sábado, novembro 17, 2007

DEMI-MONDAINES

Demi-mondaines

Caô, Caô!
Ah, eu corri mundo no meretrício:
*Pelourinho, Ladeira da Montanha
Maria da vovó, Sayonara, Taboão
Maciel, Tabaris, Sessenta e Nove,
Ladeira da Misericórdia, Conceição...

No olhar das donas moças a emoção
Como bel-prazer numa lua de assanha.
Dentro dos pardieiros o leito da profanação
Na opulência das púrpuras romanas...

Elas cantavam as infinitas nostalgias
Das noites dos teus corpos no esplendor
Nos mistérios do amor e melancolias
Sob as asas palpitantes dos teus gigolôs.

Elas tinham os olhos inocentes,
Inocentes de saberem tudo
Bebiam do azul a cobiça reticente
No arcabouço dos sussurros...

Vestidas de flores do luar,
O azul se dissimulava.
É que atrás dessas flores
O bel-prazer se lançava, perdurava.

Na relva oxigenada do púbis,
Daqueles púbis - horto exíguo –
Resplendeciam fragrâncias mundanas
Nas chamas supremas do fogaréu infinito
Dos teus corpos de emoções profanas...

Sob o lençol de aromas do meu corpo,
A suave teia do louco que existia em mim
Buscava com fúria os desejos absortos
Nos bosques dos teus orgasmos sem fim...

Evoé! O Sibarita se atirava louco, lírico
E elas se faziam nuas na dança dos véus.
Ai! Nas dobras de todos os precipícios
Elas me levavam aos infindos dos céus...

Em todas elas as noites se revelavam
No fausto dos teus corpos majestosos.
As tuas pupilas dançavam e boiavam
Nas deliciosas síncopes dos gozos...

Os seios delas, asteróides pontiagudos,
Oferecendo-se sob vestidos insinuantes
Às bocas desejosas e na contra-luz do abajur
Os corpos ardentes das meretrizes amantes.

Ao ritmo dos corpos, cintura e ancas
Num leito de rosas e lençóis de jasmim
A noite em montes de pétalas estancava
Na ardência das chamas, ai de mim!

Valha-me Deus Nosso Senhor!

Diacho de demi-mondaines às espreitas
Na carnadura dos sentidos maledicentes,
Vil metal gemendo, serenatas perfeitas
Nos gozos em prostíbulos reticentes...

O Sibarita

*Eram os locais dos meretrícios (Bregas em baianês) em Salvador por volta dos anos 60,70,80. Uns entraram em decadência total, outros continuam, mas, sem o mesmo glamour de outrora.

Peço desculpas aos amigos que tem vindo aqui sem que eu dê retorno. Estou em viagem de trabalho e por isso mesmo sem o devido tempo. Na próxima semana estarei de volta à Salvador ai então visitarei à todos.


10 comentários:

Lúcia Laborda disse...

Nossa, conterrâneo! Acho que pude senti a emoção durante a leitura...
Descreveu tão bem nesses versos!
Claro que espero seu retorno! Se cuide, viu?
Bom domingo, boa viagem!
Beijos

Maria disse...

Danadinho, mesmo....
Num vi nada disso aí, nem no Pelourinho nem em mai lado nenhum...
Falando sério, este é um poema e peras! (como se diz aqui na minha terra...)...
Um beijo

Tiago Nené disse...

obrigado pelo comment sobre a minha poesia. foi simpatico.

abraço

www.tiagonene.pt.vu

PS: se fosse possivel fazeres um post nos teus blogues sobre a apresentaçao na fnac do algarve shopping (esta td na minha pagina) seria perfeito;)

Juliana Belo disse...

Sim, senhor! Sem dúvida cativante...
Nunca li nada assim, antes...
Gostei muito.

Um beijo...

Leticia Gabian disse...

Fico a imaginar um Sibarita às soltas pelas ruas do baixo meretrício..... orgias insanas em noites profanas!!!!!

Valei-me Sr. do Bomfim!!!!!!!!
Ô, diacho!!!!

Beijão, meu cumpadi

Déa disse...

Queridíssimo, ando também sem tempo e o blog as moscas (depois que o blogspot "roubou" o meu endereço e eu mudei de endereço...) Bom, não consigo lhe ver nos bregas que você mencionou, mas vale tudo não é? Não posso deixar de mencionar que a foto me remeteu imediatamente a "Capitães de Areia". Você chegou a ver a montagem aqui na Bahia???? Um primor com naração de Bethânia. Beijos e se cuida.

Lúcia Laborda disse...

Passei pra lhe ver e deixei beijinhos...

Oliver Pickwick disse...

Você sumiu mesmo, hein meu rei? Rapaz, lhe procuramos até no Nina Rodrigues. Decerto está num lugar onde a comunicação só é possível por sinais de fumaça, e o transporte é via cipó, a la Tarzan.
Meu camarada, você conhece mesmo lugares do arco da velha! Conheço um pouco acerca da história de todos os lugares de vida fácil que você mencionou. Mas quando cheguei à Salvador, praticamente só o 63 resistia, assim mesmo,em franca decadência.
O seu texto é bastante apropriado, um poema/crônica desses lugares que, certo modo, tiveram a sua importância no contexto da cidade.
Saudações reguianas!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Hoje é o dia do "Olá". O dia em que internacionalmente se comemora o world hello day, num grito universal de unidade em prol da paz e da justiça. Quando te digo olá eu quero dizer tudo. Mesmo tudo. Mas sobretudo quero caminhar contigo em busca de pessoas que queiram caminhar.
Olá!

Nara Senna disse...

Meu Deus...
Meus sentidos ficaram dormentes...