domingo, agosto 17, 2008

ADEUS AO BUDA NAGÔ

Assistam aos vídeos: O primeiro ele fala de Carmen Miranda e canta "O que é que a baiana tem"; o segundo ele é entrevistado por Caetano Veloso; o terceiro a Carmen Miranda canta "O que é que a baiana tem"; o quarto ele canta "É doce morrer no mar". Todos imperdíveis!
ACONTECE QUE SOU BAIANO!


Caros Leitores, peço desculpas, hoje, eu colocaria os Bastidores da Festa, por sinal, já atrasado devido a escassez do meu tempo. (O dever do trabalho) Porém, com o desencarne do nosso DORIVAL CAYMMI, o Sibarita não poderia deixa de prestar essa homenagem a quem sempre foi o ESPELHO E O MAIS BAIANO DOS BAIANOS. Na realidade, eu quando menino já ouvia as histórias e músicas de Dorival Caymmi que já era considerado o maior Sibarita da Bahia. Gostaria que os nobres leitores lessem todo texto para saber um pouco mais.

Dorival Caymmi era Filho de Santo de Mãe Menininha do Gantois, em 1972 fez a canção “Oração de Mãe Meninha” em homenagem a ela.
Era também Obá Onikoiy do Terreiro de São Gonçalo um dos mais importantes da Bahia e do Brasil. Então, vou falar desse lado pouco conhecido do Dorival Caymmi, o espiritual.
Todo baiano tem um Orixá dono da sua cabeça, não fujo à regra.

Atô Tô Meu Pai, Ogunhê!

Abaixo transcrevo um artigo do Jornal A Tarde de Salvador de Cléo Martins, advogada, teóloga e escritora. Filha de Oyá (Iansã) e Ogum iniciada na religião dos Orixás (Candomblé) anos 1970 pela falecida Ebame Eunice de Xangô da Casa Branca do Engenho Velho: Obá Sanhá. Completou sua iniciação religiosa inicialmente com Mãe Xagui, filha de Mãe Bada de Oxalá- a sucessora imediata de Mãe Aninha- a fundadora do Axé Opô Afonjá- e, posteriormente, com Mãe Stella de Oxóssi a quinta iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá do terreiro de São Gonçalo do Retiro.

OBÁ DE XANGÔ NOS BRAÇOS DE OLORUM

Cléo Martins.

A notícia relâmpago – morte de Caymmi – veio no tapete mágico voador. Perdida na contemplação do pé de damas-da-noite, transportei-me ao velho ôpo Afonjá de Mãe Senhora dos grandes e inesquecíveis obás, os ministros de Xangô, ja nos braços de Deus-Olorum: Jorge Amado, Miguel Santana, Camafeu de Oxóssi, Dmeval Chaves, Caribé... Agora Dorival Caymmi. O menestrel vanguardeiro.

Mãe Aninha, a fundadora do Axé, auxiliada por Matiniano Eliseu do Bonfim, criara, nos anos 30, o corpo dos obás: os ministros de Xangô, responsáveis pelos caminhos de seu candomblé de São Gonçalo do Retiro. Quase duas décadas mais tarde, sua filha espiritual Mãe Senhora de Oxum introduziu os “otum” e “ossi” de cada obá de Xangô. Otum significa direita; Ossi, esquerda, o que é frequente na complexa hierarquia dos terreiros. São os assessores imediatos.

São 12 os obás-ministos de Xangô, o orixá da justiça e poder em exercício, o mais popular do panteão das divindades nagôs: obá aré, obá abiodum, obá cacanfô, obá telá, obá odofim, obá xorum, obá aressá, obá onikoiy, obá olubom, obá erim, obá onãxocum, obá arolu. Os primeiros seis são chamados “obás da direita”: com direito a voz e voto e, também, de tocar o xeré, sino sagrado de Xangô. Os demais são os “obas da esquerda”, apenas com direito de voz, somente pegam os xerés na ausência dos primeiros. Não confundam os obás da direita e da esquerda com os “otum” e “ossi” de casa obá.

Dorival Caymmi era obá onokoiy, confirmado por Mãe Senhora ha mais de quatro décadas. O Cantor e ex-ministro da Cultura é um otum-onikoiy: com a morte de Caymmi, ascende ao posto de obá onikoiy. Os obás são escolhidos diretamente por Xangô: os reponsáveis pela manutenção da tradição e guardiães dos bons costumes.

Conheci Caymmi no Axé, em 1980. O venerando obá ficou mais de 15 dias em São Gonçalo, passando a limpo sua vida espiritual. Era comum vê-lo tocando violão perto do velho pé de iroco, vinhinho à casa de Xangô. Bati papos gostosos com o impressionante artista que, no terreiro, comportava-se como outro qualquer: especial por ser filho de Xangô e obá de Oxangô, não mais do que semente que deu certo perto de cascata de águas límpidas.

Pela manhã, conversando com Mãe Carmen, a ialorixá do Gantois, por telefone, com saudade nos lembramos da famosa canção Oração de Mãe Maninha cantada pelas grandes vozes da MPB. Mãe Carmen me relembrou que todos os filhos de Caymmi são iniciados no Gantois, no tempo da sua falecida mãe, daí os laços de obá onikoiy com a impressionante comunidade da federação.

O Orun está em festa. São muitos a receberem o menestrel de Xangô: Carybé, Jorge Amado, Camafeu, Mãe Senhora, Mãe Meninha, Carmen Miranda e tantos outros também sementes de primeira ao lado de manancial de água cristalina. Olorun Kossi purê obá onikoiy.

Cléo Martins/Agbeni Xangô do Axé Opô Afonjá


"...E assim adormece esse homem que nunca precisa dormir pra sonhar porque não há sonho mais lindo do que sua terra, não há." (Trecho da música João Valentão - Dorival Caymmi)


Dorival Caymmi nasceu em Salvador (BA) em 30 de abril de 1914. Era descendente de italianos pelo lado paterno. O seu bisavô chegou na Bahia para fazer reparo do Elevador Lacerda. Seu pai foi músico amador, tocava violão, bandolim e piano. A mãe, cantava apenas no lar. Criança, cresceu ouvindo parentes ao piano. Tendo cantado em coro de igreja, como baixo cantante, ainda, menino. Trabalhou na redação do Jornal O Imparcial até o seu fechamento em 1929, onde, começo aos 13 anos de idade. Passando a partir dai a vendedor de bebidas. Sua vontade de compor vem da época que ouvia o fonógrafo e depois a vitrola.

Em 1938 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se apresentou na Rádio Tupi, cantando "O Que é que a Baiana Tem?", que no filme "Banana da Terra", de 1938, foi interpretada por Carmem Miranda. Dorival Caymmi sempre escreveu sobre os hábitos, costumes e as tradições do povo baiano. Tendo como forte influência a música negra, desenvolveu um estilo pessoal de compor e cantar, demonstrando espontaneidade nos versos, sensualidade e riqueza melódica. Nas suas composições a Bahia é reverenciada pela sua religião, danças, comidas e acima de tudo pela sua vasta cultura africana.

Axé Dorival Caymmi!

O Sibarita

17 comentários:

Paula Barros disse...

Eu pedi para o Senhor do Bonfim te cutucar para você atualizar, mas não precisava matar ninguém. Mas já que ocorreu, pelo menos você atualizou com uma belíssima homenagem.
Adoro os seus poemas. Estarei no aguardo.
beijos e abraços, e como diz Pena, respeitosamente.

Deusa Odoyá disse...

Oi mu amiguinho Nelson.
uma bela história de sua trajetória de vida, na sua parte espiritual.
muito bem lembrada e quanto aos seus irmãos de religião, posso dizer que estaram em festa para recebê-lo.
Nelson, vc. como sempre, nunca esquecendo de homenagear, seu povo.
Beijos e fique na paz do mestre Jesus.
Abra seus emails., viuuuuuu.

Beijos

Maria disse...

Excelente post de homenagem ao grande Homem que é Dorival Caymmi. Ele apenas voou, mas fica sempre por aqui...
... e obrigada por me dar a conhecer mais pormenores desse mistério eterno que é a Bahía...

Beijos

Lúcia Laborda disse...

Oie lindo! Parabéns pelo belo post! Assim é a vida. Só não consigo entender, porque sendo a morte, a única coisa certa que temos, não nascemos conformados com ela.
A matéria do jornal ficou muito legal!
Aguardo meu amigo lindo os bastidores da festa, viu?
Boa semana! Beijos

Paula Barros disse...

Oi,
Voltando. Não conhecia a história de Caymmi, principalmente quanto ao aspecto da religião. Gostei de conhecer.

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Corró avisa a esse menino que coloquei fotos de Olinda no blog, e que no link Paula Barros - outro blog, tem fotos do Recife. Agora, diz a ele para ele pegar uma folga no trabalho, e ir antes do próximo domingo. No aguardo.
abraços

Bandys disse...

É! Sibaritaaaaaaaaaaaa....
Você como sempre e de forma bela nos enriquece com a sua cultura e historia.
Esse Baiano/carioca que cantou em verso e prosa tão bem 0 amor pelas suas terras, pelo mar, pela Bahia e pelo Rio...

Minha jangada vai sair pro mar
Vou trabalhar meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer


Obrigada pelo seu post e pela sua informação.
beijos

Ana Beatriz Frusca disse...

Eu adoro Dorival caymmi..é no presente mesmo, pois ele se imortalizou através de sua música.
Reparaste que ele nunca errou em nenhuma delas? Todas de uma simplicidade e beleza sem par.
Sem dúvida, a Bahia esta de luto e todo o Brasil também.

Beijos.

Pena disse...

Talentoso e Admirável Amigo:

Bela homengem. Ele agradecer-lha-ia.
Sabe, já nos meus tempos de menino ouvia repleto de deslumbre "O que é que a bahiana tem" de Carmen Miranda. Verdadeiro hino português (Tem raizes portuguesas) e brasileiro unidos fortemente por laços de uma cultura majestosa, vasta e preciosa e de uma convivência salutar/amiga entre os dois povos.
Hoje, surpreendeu-me com a notícia desencantada:
"...A notícia relâmpago – morte de Caymmi – veio no tapete mágico voador..."

Fez bem. Li atentamente a sua descrição e achei-a repleta de intencionismo admirável e magnífico. Só vindo de si.
Abraço forte de estima e respeito pelo enorme Ser Humano fantástico que é.
OBRIGADO pela sua amizade.

pena

Escreve sempre com um sentido de oportunidade imenso, amigo.

Corações e Segredos disse...

Oi meu Rei!
Linda homenagem ao Imortal Caíme!
Ele apenas fez a grande viagem mas estará nos corações de todos!
Beijos querido!
Carinho de RO!

mundo azul disse...

...pois é!
Afastou-se de nós o grande Caymmi... Mas, ficam suas maravilhosas músicas para eternizá-lo!

Uma bonita homenagem ao grande compositor...


Beijos de luz e um dia feliz!!!

Déa disse...

Eu sabia que você não poderia deixar sua homenagem. E começou com a frase certeira! Pois bem, ele agora canta no céu. Meu pai deve ter estar admirando, já que sempre foi fã!

Beijos

PS - Minha net em casa é terríiiiivel! Tento entra no MSN a noite mas não conseigo. Mas só vou trocar quando me mudar. Tou esperando a prefeita deixar de fazer campanha e cuidar das coisas da prefeituar e me dar logo o meu habite-se. Mais beijos

Lucia disse...

Linda homenagem. Simples e bela, como as letras do próprio Caymmi.
Beijos

Leticia Gabian disse...

Cumpadi,
O grande Doriva permanece nas ondas do mar e no assovio do vento...É só saber escutar...!

Beijo grande!

Kátia disse...

Fiquei muito sentida com a morte desse homem maravilhoso que cantou e espalhou a magia da nossa Bahia pro Brasil e pro mundo.
Bela homenagem!E excelente partilha.
Beijo!

Deusa Odoyá disse...

Olá meu poeta.

Passei para lhe desejar á vc. e seu painho, saúde, paz e amor em seu coração.
Beijos e fique na doce paz do mestre jesus.
Já comentei lá em cima.
Aproveites esse sol lindo de Jauá.
Sua amiga.

Regina Coeli.

Uma aprendiz disse...

Oi, amigooo

Que linda homenagem.
Você é um doce mesmo.
Estava com saudades de você.


um beijo

Oliver Pickwick disse...

As praias brasileiras ficaram perderam um quê de atração. Especialmente as baianas.
Ótima e merecida homenagem.
Um abraço!