Cabelos de ouro e cobre sobre os lençóis, Água navegante, mar que aporta em mim. Sei, é preciso navegar e navegarei até ao sol Para encontrar essa luz que brilha em ti...
Acerco-me de ti polindo o lampadário do amor Mas, é necessário conhecer o próprio sentimento. Falar-se-á dos destinos, da primavera em flor Debruando na cerração encabulada do tempo...
No horizonte profundo ajunta os sóis de fogo Tentando decifrar códigos que nos envolvem Quando os dias movem-se por entre os rogos Dos desejos que o canto da distância dissolve...
E nessa luz que corre/escorre pelos os teus poros Cavalga a lua crescente e o sol no lume trigueiro Bronzeando desejos dos teus seios de asteróides Sempre imersos no mar moreno do meu peito...
Na luz difusa quando o crepúsculo cai na horizontal A noite abre as asas na transcendência da imaginação E no teu corpo: os toques e ângulos, camélias e coral. -Valha-te Deus! Flecha e sol fincados no teu coração...
Ai Deus! Hoje, agora, retorno purificado. Depois de quarenta dias de penitencias, Ressurjo na via sacra em desejos enjaulados Reféns dos gozos em plena abstinência...
Mas, há um fogo que dança nas chamas Das donas moças na explosão do sexo... Eu estou livre, leve e solto. A fila anda E, na flor da menina o melaço dos nexos...
Jorrando no púbis da relva oxigenada vencida. Quero a delícia da lua, quero o encanto do céu Das donzelas noturnas seguindo a vida na lida. -No silêncio da Cruz, os uis e ais ressoam ao léu...
Evoé! Faminto, atiro-me de volta ao mundano Naqueles sóis de girassóis abertos na fartura Sob o bel-prazer na vidraça dos dias profanos. -O sexo explode, gemem as deusas nas alturas.
Tudo desabrocha nos suspiros em desejos, decolo. Eu não sou dono de mim e afim não há o que resistir Entrego-me as piriguetes. Ai! Deito, rolo e embolo. -Nas grutas púrpuras os gozos, assim, bem assim...
Valha-me Deus! Uma lua em meio à profanação, reza...
Por amor deste amor é a noite... qual o teu rosto? Não sei! Nadja, Maria, Clarisse, Joana, Helena... A quem, por meu destino e teu pecado exposto, Que eu pague à estrela do mar teu céu fora de cena...
O amor é feito de claridade na água de bica em pedra. Em tua pele eu escorro, é que sou todo uma nascente Entre nuvens caindo da noite que no teu olhar medra Quando tua pupila se dilata, gira e se apaga inocente.
Ah! Se o meu bem, se a minha alma em ti se esconde Meu amor sempre te procura nos movimentos noturnos E nem ao menos ao eco respondes! Onde estás? Aonde?
Não sei se te guardo ou se te perco na tua chama fria. O meu amor é silêncio quando teu coração branqueia E, sempre, luz e fogo perdidos em haustos de agonias...
Maré de Março A Oliver No céu pássaros agourentos sobrevoam o espaço, Pelas parabólicas anunciam e expõem ao mundo Cacos de pessoas fugindo da enchente de março Sobre tábuas carcomidas e corpos moribundos...
Era sempre assim: A miséria e a maré de março Irmanadas nos alagados desciam goela a dentro Em finos estiletes sangrando a esperança lassa Nos meandros do amanhã esplêndido e luzente...
A maré sem fim formava um mosaico Afogando o azul, desfilava lentamente, Na fragrância da tristeza nos barracos. -Parava o tempo: dias e noites de agonias...
Moribundas estrelas despencavam sem sono No azul embuçado sobre telhados ao relento... O martírio no silêncio fazia sentir o abandono Num barquinho arribado carregando sofrimento...
Sob uma lua de pirambeira o meu barquinho De papel navegava levando dores profundas Por rotas desconhecidas de sonhos. Ai flores! -Nos rostos: o sal das lágrimas e maré funda...
Da enchente daquelas manhãs em deságuo Afogando o chão de velhas tábuas carcomidas. Ai Deus! Vento, ventania a dança dos caibros Sob a abóbada do balança mais cai da subvida...
Nas palafitas barrigas vazias sem infância Ruminavam na mesa um canto de pura fome. - O horto do martírio em chagas espanca: Olhar miúdo, pratos vazios, crianças exangues...
As noites desciam monótonas nos fifós acesos. Nas orações das promessas que não se alcança, Dançava a esperança nas dobras dos desesperos Galopando o alvorecer que fugia na distância...
Ah, lá fora, as palafitas é poço do mundo estéril. Revirando as pontes pelos avessos e sonhando Mariscávamos luas e sóis num celeste deletério Sobre a maré com os nossos destinos boiando...
Ai meu São Jorge! Livrai-nos dessa agonia, Com a tua lança no alforje Matamos vários dragões pôr dia...