Alagados
Aos meus amigos de Infância.
Em memória: Valtemir, Vando Bandolo, Gilson Caruru,
Toinho Magriça, Carlinhos Negão e Mario Nagô.
Estes versos
são memórias e sonhos
da maré como lembrança
nos desejos da infância
vivida nas palafitas...
De pés descalços
correndo pelas pontes,
catando raios de sol
nas asas de um beija-flor!
Meu coração tinha enredos:
melancolia e fantasias
palpitavam como folias
e desfilavam sem alegorias...
À noite,
os momentos eram
infinitos: um fifó aceso
espantando a escuridão,
gatos lânguidos esfomeados,
ratos correndo dos algozes
e tamancos rachados
fugindo da leptospirose...
O tempo à noite
sempre se estendia,
eu tentava empurrá-lo
com as mãos, pura agonia!
Ele teimava em desfilar
entre os dedos, lentamente...
Segundos, minutos, horas e dias,
parava o tempo!
Uma Ave Maria e um Pai Nosso
para amenizar o sofrimento!
Pela fresta,
via-se as últimas gotas
de estrelas trêmulas
circulando sobre tábuas
podres sobrepostas
e esqueletos de caibros
sob a lua que ludibriava os telhados...
O dia
florescia na enchente,
atiçada pela maré de março.
Em cada barraco, olhos velados
retiravam o que tinham
e o que não tinham, sufoco!
O povo dos alagados
recorria a todos os santos
sob a luz de um sol minguado...
Correi marezeiros!
Há nas pontes,
dependurados e sombreados,
desejos da vida, sangue em lágrimas,
trapos velhos e pinicos furados
rasgando o ventre dos sonhos,
agora, macerados!
Bocas de caranguejos, asas de morcegos
e nenhuma flor como desejo...
A maré cheia
nos convidava ao mergulho.
Crianças davam caídas,
era o prazer do corpo na água,
o debater de braços e pernas,
nadar! Ingenuidade da flor idade...
Na borda do prazer,
a cilada montava o cenário
entre estacas, lixos e galhos.
O perigo era fatal... Tarde demais!
No azul, um sol de tempestades.
A morte é crua, a felicidade é fugaz,
na adversidade mais um que se vai...
Erguia-se um silêncio!
Havia uma alma desesperada,
em fuga, pedia a extrema-unção.
A tarde uivava, a dor se curvava
e nenhum padre, nenhuma benção,
mas a noite te virá em orações!
Naqueles momentos,
a maré cumpria a sua sina.
Vestia-se de cinza
e nos desespero das lágrimas
uma garoa fina!
Mas, não sei, era paradoxal!
Pratos vazios, tripas em revoluções,
urubus, cachorros e ratos
lutavam por comidas no beira mangue...
Siris magros e mariscos aferventados,
crianças amareladas exangues.
O prato se repartia, mercúrio disputado,
enquanto, lombrigas faziam greve de fome!
Sob um céu de jade,
natal chegava
com luas estreladas!
Nos olhares, quanta alegria,
escondendo a dor, a melancolia...
Os barracos eram enfeitados,
nos pisos de tábuas carcomidas
a areia branca dava o toque mágico,
nos alagados, enfim, tinha vida!
Nos jarros de barro,
galhos de pitanga e espadas de Ogum,
folhas de arruda presas nas portas,
sal grosso nos telhados e alfazema
para espantar os maus-olhados,
gatos pretos ludibriados...
A noite era o olhar e viria em clarões!
Nas portas, nenhum tamanco, nenhum chinelo
e pela manhã, nem ao menos uma bola, uma boneca!
Papai Noel nunca vinha, disfarçava, enganava...
No fundo de nós,
uns olhos de tormentos
torturados por natais iguais,
à procura de manhãs desiguais!
Valei-nos, Jesus menino!
Lembrai dos vossos pequeninos,
em vossas mãos, os nossos destinos!
O Sibarita.
Aos meus amigos de Infância.
Em memória: Valtemir, Vando Bandolo, Gilson Caruru,
Toinho Magriça, Carlinhos Negão e Mario Nagô.
Estes versos
são memórias e sonhos
da maré como lembrança
nos desejos da infância
vivida nas palafitas...
De pés descalços
correndo pelas pontes,
catando raios de sol
nas asas de um beija-flor!
Meu coração tinha enredos:
melancolia e fantasias
palpitavam como folias
e desfilavam sem alegorias...
À noite,
os momentos eram
infinitos: um fifó aceso
espantando a escuridão,
gatos lânguidos esfomeados,
ratos correndo dos algozes
e tamancos rachados
fugindo da leptospirose...
O tempo à noite
sempre se estendia,
eu tentava empurrá-lo
com as mãos, pura agonia!
Ele teimava em desfilar
entre os dedos, lentamente...
Segundos, minutos, horas e dias,
parava o tempo!
Uma Ave Maria e um Pai Nosso
para amenizar o sofrimento!
Pela fresta,
via-se as últimas gotas
de estrelas trêmulas
circulando sobre tábuas
podres sobrepostas
e esqueletos de caibros
sob a lua que ludibriava os telhados...
O dia
florescia na enchente,
atiçada pela maré de março.
Em cada barraco, olhos velados
retiravam o que tinham
e o que não tinham, sufoco!
O povo dos alagados
recorria a todos os santos
sob a luz de um sol minguado...
Correi marezeiros!
Há nas pontes,
dependurados e sombreados,
desejos da vida, sangue em lágrimas,
trapos velhos e pinicos furados
rasgando o ventre dos sonhos,
agora, macerados!
Bocas de caranguejos, asas de morcegos
e nenhuma flor como desejo...
A maré cheia
nos convidava ao mergulho.
Crianças davam caídas,
era o prazer do corpo na água,
o debater de braços e pernas,
nadar! Ingenuidade da flor idade...
Na borda do prazer,
a cilada montava o cenário
entre estacas, lixos e galhos.
O perigo era fatal... Tarde demais!
No azul, um sol de tempestades.
A morte é crua, a felicidade é fugaz,
na adversidade mais um que se vai...
Erguia-se um silêncio!
Havia uma alma desesperada,
em fuga, pedia a extrema-unção.
A tarde uivava, a dor se curvava
e nenhum padre, nenhuma benção,
mas a noite te virá em orações!
Naqueles momentos,
a maré cumpria a sua sina.
Vestia-se de cinza
e nos desespero das lágrimas
uma garoa fina!
Mas, não sei, era paradoxal!
Pratos vazios, tripas em revoluções,
urubus, cachorros e ratos
lutavam por comidas no beira mangue...
Siris magros e mariscos aferventados,
crianças amareladas exangues.
O prato se repartia, mercúrio disputado,
enquanto, lombrigas faziam greve de fome!
Sob um céu de jade,
natal chegava
com luas estreladas!
Nos olhares, quanta alegria,
escondendo a dor, a melancolia...
Os barracos eram enfeitados,
nos pisos de tábuas carcomidas
a areia branca dava o toque mágico,
nos alagados, enfim, tinha vida!
Nos jarros de barro,
galhos de pitanga e espadas de Ogum,
folhas de arruda presas nas portas,
sal grosso nos telhados e alfazema
para espantar os maus-olhados,
gatos pretos ludibriados...
A noite era o olhar e viria em clarões!
Nas portas, nenhum tamanco, nenhum chinelo
e pela manhã, nem ao menos uma bola, uma boneca!
Papai Noel nunca vinha, disfarçava, enganava...
No fundo de nós,
uns olhos de tormentos
torturados por natais iguais,
à procura de manhãs desiguais!
Valei-nos, Jesus menino!
Lembrai dos vossos pequeninos,
em vossas mãos, os nossos destinos!
O Sibarita.
13 comentários:
Após escrever sbre o passado e os amigos que ele me deu visito-te. Como me identifiquei com as tuas palavras. Este aglomerado de letras que se instalou em mim.
sempre palavras profundas as que encontro por aqui.
um...
´´´´´´ ¸.•“´..--^--..`“•.¸
´´´´´´)______Beijo______(
´´´´´´ `“•.¸.______.¸.•“´
Siba,
Como conheci a realidade dos alagados, ainda que à distância, como mera expectadora, visualizei cada palavra, cada linha escrita.
Querido, você é um vencedor de primeira linha. Uma estela de primeira grandeza. E escreve como poucos.
Beijo no coração
Momentos passados, presentes, palavas vividas, sentidas, do tempo que passa sem passar, e molda a nossa existencia
beijos
Maravillosa oda al pasado, hermosas letras para hablar sobre el pasado que quedó atrás, en nuestro recuerdo.
Un abrazo
_____BOM__FIM DE__SEMANA!
_____LET__THE__SUN__SHINE
______IN___YOUR___SMILE___
____8888888888888888888888
_____88888888888888888888
_______8888888888888888
_________888888888888
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_____######__**__######
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___________###**###
____________##**##
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Magnifico poema, lindo mesmo a tocar a mais pura realidade.
Embora distante dessa realidade,as palvras depositadas fizeram.me deslunbrar tamanha injustiça e tamanha crueldade deste nosso Mundo.
PArabens pelo excelente poema.
Olá, querido!
Desculpe pelo sumisso, é que eu tenho estudado demais nas últimas semanas. Assim que tiver um tempinho atualizo o blog. Minha estadia como presidente de seção foi tranquila. Dever cumprido, apesar de compulsório..ehehehe...Mas fiquei feliz pelo segundo turno, sinal de que o brasileiro não está mais tão passivo. Espero que a escolha seja a melhor para o nosso país.
Grande Beijo e ótimo findi!
Como você escreve em meu camarada? A Palafita é isso mesmo, pura sofrência... Belo poema!
abraços,
Tá rebocado piripicado
Adorei o poema tão profundo
Aqui te deixo uma breves palavras...
Anda irmão
caminhemos lado a lado
que um novo dia irá nascer...
e um outro sol despontar
De mãos dada
anda, irmão
enxuga as gotas de orvalho
que te deslizam pelo rosto
como pérolas brinhantes
feitas de dores e de desgosto
Sofreste?
Todos sofremos
foi o fruto dum destino semeado
estrumado
pelo ódio e ambição
dos poderosos
de perniciosoa sentimentos...
Anda irmão
caminhemos lado a lado
que um novo dia irá nascer
e um outro sol despontar...
bjs
Ao vivo... buenas imagenes..duras...pero vivas
Imagem fantástica e bem ilustrada pelas palavras.
Parabéns:)
adorei a foto e o poema...
é muito bom recordar!
um beijinho poeta
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