domingo, julho 23, 2006

Plenitude


A minha paixão tem sintonia fina,
Porque o meu desejo é tão imenso,
Que o coração tocaia na esquina
Os teus lábios de beijos intensos...

Entrego-me, abro os teus flancos,
Desabrocho o fogo que te fervilha,
Porquanto beijo teus lírios brancos
Minha mão brinca entre tuas virilhas...

Minhas mãos - poemas perfeitos-
Deslizam no teu corpo de salgas,
E no arrebol de ouro do teu púbis
Eu defloro o amaranto do teu sol...

Na flora umedecida do teu púbis,
Adentra com sede o meu sexo,
E no catamênio a natureza flui
O vinho tinto agudo dos nexos...

Unido ao teu tempo e na resina
Impregnada do teu olor, minha rainha,
Tu tens nos beijos o fogo de menina,
Ao afogar-me no melaço da tua vinha.

Vinhas dos céus, vôo de beija-flor!
E eu, menino, por ti viajei longe
Fiz o pouso sob aquele cobertor
Para brincar de esconde-esconde...


O Sibarita
Abr/05

segunda-feira, julho 17, 2006

Fruto Peco

Quero o seu farol
Para clarear a escuridão
E aplacar a neurose da lua
Que teima em não sair
Da penumbra
Na esquizofrenia
Dessa noite fria.
Em vão, tento avivar
O candeeiro do seu olhar
Nos meus passos sem passos.
Mas, onde estão os seus olhos?
Se não no deserto baço.
Ai de mim!
Na cerração colho
Redes de nervos tensas
Murmurando esperança e precipícios.
Eu deliro... A dor espanca
Psicótico, você é meu vício.
Se o meu amor avança
Pela sua existência afora
Fico sem a sua lembrança
Desse tempo que chora
A nossa história.
Fruto peco, o seu silêncio
É um punhal erguido
Brilhando e apunhalando
O meu coração partido.
É sangue, borbotões de sangue
Correndo, escorrendo
No meu peito exangue,
Ferido, de paixão ferido
Pende, afinal, nítido à vida crua.
Ah, esse queixume traído
E você sem capas, nua
Glorificando no fel extraído
Do seu olhar aos meus dias
Os desejos perdidos
No holocausto da minha agonia.
Mas, no galope dos ventos
Pálido, o amor clama
Na crosta dos seus ensejos
A sua chama, sem dramas.
É que a tempestade descamba
E no meu psical
De sonhos noturnos
Morro no neural
Desse tempo soturno.

Entretanto,
Envio-lhe flores,
Restos arrancados, pisados
Do jardim dos seus açoites.

O Sibarita
Out/05

quarta-feira, julho 12, 2006

Gotas

Que passos são estes?
Descubro o objeto do destino

nas tuas rosas elas exalam
teu perfume, estou imerso
na essência sublime dos amantes!
Não vou, me deixo ir...
Suspiro a tua paixão,
meus segredos e desejos
teus cantos e encantos
nossos riscos, nossos risos
Tudo é azul, tudo é verde
Tudo é luminoso,
tudo é brilhante...
Observo a paisagem,
são outras barcas ancoradas,
outro mar, outra brisa
E, te mostras por inteira
na dimensão do Deus eros.
Meu ouro,
o sol que vês, o céu aclara...
No estampado dos teus olhos,
revela-se o sino escondido
da tua alma enamorada,
lacrada!
Ah! Essa alma alegre, quieta
transcendida em estrela,
à espera...


O Sibarita
fev/00

Paradoxo

Você vê
O farol do Monte Serrat
Iluminando a Bahia

De todos os Santos,
Ao fundo

A ilha de Itaparica
Embelezando

O seu recanto!
Você não vê
Os alagados
A maré, os casebres
De tábuas
Sobre caibros
Balançando ao vento
Com sua gente
Tirando do lixo

O sustento!
Não faz parte
Da sua história
Esse povo
Sem memória!
Você vê
A lua chegar
Por sobre
Seu pedestal
No chá das seis
Com biscoito integral!
Você não vê
Crianças famintas
Pelas ruas
Fora da escola
Nuas nas sinaleiras
Cheirando cola,
Não faz parte
Do seu tempo!
Você vê
Do seu camarote
O carnaval
Barra - Ondina
Ao lado de gente fina
Grudada em sua resina
Na balada de baronesa

Descolada!
Você não vê
O botox do seu rosto
Nesse poema
Parodiado
Do seu espelho
Congelado!
Você vê
A ficha cair
Mas, não está
Nem aí
Do seu baú
De ouro
Reluzindo
O seu tesouro
Com o mundo
Aos seus Pés
E, Deus lhe
Olhando de viés!
Você não vê
O rumor
Dos seus passos
Atados nos percalços
Das trevas
Do seu coração e,
No sentido oposto
A escória enxugando
As lágrimas
Do seu rosto!
Você vê
Apenas lê
o zen astral
Do seu nome
Na coluna social
De qualquer Jornal!

Mas,
Não vê
Quando a ralé invoca
O seu nome
De dondoca...

O Sibarita
Out/20/05

terça-feira, julho 11, 2006

Silêncio

Silêncio é o teu nome
mas não me assombre
por amores perdidos
e sonhos derretidos...

Se o silêncio é o meu fel
me manda uma porção do teu mel
e adoça o amargor do meu céu!

Se o silêncio é o caminho
o que fazer das tuas flores
que me mandaste sem espinhos?
E da tua voz, e do meu lirismo
seriam paixões ou abismos?

Retenhas o silêncio, me fala...
Fala-me dos sonhos, de ti, de mim...
Quando o amor é forte, não se cala!

A face do teu silêncio
são dias de meditações
em tempestades de mutações
ou seria o rifar dos corações?

O silêncio:
É dor contida
É flor perdida
É amor florescido
É rumor nascido
É horror de quem silenciou...

O Sibarita
01/00