quinta-feira, março 27, 2008

FLECHA, SOL E LUZ

Flecha, Sol e Luz

Cabelos de ouro e cobre sobre os lençóis,
Água navegante, mar que aporta em mim.
Sei, é preciso navegar e navegarei até ao sol
Para encontrar essa luz que brilha em ti...

Acerco-me de ti polindo o lampadário do amor
Mas, é necessário conhecer o próprio sentimento.
Falar-se-á dos destinos, da primavera em flor
Debruando na cerração encabulada do tempo...

No horizonte profundo ajunta os sóis de fogo
Tentando decifrar códigos que nos envolvem
Quando os dias movem-se por entre os rogos
Dos desejos que o canto da distância dissolve...

E nessa luz que corre/escorre pelos os teus poros
Cavalga a lua crescente e o sol no lume trigueiro
Bronzeando desejos dos teus seios de asteróides
Sempre imersos no mar moreno do meu peito...

Na luz difusa quando o crepúsculo cai na horizontal
A noite abre as asas na transcendência da imaginação
E no teu corpo: os toques e ângulos, camélias e coral.
-Valha-te Deus! Flecha e sol fincados no teu coração...

O Sibarita

segunda-feira, março 24, 2008

PURIFICADO

Purificado

Ai Deus! Hoje, agora, retorno purificado.
Depois de quarenta dias de penitencias,
Ressurjo na via sacra em desejos enjaulados
Reféns dos gozos em plena abstinência...

Mas, há um fogo que dança nas chamas
Das donas moças na explosão do sexo...
Eu estou livre, leve e solto. A fila anda
E, na flor da menina o melaço dos nexos...

Jorrando no púbis da relva oxigenada vencida.
Quero a delícia da lua, quero o encanto do céu
Das donzelas noturnas seguindo a vida na lida.
-No silêncio da Cruz, os uis e ais ressoam ao léu...

Evoé! Faminto, atiro-me de volta ao mundano
Naqueles sóis de girassóis abertos na fartura
Sob o bel-prazer na vidraça dos dias profanos.
-O sexo explode, gemem as deusas nas alturas.

Tudo desabrocha nos suspiros em desejos, decolo.
Eu não sou dono de mim e afim não há o que resistir
Entrego-me as piriguetes. Ai! Deito, rolo e embolo.
-Nas grutas púrpuras os gozos, assim, bem assim...

Valha-me Deus!
Uma lua em meio à profanação, reza...

O Sibarita

segunda-feira, março 10, 2008

LUZ E FOGO

Luz e Fogo

Por amor deste amor é a noite... qual o teu rosto?
Não sei! Nadja, Maria, Clarisse, Joana, Helena...
A quem, por meu destino e teu pecado exposto,
Que eu pague à estrela do mar teu céu fora de cena...

O amor é feito de claridade na água de bica em pedra.
Em tua pele eu escorro, é que sou todo uma nascente
Entre nuvens caindo da noite que no teu olhar medra
Quando tua pupila se dilata, gira e se apaga inocente.

Ah! Se o meu bem, se a minha alma em ti se esconde
Meu amor sempre te procura nos movimentos noturnos
E nem ao menos ao eco respondes! Onde estás? Aonde?

Não sei se te guardo ou se te perco na tua chama fria.
O meu amor é silêncio quando teu coração branqueia
E, sempre, luz e fogo perdidos em haustos de agonias...

O Sibarita

quinta-feira, março 06, 2008

MARÉ DE MARÇO

Maré de Março
A Oliver
No céu pássaros agourentos sobrevoam o espaço,
Pelas parabólicas anunciam e expõem ao mundo
Cacos de pessoas fugindo da enchente de março
Sobre tábuas carcomidas e corpos moribundos...

Era sempre assim: A miséria e a maré de março
Irmanadas nos alagados desciam goela a dentro
Em finos estiletes sangrando a esperança lassa
Nos meandros do amanhã esplêndido e luzente...

A maré sem fim formava um mosaico
Afogando o azul, desfilava lentamente,
Na fragrância da tristeza nos barracos.
-Parava o tempo: dias e noites de agonias...

Moribundas estrelas despencavam sem sono
No azul embuçado sobre telhados ao relento...
O martírio no silêncio fazia sentir o abandono
Num barquinho arribado carregando sofrimento...

Sob uma lua de pirambeira o meu barquinho
De papel navegava levando dores profundas
Por rotas desconhecidas de sonhos. Ai flores!
-Nos rostos: o sal das lágrimas e maré funda...

Da enchente daquelas manhãs em deságuo
Afogando o chão de velhas tábuas carcomidas.
Ai Deus! Vento, ventania a dança dos caibros
Sob a abóbada do balança mais cai da subvida...

Nas palafitas barrigas vazias sem infância
Ruminavam na mesa um canto de pura fome.
- O horto do martírio em chagas espanca:
Olhar miúdo, pratos vazios, crianças exangues...

As noites desciam monótonas nos fifós acesos.
Nas orações das promessas que não se alcança,
Dançava a esperança nas dobras dos desesperos
Galopando o alvorecer que fugia na distância...

Ah, lá fora, as palafitas é poço do mundo estéril.
Revirando as pontes pelos avessos e sonhando
Mariscávamos luas e sóis num celeste deletério
Sobre a maré com os nossos destinos boiando...

Ai meu São Jorge!
Livrai-nos dessa agonia,
Com a tua lança no alforje
Matamos vários dragões pôr dia...

O Sibarita