavras tornam-se um turbilhão
A flor, o canto, o olor e o céu de quem escreve!
- Diga ai coração com seis cordas de paixão...

O Sibarita
Posted by Picasa

sábado, setembro 23, 2006

EQUAÇÕES

Equações
Aqui, adejo meus vulcões
todos eles em lavas
e em plena erupções.
Cospem línguas de fogo
para decifrar a incógnita
das tuas equações!

Me diz...
Se um dos lados do teu coração
é adjacente ou um ângulo reto
de um triângulo que não é retângulo?

Sim,
eu sei, poderia ser um cateto,
mais os lados não são iguais
e o teu amor é imperfeito...

O amor é a forma da igualdade
a incógnita vem na raiz da equação
e na junção de duas quantidades
o produto é a soma da tua imperfeição!

A paixão é um número multiplicado
da raiz, elevada a segunda potência
na incógnita de um quadrilátero
da resultante dos quadrados...

As tuas equações são girândolas
de catetos toscos em charadas
extraídas do arco das fórmulas
no bálsamo das flores murchadas!

E então?
Me fale dos versos!
Eles tem a marca da estigma
e o segredo dos anversos
no decifrar do teu enigma...

O Sibarita
Posted by Picasa

quinta-feira, setembro 21, 2006

VÊNUS DE PARIS

Vênus de Paris

Duquesa, estes versos tem destino!
As palavras na espuma das nuvens,
São desejosas aos teus olhos felinos
Ainda que a primavera não te curve.

Mas, neste teu perfil de flor/musa
Enlaçam-me os desejos e no apuro
Do olhar sob os botões da tua blusa
Vejo teus lírios abrasados, fogo puro!

Seios libertinos, esplêndidos e lascívos
Na sedução do querer se mostram... nus
Aflorados, se entregam desejosos, rijos
Provocam os versos desse rendez-vous...

É que me inspiras, doce Vênus, enfeitiças
As estações enlaçadas dos meus espelhos
Vejo em ti, luz possuída, luzindo da cobiça
Sob o luar e na loucura dos meus beijos...

Teu corpo e o sol da tua seiva evaporada
É frágua dos meus gozos correndo refém
E nos desejos da noite na luz dissimulada
Os teus infinitos orgasmos dizem amém!

Duquesa, duquesa libertina, Vênus de Paris!
Poço dos uis e dos ais, deusa é o teu nome
Sobre o meu leito enlouquecida... ó flor meretriz
Covil do prazer aos gozos que nos consomem...

O Sibarita
Posted by Picasa

terça-feira, setembro 19, 2006

MURMÚRIO

Murmúrio

Quebrado o teu silêncio o meu coração convulso
Pelo gume da tua paixão, apunhalado, converte
O azul dos teus passos no cinza cativo resoluto
Do teu caminhar em que no meu olhar se perde....

Mas, não sei... Se é isso, aquilo ou pássaro ferido,
Do teu coração ceifando todo destino, toda paixão!
Sei, perguntas de arcos e flechas pelo amor vencido,
Esquecido, bem assim, pisando as lágrimas no chão...

É que sobrou em mim o teu silêncio de perfume angorá,
E esse amargo encanto, misterioso, do teu olhar em tese.
Ai de mim! Esse murmúrio que aos teus pés se erguerá
Por certo, dirás, o amor murchou, desandou na maionese...

Agora, errante amor, agora deixa que da paixão as sobras
Do que fomos renasça novamente sob o luar que mingou
Ao som das ondas marulhantes do teu peito e nas bordas
O lume que mata a sombra, não brilha mais, se apagou...

Agora, errante amor, ouve o que digo antes que o vento
Apague a tua presença e corte sob o luar os fiapos de amor
Nos suspiros que restam soluçando a angústia desse tempo
Quando a flor da paixão no céu do teu coração amargou...

Se te mostro o meu amor, é por culpa, de um anjo ou demônio
Que cravou as tuas mãos, o teu fogaréu nas juras do meu corpo.
E na delícia dos nossos gozos plantou um pé de todos os sonhos
Na janela do meu coração que confessa, rasga e mostra o poço...

O Sibarita

Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 18, 2006

LOBA


Loba, meus lábios
Navegam no oceano
Do teu púbis e
Aportam no teu porto,
Afogando-se no mar
Banhado dos teus gozos.

Onda por onda, esparsos...

Eu sorvo o mel da indecência
Nas algas do teu sargaço no estio
Onde circula o riço da tua essência
Nesse mar que transborda o teu cio.
Teus sussurros protervos aos ouvidos...

Rebrilham na flamância do teu corpo,
Cavalgando em fúria na redondez sensual
Do meu mastro rijo – oblíquo – latejante
Em que tu, loba, me fazes o teu chacal.

Fera doida uivando alucinada...

Taça esbelta de loucuras que delira
Lunar delícia da minha boca viciada.
No rogo dos teus seios de luas cruas
Entrego-me na festa dos teus gozos.

Ôie! Tremei povos de Sodoma...

Nos espasmo dos prazeres da carne
Ó loba! Rumina o velho marinheiro
Navegando na volúpia tão sublime
Que em êxtase uiva nos teus desejos.

Ai meu Deus!

É que nesse oceano de fogo
Os teus orgasmos se fundem
No mar dos meus gozos...

O Sibarita
 Posted by Picasa

sábado, setembro 16, 2006

DEDICATÓRIA





Dedicatória

Lembrar-te-ei, resguardarei os meus passos
Na suavidade das fotografias que te modula
A frequência dos vestígios, assim, me refaço
Em carne rubra de desejos que o amor regula...

Decifras, então, as noites que nos rodeiam
Tu por ai, o amanhecer, rumina ventanias,
E por teu gosto me queres preso à tua teia,
Fios cândidos, tênue das horas em agonias...

Dar-te-ei uma flor e roubar-te-ei um beijo,
Tudo se diz no infinito. Entrego-me e ouço
O sussurro do anoitecer que nos cobre, vejo
Do teu olhar a melhor parte do meu corpo...

Diz-me então, se há regras, se o fogo avança
Ou se é para o teu olhar que estou correndo?
Dos olhos em que busco o amor o sol estanca
Em Jauá! Dirás que de amor estou morrendo...

Pasmo sobre a vontade do pensar e nos anis
Desse manto no coma do azul céu/lua, tateio!
Então, entrego em luz o que a boca não te diz
A chama desses versos apontados ao teu seio...

Entretanto, dos teus olhos de primavera acesa
Colho os brancos lírios, encontro cobiça e fuga.
Oh delicada estrela não sei se a paixão é avessa
Ou se ébrio de paixão o destino faz o caminho...

O Sibarita

sexta-feira, setembro 15, 2006

MEU AMOR


(Réquiem)

Em qualquer noite, qualquer dia,
Apago o teu coração, o teu olhar.
Mato o desejo e no riso da agonia
Deixo gota a gota o amor sangrar...

Na pré-coma... na coma profunda
Corto o oxigênio e no estado terminal
Uma flor na lapela da dor que se afunda
E no descanse em paz farei o teu funeral!

Cremarei tudo: o amor, a paixão e a dor.
E sob a noite fria, sem lua, um pandeiro
Alforriado rufará sobre o mar desolador
Onde jogarei as cinzas à luz de candeeiro!

Te farei orações daquele meu antigo sonhar
E olhando o horizonte como desejo derradeiro
Será na missa de sétimo dia sob a lua de *Jauá
Que chorarei às estrelas por esse amor arteiro!

De luto mostrarei ao luar os sonhos que em ti sustentei
Transformarei em silêncio o presente das lembranças
E cortarei em mil pedacinhos o tempo em que te amei.
Oh, Deus! A porta entreaberta, ainda, range de esperança.

E no entanto, o réquiem dessa paixão cortada ao meio
São versos fúnebres... busco em ti o desejo que se lança
Em mim falta a metade inacabada do teu coração alheio
Por não saber se esse meu querer o teu amor alcança!

O Sibarita

*Jauá, lugarejo de praia com luar muito bonito,
distrito da Cidade de Camaçari/Ba. Litoral Norte de Salvador.
Posted by Picasa

quarta-feira, setembro 13, 2006

CIRCO II

O ilusionista

A paixão louca, é alude, chora lágrimas perdidas.
Aniquilado e na amargura, o amor, faz mistérios!
E, o que foi, lá se foi... Oh, flores fortuitas, a vida
Balançando na aragem dos vãos de um trapézio...

...Paladina do amor e encantadora na essência pura,
Curva o destino... A paixão, auréola dos derradeiros
É santa mártir, qual luz dissolve e, no tempo perdura
Como heroína dissoluta do coração lançado ao picadeiro.

No palco do circo da aflição, o amor é carrossel,
Ó diversão, doida e cruel! O palhaço do sentimento
É ilusionista... Ri de si! A platéia faz o seu tropel...

Divina! Agônico, pulsa o coração malabarista,
Em mim, alguma coisa a ti pertence... O amor,
Ao tudo, ao nada, fala da paixão contorcionista...

O Sibarita

segunda-feira, setembro 11, 2006

Sibile

Amada, retirai o vosso silêncio do meu caminho
Que eu quero passar com o meu tédio, minha dor.
Na essência, vos digo, que meu grito mesmo surdo
É maior que o teu silenciar. O brado é: amor, amor...

Nas entrelinhas, guardai vossa fúria e nos transbordos,
Amada minha, não me negues, sei e sabes somos desejos.
Em nós, a palavra amor é uma só: Paixão, paixão e paixão...
A névoa é breve, fragílima... O teu reino, é o meu reino!

É que as horas descem pulsando o teu nome no aroma puro.
Minha rainha, no tempo dos anjos, a luz se faz nos momentos,
Mas, a teia do caos, no galope, a paixão e o amor tornam nulo
Desacompanhando o compasso da ampulheta na asa do vento...

Vida minha, já não sei bem o que fui ou o que ainda sou, dizes!
O templo da razão tem porta estreita, serei sempre o servo, o rei
Para gozar-te em paz e desejos na febre de viver sem cicatrizes,
E nunca negar o amor na luz do teu rosto que sempre te amei...

Volta-me e pega-me quando os meus lábios e a pele rememoram
A memória do teu corpo, reinunda-me dos teus desejos de novo.
Um grande amor nasce da peregrinação ao santuário da paixão,
Devolve-nos ao passado e sonhas comigo, vendo-me ao teu lado...

Que hás de me ter mesmo na minha ausência. O querer desfará
O sibile de flechas. Há mesmo, dilúvios de luz vindo a caminho
Agonizando toda escuridão. Amor meu, me oculto no teu olhar
Quando em minhas entranhas o verbo amor grita o teu nome...

O Sibarita

sábado, setembro 09, 2006

Trevas de Setembro

Os aviões, pássaros metalizados
Arremessados nas gêmeas siamesas
A Meca do capitalismo selvagem.
Cegos, na manhã de incertezas
Deixam sob um céu atônito, rastros
De escombros e uma linha rubra
Com corpos mutilados, estilhaçados...

As torres, gêmeas imponentes
Tão diáfanas em plena difusão!
Em meio aos ferros retorcidos
Corpos sem cor, sem semblantes
Como carnes atiçadas, queimadas...

Pura devastação, aqueles pássaros
Bolas de fogo em fragor fumegante!
Pedra e poeira, aço e cimento, avaros.
Na bandeira do ódio sangram inocentes
E nos destroços como um rio exangue
Mudando o curso, ceifando os caminhos
Esvaem-se vidas nos borbotões de sangue!

Nas gêmeas torres em descambo,
Nova York sangra ao canto do idílio
Moedas de fel interrompendo destinos,
Desesperos! Última navegação de vidas,
Viagem... Cadáveres queimam ao tempo!

Procuro entender aquelas imagens
O coração petrificado, mera mortalha
Macerado, arde também em chamas,
Insone indignação que a ira enxovalha!

Acendo um cigarro, vejo a TV e submerjo.
No cinza/céu, perco-me, nos próprios passos.
Mas, tateio a primavera, adubo as sementes,
No ventre, flores murchas de aroma sugado!

O Sibarita
Set/01
Posted by Picasa

segunda-feira, setembro 04, 2006

Vênus


Ninfa dos amores,
curvo-me ao teu corpo orvalhado,
onde, meus lábios se lambuzam,
sugando-te o favo do pecado.

As minhas mãos passeiam,
é querer, é brisa... é ventania,
percorrendo nos teus pelos
e entranhas como gotículas
inocentes dos meus desejos.

Beijarei os teus róseos mamilos,
enquanto dedilho meus acordes,
onde, florescem as tuas penugem
em cor tênue de cobre polido.

Ó flor! Descerei ao teu tronco,
desabrochando tuas pétalas.
Delas, inalarei o perfume,
sorvendo da alquimia frenética,
toda a seiva do teu néctar...

Gazela! Tu, apenas tu,
carne de cristal, úmida de gozos.
Sob as luas que sonhastes,
enlouquecida nos meus beijos covardes,
a noite borbulha os teus ardentes gritos,
não me mates, não me mates...

O Sibarita
Posted by Picasa