sábado, setembro 27, 2008

SONETO

Soneto

Ando sobre mares, sobre calhaus e viestes pelas bordas.
Na porta do meu coração percorrem sentidos que almejo
Do aclive da lívida aurora em que os nossos azuis se soldam
Nesse soneto de ti mesmo feito com muita fome e desejos...

Se nas tuas perguntas te pareço, assim, tão misterioso,
Olhei-me a mim e aos meus poemas com se tu olhasses
E não sei, mas, sei... E há pouco tempo, olhe-me de novo
Porque o que eu vi era paixão como se tu me desejasses...

Olhei-te! E há tanto tempo, sossega coração, o amor pousa
Nesse teu olhar tão doce debruçado sobre minhas palavras
Vestidas na chama inapagada, a eterna chama, da lua nova...

Não existem brenhas e há respostas, o que eu vejo não me vê
O que me nutre flui de mim em luz sem mistérios e na ignição
Sinto e ouço o pulsar da paixão no teu coração, ai de mim!

O sibarita

quarta-feira, setembro 24, 2008

EL TIEMPO

(Abaixo estou deixando a poesia original que é em português, depois, foi traduzida para o Casteliano.)

El tiempo!

Son dos los polos, son dos ojos
escurre entre manos, juega con sentimientos
disfraza, traduce, prende...
¡No escapo!
Tengo amarras, preso a lo invisible,
ningún rostro, pura imaginación...
A veces la pasión, a veces la ilusión,
Lo bello y lo infinito, ¡eslabones por un tris!
El tiempo,
destila por el placer del dolor
y, recoge los besos que me diste,
( Ay, ¡tus besos tienen fuego! )
aunque sean en sueños...
Quizás misterios,
quizás laberintos,
bien lo sabes...
Y, cuando al acaso mi tiempo determines
de tu tiempo beberé el cáliz de tu ser...
El alma, ¡mi alma!
Luz del alba
relucirá mente y cuerpo
andará sobre el placer de tus sueños
romperá tus trenzas de cabello,
besará tus labios
y de mis ojos verás un cielo de color.
¡El tiempo centella!
El tiempo conspira...
¿Dime entonces ?
¡Ay de mí!
¿Seré fugitivo de un tiempo, el camino ?
En un punto, cualquier punto...
¡La travesía!

O Sibarita

O Tempo! (Original em português)

O tempo!
São dois pólos, são dois olhos
escorre entre mãos, brinca com sentimentos
disfarça, traduz, prende... Não escapo!
Tenho amarras preso ao invisível,
nenhum rosto, pura imaginação...
Por vezes a paixão, por vezes a ilusão,
O belo e o infinito, elos por um fio!
O tempo,
destila pelo prazer da dor
e, recolhe os beijos que me destes,
(Ai, Teus beijos tem fogo!)
ainda que sejam em sonhos...
Talvez mistérios, talvez labirintos,
bem sabes...
E, quando ao acaso o meu tempo determinares
do teu tempo beberei o cálice do teu ser...
A alma, minha alma! Luz da aurora
reluzirá mente e corpo
andará sobre o prazer dos teus sonhos
romperá as tuas madeixas, beijará teus lábios
e dos meus olhos verás um céu de cor!
O tempo lampeja! O tempo conspira...
Diz-me então? Ai de mim!
Serei fugitivo de um tempo, o caminho?
Em um ponto, qualquer ponto...
A travessia!

O Sibarita

sábado, setembro 20, 2008

DECIFRA-ME!

Decifra-me!

Decifra-me,
antes, acendas a tocha da paixão
marcando as asas em mim.
Olhai as cigarras, existe o canto,
música suave e estrelar harmonia.
Coração que se acende,
o canto não se abisma, modula.
Nele, a freqüência, a sintonia...

Decifra-me,
oceano, estou mar!
Uma vela içada e um barco de levar,
marulhas, ondeias, brilhas e me vences.
Arribo a proa e ponho para navegar,
no entanto, abro-te os desejos ao tempo
e o teu coração em pleno silêncio...

Decifra-me,
meu coração é néscio,
mas, tem os dentes de aço
e o sentimento de prata.
Reluzente em luas bravas,
zumbe pelas madrugadas...
Algo nele viaja em fuga, é seta
que mira estrelas em noites andarilhas,
é foice ceifando a réstia de luzes perdidas...
Mas, se quiseres saber, é colibri ao amanhecer!

Decifra-me,
sou jardim florescente,
que olhos retorcidos
olham torto pelo brilho.
Semeando sementes, luas tantas
em céu azul que floresce dos lírios!

Devora-me!
A alma arde volátil em chamas,
está tudo no olhar, a paisagem toda
Conciliando o horizonte no correr das horas
O mar, a aura, os arrecifes, a flor e a harmonia.

Ah! Se o teu coração regasse os céus,
acenderia a noite... Decifraria os dias!

O Sibarita

terça-feira, setembro 16, 2008

GOTAS II

Gotas II

Que passos são estes?
Descubro o objeto do destino
nas tuas rosas, elas exalam
o teu perfume, estou imerso
na essência sublime dos amantes!
Não vou, me deixo ir...
Suspiro a tua paixão,
meus segredos e desejos
teus cantos e encantos
nossos riscos, nossos risos.
Tudo é azul, tudo é verde
tudo é luminoso, tudo é brilhante...
Observo a paisagem,
são outras barcas ancoradas,
outro mar, outra brisa
e te mostras por inteira
na dimensão do deus Eros.

Meu ouro,
o sol que vês, o céu aclara...
No estampado dos teus olhos
revela-se o sino escondido
da tua alma enamorada,
lacrada!

Ah! Essa alma alegre, quieta
transcendida em estrela,
à espera...

O Sibarita

sexta-feira, setembro 12, 2008

GOTAS

Gotas

Sonhos de outras eras me perseguem nesses versos amiúdo
Do tempo que foi tempo trafegando pelos debruns dos ensejos.
Negrumes, celestes panos desdobrados, treva, caos, poço fundo
E a noite sobre a noite, densa noite, e cega no seu eixo de desejos...

Assim, sigo nos confins do infindo, adéquo o giro do tempo,
O que alforrio sempre me acossa nas palavras não reveladas.
Ressoando, então, a luz amorfa no azul sibilante dos ventos
De pirambeiras, estações com flores, delírios de navalhas...

Não era para tu chegar assim pedaço de manhãs esfaceladas
Em rotas de quimeras perdulárias no finito do que me perco...
Não se chora o fim do que não houve pétala de rosa macerada
No outono de jasmim despedaçado por dentro e pelo avesso!

E quando foi esse tempo em que no teu olhar eu me inundo,
Se atrás do teu olhar há um outro olhar com safra de soluços?
Mas, para saciar o teu desejo já que ele vem do fim do mundo
Refaço itinerários sob poeiras daqueles horizontes difusos...

Digo-te da infinitude do amor na chama escrava de tempos idos,
Sonhos férvidos trafegam pelos debruns da janela dos teus olhos.
Nega, amar é caminhar de olhos vendados sobre cacos de vidros,
É deixar sangrar gotas de paixão uma a uma no oceano do coração.

Entre as trevas de coral, palavras ocultas
Beijam-me os lábios esquecidos de beijar.
Apascenta todas as tuas fúrias e urtigas,
Deixo-te vestida da minha ausência...

O Sibarita

domingo, setembro 07, 2008

CAMELÔ

Caro leitor assista a esse vídeo do Baiano Edson Gomes com a música "Camelô" mesmo tema da poesia postada. Letra e música pulsante! Eu estava lá sim!

Camelô

Acordou,
Abriu a janela
Do cacete armado
Viu um sol de despenhadeiro
Sobre o telhado.
Cruz Credo,
Valha-me Deus!
Se benzeu,
Ajoelhou, rezou!
Deu caruara,
Arregalou os olhos
E correu para o pinico.
Escovou os dentes
Com carvão
Foi para a mesa,
Pratos vazios...
Bebeu água,
Sonhou com
Farinha e ovos fritos
Ali enganou a fome!
Vestiu a surrada roupa branca,
Chamou por Oxalá
- Orixá dono da sua cabeça -
E sob o pendão da esperança
Por tudo que já tentou
Foi para a batalha perdida
No coração de Salvador
Reinventar o enredo da vida...
Nas costas o sacolão
De mestre-sala do mercado informal
Empunhando a bandeira de camelô
Na alegria e animação
Do seu lado lógico
Na contramão
Dos impostos...
Armou o tabuleiro
No camelódromo
Da Avenida Sete...
Remando contra a maré
Mercava as bugigangas
Made in Paraguay
A preço de banana.
No abre alas das vendas
Burgueses comprando
Miçangas...

Fecha-se o sol no horizonte
Corre-se daqui, corre-se dali.

“Olha a Policia!”
Acaba-se a folia,
Valei-o Senhor do Bonfim!
Camelô preso perdeu a guia...

Nenhum advogado,
Nenhum defensor
Mas, Doutor Delegado
Recolhe ao xadrez
O camelô sonegador!

Num samba-reggae de barrigas vazias
Choram por ele os seus filhos
Ao refrão das bugigangas que vendia...

Em Brasília,
Maltas de todas as matrizes
Corruptos por todos os lados
Soltos, entoam por ele:

“LIBERDADE!”

O Sibarita

BAIANÊS

Camelô - Quem vende produtos vindo do Paraguay para sobreviver.
Sol de despenhadeiro - Sol de desespero.
Cacete armado - Casa mambembe construída na ribanceira.
Deu caruara - Se tremeu todo.
Surrada - Velha, estragada.
Tabuleiro - Balcão.
Camelódromo - Aglomeração, onde, ficam vários Camelôs para vender.
Avenida Sete de Setembro - A Avenida mais importante do centro de Salvador.
Remando contra a maré - Indo de encontro ao que vai dar errado.
Bugigangas - Mercadorias vendidas pelos Camelôs.
Made in Paraguay - Produtos falsificados e vendidos no paraguay.
A preço de banana - A preço baixo, barato.
Guia - Os produtos que são vendidos.
Samba-reggae - Rítmo inventado e difundido no mundo pelo Olodum.

quarta-feira, setembro 03, 2008

DIVINA

Caros leitores, assistam ao Show do maior reggae man do Brasil Edson Gomes, prestem atenção na letra e música. Eu estava lá, façam fé!

Divina

Já foi tarde! Neguinha, ajoelhou, tem que rezar.
Criei agora a sinopse futura jogando os búzios,
O que foi lá se foi... O que e a quem lembrar?
Se o teu sol em amarelo amaranto é tão dúbio!

Crendeuspai! Agora, é tocar o bonde prá lapinha
Eu, tô que tô, arrepiando, jogando duro em jauá.
Beijo os dias no olhar daquela moça. Ai, Mainha!
É água dura... Uns cravinhos aqui e outros aculá...

Vixe! Dona menina estou solto na buraqueira, ôie!
Plantei rosas, conciliei os desejos, apalpei o escuro.
Mas, vem dormir comigo, vem de chofre, a migué
Jogue as cajás nesse leito de rosas onde te procuro...

Ai Deus! Verdes olhos de ônix, tô loquinho, na fome!
Então, entre. Mostra-te! E, dispo-te, sem cerimônias...
Cai-te bem a nudez nos desejos que me consomem
Oh, nívea, soberba, irreal, pulcra, serena, demônia!

Misericórdia Deus! Ó miseravona retada, seios de cerejas,
Bicos pequenos, serenos, leves e desejosos no meu sonhar.
Valha-me Cristo! Rezo missa em trezentos e sessenta igrejas
Na chama inapagada, a eterna chama da dança do teu andar...

Senhor do Bonfim! É na real. Assim, fantasias por fantasias
Escancaradas nos lençóis de jasmim para o céu pegar fogo.
Solta tua imaginação açucena, adoro! Oh, noite de agonias,
Jaguaretê caçando a presa nos uis e nos ais do teu rogo...

Tá rebocado! Este teu olhar de pidão incendiando me chama
E depois do amor teu corpo vencido em gozos sobre os lençóis
Flui, nutre de mim toda seiva dos desejos que a noite inflama.
Minha Nega, é no instinto, que sou o teu boca de zero nove...

Piripicado! O meu festim ardente de desejos faz a noite cega.
Afff... No agora, o corpo violão da moça, a pele negra do moço
Em toques, são reféns de vontades em estandartes de entregas
Com luas nos espelhos choramingando em lumes e alvoroços...

Madaso! Girafa que alucina, taça esbelta, lábios de rubis
Vermelho batom que me delira, amor venal, lunar delícia
Da minha boca viciada na relva negra do púbis, teu púbis!
Reconhece-me? Sou eu! O teu pachá, mandarim e sibarita.

Mas, Divina! Olha o que fizeste?
O azul do céu gravita em ressacas
E eu colado no chão da tua esquina...

O Sibarita

PALAVRAS EM BAIANÊS:

Neguinha (o); Nega (o) – Nome carinhoso que chamamos uma mulher ou um homem.
Ajoelhou, tem que rezar – Tomar atitude e assumir com as conseqüências.
Jogar os búzios – Ver o que os búzios dizem.
Crendeuspai – Creio em Deus Pai.
Tocar o bonde prá lapinha – Ir em frente, continuar a vida.
tô que tô – Estou, estar a fim de...
Arrepiando – Não está para brincadeira.
Jogando duro – Sem perdão, a sério.
Mainha – Nome carinhoso que chamamos a mulher que gostamos ou queremos.
Água dura – Beber até cair bebidas alcoólicas.
Cravinho – Batida (alcoólica) de cravo feito no Pelourinho.
Dona menina – Mulher tirada à mocinha.
Solto na buraqueira – Sem compromisso, desejando todas as mulheres.
A migué – À vontade.
Jogue as cajás - Botar prá quebrar, prá lenhar.
Toloquinho – Tá louco.
Na fome – Desejoso, querendo.
Valha-nos Deus – Ajuda-nos.
Jaguaretê – Onça, mulher que sabe fazer tudo na cama.
Madaso – Meu Deus.
Boca de zero nove – Pessoa retada.
Misericórdia – Perdão.
Miseravona – Mulher gostosa.
Retada – A tal, danada.
Piripicado, tá rebocado – Com certeza, acredite, faça fé
Divina – Mulher tratada como rainha.